domingo, dezembro 28, 2008

Natal e sentimentos

Sem dúvida, esta época do ano é mágico para definir relacionamentos. 
Minha filha ficou noiva neste Natal. Ainda estou assustada, atordoada, tentando digerir esta nova situaçao. Estou estarrecida, mas estou feliz. Isso tudo me remeteu a um Natal há 30 anos... Foi o primeiro que passei longe de casa. Me arrependi amargamente pois aquele foi o último Natal de meu pai. Dali a dois meses ele morreu. 
Há 30 anos eu tinha um namorado ciumento, possessivo e machista. Ele me trouxe a força pra SP, pra passar o Natal com a familia dele. Eu nao me sentia a vontade para que ele fosse passar com minha familia e ele nao admitia que ficássemos longe um do outro. Vim chorosa e contrariada, trazendo o presente da mae dele, sorteada pra ser minha amiga secreta. Ainda me lembro do jogo de toalhas de banho, cinza-azulado, que comprei. 
Aquela noite, na esquina da Paulista com Brigadeiro, se nao me engano, 20 andar, foi definitivo para dizer um basta a aquela relação horrorosa. Dali eu fugi para dar outro rumo a minha vida. Rumo que sigo há 30 anos. Pouco antes havia conhecido, no trabalho, a pessoa com quem dividi o teto e a vida a partir de entao.

sábado, novembro 22, 2008

ai, ai

(suspiros)

normalidade

Pra nao pensarem que deixei de lado minha vidinha paralela, vou contar uma coisa... Ou melhor, deixo aqui registrado que ontem à noite, mandei um torpedo falando da Lua, pra uma pessoinha que foi remar. Mas acho que não levou o celular.  Mesmo assim, com certeza, teve luar, sim!

Loucuras

Fui um tanto desesperada no último post. Mas nem é pra tanto. Apenas o cansaço e dias às voltas com final do meu inferno astral. Tá certo, agora estou no paraíso? Não... segundo um guru astrológico com quem trabalhei certa época, o certo seria chamarmos o período em volta do nosso níver de quarentena astral. Ficamos hipersensíveis. 
Veio o Finados e os dias foram muito, muito difíceis mesmo. Dizem os orientais que nessa época os falecidos vêm à Terra visitar as famílias. Cresci com essa crença. Sem medo de Finados, que é sempre uma data festiva, mas com estranha sensaçao de que tem mais gente por perto. Às vezes tenho essa certeza quando uma de minhas gatinhas pula nas minhas costas, no meu ombro. Quem faz isso é Spyke, a caçulinha dos filhotes nascidos aqui em casa. Ela é branquinha com pintinhas pretas, uma quase dálmata. Tem a carinha meio torta, piorada no aspecto devido a manchas. Os olhos são meio caídos, tristes, de um estranho amarelo. Sempre percebe minha melancolia e, nessas horas, vem afofar meu colo. Se eu choro, ronrona pra mim. Édipo, o avô dela, também era assim. Primeira vez que Édipo saltou no meu ombro foi quando voltei do enterro da minha mãe.  Uma senhora que morou aqui no prédio e que era meio tipo bruxa me disse que tinha "bichinhos", o que entendi que fossem "encostos".
Não entendo que todo tipo de encosto seja ruim. Sem dúvida que nao. Às vezes também penso se pessoas reencarnam como bichos. Às vezes tenho certeza de que gatos foram gente. Às vezes olho pra eles e fico imaginando se alguns seriam meus parentes. Às vezes acho que isso é maluquice minha. Às vezes tenho certeza disso!

Falei pra minha xará quase homônima que iria contar em breve o causo do moço que conheci na Década de 70 pela Revista Melodias. Foram tempos pré-históricos em que a gente engatinhou nos primórdios do que hoje chamamos de relações virtuais.  Quando me lembro disso, me lembro também que conheci o linotipo, as fotonovelas e a caneta-tinteiro. Pudera! Já passei de meio século de idade. Sim, faço parte de uma geraçao privilegiada que testemunhou de camarote tantos acontecimentos fantásticos!  Fico imaginando o que se passava pela cabecinha de dona M a t s u, a sogrinha dos meus irmaos mais velhos. Ela partiu no dia 17, rumo aos 102 anos. Lúcida, se manifestando enquanto conseguia. Primeiro perdeu a audição. Durante muitos anos, ficou só escutando o mínimo. Mas lia e falava o necessário. Só frases sábias. Em julho, se despediu da minha irmã (a primeira nora), dizendo o quanto era abençoada, feliz, muito orgulhosa da família maravilhosa que constituiu.
Ainda me lembro do dia em que sepultamos o filho mais velho dela, meu cunhado. Já quase nonagenária, se dirigiu à casa que fora dele e, solenemente, agradeceu à nora pelos anos que dedicou ao filho dela. Ficamos todos muito emocionados .  Também quando meu irmão, genro dela, se matou, ela foi a única pessoa a se lembrar todos os meses da data em que ele partiu. Acendia incensos e lia sutras budistas pela alma dele.

Sempre que alguém morre, fico pensando e repensando se existe mesmo o além, o outro mundo, outra vida. Se pessoas de diferentes crenças, religiões ou mesmo as que nada têm se encontram do outro lado. Se superam essas barreiras e barreiras de línguas. Imagino que sim. Se sim, fico pedindo a Ju que siceroneie esse pessoal todo. Imagino-a de vestido amarelo florido, cabelo arruivado e batom muito vermelho, sorrindo e recepcionando. 
Meu pai sorridente, minha mãe com cara meio tristonha. Meu irmão recomposto daquela magreza, todo alegre. Imagino meu cunhado com ar sábio, falando: "Yatto kitte kuremashita" (Finalmente veio) pra maezinha dele. Imagino meu pai falando: "Maa ganbarimashita..." (Como se esforçou). E ela levanta a cabeça e sorri, olha com carinho para o marido dela, que partiu 20 anos à frente. Até meu irmão suicida está mais sereno... De longe, muito tímidos, acenam dona A n a  e seu J o a o, pais de Alice, que estão em outra roda, de portugueses.  Também se aproximam outros parentes, conhecidos da colônia. Todos admirados com a longa jornada física da velha senhora...

Ufa! Me perdi com essas divagações. Não sobraram fôlego e tempo pra falar do Amigo Desconhecido da revista Melodias. Fica pra próxima!
 

terça-feira, novembro 18, 2008

constrangida

Quero escrever mil coisas, mas leio tantos blogs bons, bem escritos, e fico envergonhada com a minha incapacidade de expressão. Tantas pessoas que conseguem transmitir de modo preciso as sensaçoes, ter certezas sobre as coisas... Sinto-me perdida. 

Há tempos que minha amiga Alice e eu cogitamos escrever algo sobre nossa experiência de sermos mães de filhas crescidas. Título sugerido por ela: "Mãe também quer colo".

Nas últimas semanas, tenho chorado muito. Lágrimas brotam doloridas. Literalmente me machucando os olhos, o coraçao. E parece que nao conseguem lavar a alma. Isso ocorre cada vez que levo bronca de minha única filha. É a coisa mais doída deste mundo. Sensaçao igual só tive com meu pai. Cada vez que ele falava sério comigo, passava noites soluçando. Sentida. Creio que é a estreita ligaçao que causa isso. E a impotência. Tristeza de não estar sendo "boa" para ela. Impotência, com aquela pergunta: "Onde foi que eu errei?"

Difícil, nesta luta, é que, de repente, há um ano e 9 meses, perdi um companheiro e ganhei mais um filho. Um filho deficiente, de 80 quilos e 1,75m, que precisa de mim para tudo. Que precisa de ajuda para as mínimas necessidades, requer cuidados especiais, tem convulsões, diz o tempo todo que tem fome, pede cigarro e esquece o tempo todo da situação em que se encontra. Tem dias em que perco a paciência e me vejo sendo ríspida e agressiva com ele. Aí, quando leio outros relatos corajosos, como a mãe de Francisco (do blog Para Francisco), ou a valentia de Fal (dos Drops), ou quando recebo notícia como a morte do desenhista Claudio S e t o, sinto-me pequena, muito pequena. Sinto-me, sobretudo, abençoada por todas experiências que têm me enriquecido tanto. Sinto-me ridícula. Sinto-me fortalecida para lutar. Acredito que exista de fato alguma razão para que Deus tenha mesmo me escolhido para iluminar meu caminho.


sábado, novembro 08, 2008

sustos

Tenho enfrentado situaçoes que jamais pensei que fosse capaz de encarar sem ter um treco. Minha maior situaçao-limite foi a morte da minha mãe, ocorrida praticamente nos meus braços. Sem poder fazer nada? Nao! Fazendo tudo que estava ao meu alcance. Respirando fundo e tentando. Literalmente.
Outro grande momento de resolver o impasse sozinha. Sozinha nao! - diriam alguns amigos meus - Eu e Deus.
15 de dezembro do ano passado, por volta de 19h, dia da formatura da minha filha, enquanto esperávamos anoitecer pra eu me preparar pro baile, P P teve uma convulsao. Naquele instante, imaginei feito manchete de jornal: "Ele aguentou até o dia da formatura da filha" E depois, a chamada: "Naquela mesma noite, passou mal e morreu, logo após o jantar..."
E durante uns 10 minutos, relutei em chamar o resgate ou até mesmo telefonar pra minha filha, que havia acabado de sair de carro. Quando vi que a crise nao passava e tampouco ele parava de respirar, liguei pro 1 9 3.
Do mesmo modo que no dia da minha mãe, precisei apelar pra pedir pronto atendimento. Aos borbotões falei até da formatura, ao livre, dia de Sol. O bombeiro comentou: "é verdade, hoje, dia 15 de dezembro..." Tivemos atendimento vip, com a presença do médico aqui. Enorme susto quando me botaram pra fora da viatura (um carro grandao com estrutura completa de socorro, nao os comuns) e o entubaram. Enquanto seguia atrás, de carro com a sobrinha médica, fui rezando e pensando: "acabou tudo..."
Depois disso, mais 2 sustinhos pequenos, em janeiro e fevereiro... e em junho, outro grande susto. Convulsao de 25 minutos. Novamente médico, equipe da Samu e dos bombeiros. Gente que nao cabia na sala aqui de casa. Explicaçoes técnicas. Entubaçao. E depois, na madrugada silenciosa, me permitiram entrar na emergência pra vê-lo, já tendo terminado eletrocardiograma. Bombeiros e médico aguardando lá fora. Alívio ao perceber que nao era devido a gravidade. Aguardavam apenas a "t e ne nte " dispensá-los. Ufa!
E ontem... Depois do jantar, quando voltei com a sobremesa, vejo-o piscando sem parar, como se fosse um tique nervoso. Tento conversar, pergunto o que está acontecendo. E ele: "nao sei..." Em seguida, virou os olhos, torceu a boca. Maior chuva lá fora. Respirei fundo. Rezei. Pedi para todos os santos, para minha mae, meu pai, meus irmaos falecidos, pra Ju, pra todo mundo. Falei: "Vai passar, vai passar, nao vai se engasgar, vai passar, vai passar, nao vamos pro hospital". Respirei fundo, virei a cabeça dele de lado, reclinei a poltrona ao máximo. Vi que mordeu a língua.. Sangue. Virei a cabeça, fiz com que o líquido escorresse. Olhei o relógio. Rosto muito vermelho. Pressao devia estar alta. Peguei o aparelho. Estava 16x11. Medi 40 gotas de dipirona. Um comprimido de hidantal, 50mg de captopril. Juntei tudo e injetei pela sonda gástrica. Mandei muita água, ajeitei o papagaio pra eventual xixi. Ufa! Passou. "Nao vamos ao hospital, nao vamos ao hospital". Nada de tubos, nada de pneumonia, nada de internaçao, nada de exames pra conferir que nada aconteceu.. Ufa! Chuvona lá fora. Passou. Dei água de um coco inteiro. Um copo de chá verde. "Nada de ligar pra filha na faculdade". Passou.

terça-feira, novembro 04, 2008

registrando mais um sonho.

Nao escrevi logo cedo, entao tudo se diluiu. Fiquei me concentrando pra que a parte boa do sonho nao se apagasse. Mas nao me lembro de quase nada... Mas consegui fixar na memória fotográfica a imagem do meu irmão falecido. (Tanta saudade que sinto dele...)
Estávamos em um hotel antigo, em algum lugar que me lembra cena do casamento da Dani, lá no interior de Minas. Foi a última viagem com a mamãe e a família ficou na colônia de férias da Cemig. A cena nao era aquela, o hotel tinha uma escadaria de madeira. Eu estava com mais alguém, dividindo quarto com um senhor acamado, em situaçao semelhante ao do P P.  De repente, a familia toda se agrupava lá fora. Apareceu meu irmao numero 5 (falecido há 7 anos) com o cabelo rente, dos tempos da quimioterapia. Só que ele estava gordinho, queimado de Sol, aparência muito saudável, sorridente. Quando o vi, logo pensei: "precisamos tirar fotografia". Mas eu nao tinha levado câmera. Perguntava a todos. Ninguém tinha. Meu irmao número 6 tinha uma antigona, das que levam filme. Aí eu pensei: "nem que ele tire e eu explique pra levar no fotógrafo pra escanear, nunca vou ver essa foto". Lembrei que o cara que dividiu o quarto com a gente tinha uma. Voltei lá pra pedir. Mas ele tava todo desgrenhado, nao conseguia se ajeitar na cama. Usava fraldas e estava todo sujo... Era cocô vermelho. E eu expliquei pra mulher dele, muito assustada, que aquilo nao era nada, era apenas de quem comeu beterraba.

Nao precisa ser Freud pra explicar as confusões de minha mente... 

Ontem a noite quase saí do sério nesta minha vida de "cuidadora". Depois da novelinha, resolvi assistir umas bobagens na entrevista da Gimenez com a mae de duas que fizeram filme pornô. Tanta bobagem, tanta gente pseudopuritana. A mãe com aquela cara de ex-puta cafetinando as crias. Tava interessante. Aí, de repente, uma cochilada e um barulho de água. Olho pro lado e... Nao é que meu "paciente" tá mijando na parede, que nem cachorro? Espanto total.


segunda-feira, novembro 03, 2008

38 anos depois...


Fiquei sabendo da existência da minha xará há uns 7 ou 8 anos, quando um amigo de internet veio de Cuiabá para participar de uma banca de doutorado na USP. Ao voltar pra lá, me disse que havia telefonado mas nao me achou. E eu: "como? nunca lhe dei meu telefone" E ele: "achei na lista" E eu: "nem tenho telefone em meu nome..." E ele: "tem sim, olha lá.." Fui conferir e, para meu espanto, havia uma pessoa com mesmo nome que eu, prenome e sobrenome. Diferença de duas sílabas no nome do meio, morava aqui em SP. Imediatamente liguei pra lá. Era uma marcenaria e a pessoa que atendeu disse-me que a quase homônima era esposa dele. Pedi pra xará me ligar e ela fez isso. Meio desconfiada e lacônica, contou que é 5 anos mais jovem do que eu e tem tb uma irmã com nome em japonês igual ao meu. Ou seja, são duas xarás na mesma família. São nascidas em Araçatuba. Fiquei encafifada pois tenho parentes que moraram muitos anos por lá. Isso ocorreu por volta do ano 2000, pois foi antes de eu criar este blog.
Na comunidade das Xarás, no Orkut, contei parte dessa história e não é que este ano, a própria me localizou e adicionou?

Só que ela tem mais um sobrenome acrescentado. Um sobrenome japonês do marido dela Quando a contatei pelo MSN, perguntei por perguntar "é parente de Fulano?"
E ela: "é primo de meu marido!"
Minha nossa! Ela, a minha xará, quase homõnima é casada com o meu "ficante" dos 13 anos, o moço que larguei no baile quando minha carruagem virou abóbora!

O que mais temos em comum é que vi a foto dela, pelo msn, e é incrivelmente parecida comigo! Só o cabelo dela é um pouco mais claro.. castanho avermelhado, isto pq ela pinta. Mas mesmo tipo de rosto, até os gestos.. Estranho, ne?



como acabou a história?

Depois de oito meses de cartas que foram e cartas que vieram, finalmente um novo encontro! E ele foi ao sonhado baile. Musiquinha lenta, dançando de rostos colados. Barba dele no rosto dela... Corpos juntíssimos, agarradinhos. Dia da fuga com a melhor amiga e a família dela. Dia da vergonha, da falta de coragem. De repente, um toque nas costas! Chegou a hora da carruagem virar abóbora. O trato dos meus 13 anos. 02h30: hora dos portões serem abertos pro povão adentrar ao salão, hora das mocinhas de família irem pra casa! O irmao mais velho convocou um parente. Em silêncio, lá foi ela, amuada, coraçao aos pulos, tempo apenas de combinar com o galã de se encontrarem dia seguinte na praça da Matriz. Dia seguinte: 15 de agosto, dia de N.S. do Perpétuo Socorro. Dia da Festa das Bonecas na vizinha cidade, dia de sufocar os sentimentos, de desistir de ser adulta. Definitivamente nao tinha coragem de assumir um namoro, de falar com os pais, de estabelecer horários, de dar explicaçoes. Era muita coisa para os 13 anos. Melhor ser criança mais um pouco. Ver a coroaçao da Boneca Rainha na Festa de Socorro.


A história continua... 38 anos depois! Aguardem!

sábado, outubro 25, 2008

continuando a história da POMBA

Cinco dias depois daquele domingo inesquecível, chegou uma carta. Envelope aéreo, papel idem. Fininho, dobras perfeitas. Primeiro uma ponta em diagonal, se encaixando com outra extremidade do papel retangular, tudo se encaixando feito origami de um aviãozinho pela metade. O coração disparou e fixou para sempre aquelas letras perfeitas, de caneta-tinteiro azul lavável. Li tantas vezes que cheguei a decorar. Eram, se não me engano, quatro folhas!
Respondi no mesmo dia, passando a limpo. Subi as ladeiras da minha cidade, chegando em tempo ao correio. Carta expressa e registrada!
Assim, ao longo oito meses, um pacote de cartas semanais. Às vezes as respostas se cruzavam e se desencontravam! Também alguns caríssimos e demorados telefonemas dados do armazém vizinho, a uma quadra de minha casa. Coração saindo pela boca. Verão e outono dos meus treze anos! Até que...

domingo, outubro 19, 2008

a história da POMBA

Vou colocar aqui o resumo da historinha de Lígia Fagundes Telles, que inspirou a apresentaçao deste blog:

"o conto Pomba enamorada ou uma história de amor apresenta a trajetória de uma mulher desprezada pelo amado. Tudo começou no baile em que fora coroada a princesa da primavera, “já que o namorado da rainha tinha comprado todos os votos”, onde conheceu Antenor, homem que não “esquentava o rabo em nenhum emprego”, que lhe confessou que ela “é que devia ser a rainha porque a rainha é uma bela bosta”. Apesar de ter sido um encontro fugaz, este marcara a personagem, que, a partir de então, nunca mais esqueceu o sujeito. 

Visto que neste baile Antenor saíra com uma “escurinha de frente única”, a personagem acabou tendo que se desdobrar para encontrar o paradeiro de seu amado. Acabou descobrindo-o trabalhando numa oficina e, ao visitá-lo, foi tratada de forma extremamente rude por Antenor. Entretanto, ela parece não se incomodar, visto que, após ligar várias vezes para seu trabalho “somente para ouvir sua voz”, acende diversas velas na ânsia de conquistar seu amor. Vendo que Antenor não se manifestava, ela começou a escrever cartas de amor sob o pseudônimo de
Pomba Enamorada, mas, ainda assim, Antenor não se rendeu.

Na sua louca busca, Pomba Enamorada acaba se humilhando: telefonou, mandou Rôni (seu amigo homossexual) dar recados a Antenor, esperou-o na saída de seu serviço, fez macumba; mas nada fazia com que Antenor mudasse de idéia. Mas o golpe quase fatal viria com a notícia de que seu amado estava de casamento marcado. Quando ocorreu o casamento, ao invés de chorar, Pomba Enamorada “foi ao crediário Mappin, comprou um licoreiro, escreveu um cartão desejando-lhe todas as felicidades do mundo (…)e quando chegou em casa bebeu soda (cáustica)” Após sair do hospital, cinco quilos mais magra, escreveu-lhe mais um bilhete “contando que quase tinha morrido mas se arrependia do gesto tresloucado que lhe causara uma queimadura no queixo e outra na perna, que ia se casar com Gilvan que tinha sido muito bom no tempo em que esteve internada e que a perdoasse por tudo o que aconteceu.”

Os anos passaram, e, apesar de casar, Pomba Enamorada nunca esqueceu de Antenor, sua grande paixão. Por exemplo, “no noivado da sua caçula Maria Aparecida, só por brincadeira, pediu que uma cigana deitasse as cartas e lesse seu futuro.” A cigana disse que um homem cujo nome iniciava com A., com cabelos grisalhos, costeleta, motorista de ônibus chegaria à rodoviária e mudaria sua vida por completo. Apesar de dizer que tudo era passado, Pomba Enamorada sabia que Antenor era motorista de ônibus e, no dia marcado, se dirigiu para a rodoviária."

Este é o começo para que, em seguida, eu conte duas longas historinhas de minha vida passada. De quando vivia minhas paixões romanticamente... Aquilo tudo aconteceu em 1970. Começou mais exatamente no dia 4 de outubro daquele ano. Me lembro bem da data pois no dia 4 de outubro do ano anterior foi casamento do meu falecido irmao...

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Cidade do interior. Tarde chuvosa de 1970, mês de outubro. Mocinha desajeitada,me sentei na primeira fila de um auditório improvisada de um clube da colônia. ERam tábuas sobre caixas de tomate, forradas de papel manilha rosinha. Tenho ainda nítida na minha memória a cena.
Dia de concurso de canto. Orquestra contratada estava no palco e entre os músicos, dois jovens de São Paulo. Adolescentes alvoroçadas comentavam sobre os rapazes. Galãs guitarristas. Curiosa, sentei-me na primeira fila. Nossos olhares se cruzaram. Arrepio, sensaçao de calor. Inacredutável. Ele olhou mesmo pra mim!
Justo pra mim, a mais pobrinha, desengonçada, desarrumada. O rapaz mais bonito, mais desejado, paquerado pelas garotas da cidade. Fazia frio e eu usava sandálias brancas nada a ver com a roupinha. Roupa de menina, de lasie azul-claro que minha irmã havia costurado. Que vergonha...  E ele olhou pra mim! Desceu do palco, veio em minha direção. Fomos ao bar improvisado. Ele pediu um guaraná, me ofereceu um copo. Não sabia o que conversar. Em pequeno pedaço de papel, anotou um telefone, endereço, uma espécie de autógrafo. Pus meu nome e endereço em outro papel e entreguei!

sábado, outubro 18, 2008

enturmar na tribo

Superando a sensaçao de ser estranha no ninho, vou novamente tentar me enturmar no mundo dos blogueiros. Quem sabe, numa faixa clonologicamente mais madura eu me acho...
Assisti à entrevista de Fal Azevedo no Sem Censura e fiquei invejosa. Vi-a tranquila e amparada pelos amigos aqui feitos. Se realizando. Sobretudo, matando essa ânsia de escrever,  se manifestar sobre tantos temas. Só quem vive de escrever pode compreender o que isso significa. Timidamente, postei alguns comentários em Drops da Fal, e a Joaninha veio aqui, me visitar.
Que mundo de gente bonita, linda, que olha sobretudo o coraçao! Gente que vive de lavar a alma!

Tô mais carente que o resto do ano neste mês de outubro. Derramo lágrimas todas manhãs. Por qualquer coisa eu choro. Muitas saudades. Sensações de Finados, talvez. Diz a tradição japonesa que nessa época os falecidos voltam à terra para ver os parentes.  Acredito nisso. Acredito que eles vieram buscar minha mãe. Vai fazer quatro anos agora, no dia 30. 

Penso, penso, penso e imagino que ela está bem. Mas imagino-a perdida nos umbrais com aquela carinha assustada, sem saber o que aconteceu.  Carinha de desespero, olhos aflitos que chamavam e buscavam por mim, só por mim no corredor do hospital na véspera de sua partida. Apertava minha mão. Peço, entao a minha amiga Ju que a ajude, que converse com ela. Peço que exista uma linguagem universal que ultrapasse as barreiras da língua. Imagino a Ju em estágio mais avançado, como o da avó da Patrícia de Violetas na Janela. Estágio em que está autorizada a ultrapassar todas as barreiras, ajudando as almas recém-chegadas a entender o processo.

Penso mais e imagino também todos meus conhecidos e parentes fofocando, rindo de mim, de minha insegurança, das minhas indagações. Aí, de repente vou até a cozinha e vejo a pirãmide de louças na pia. Maioria está lavada, mas o escorredor aguarda que as coisas ali colocadas sejam guardadas. Aí penso em correr atrás de uma faxineira. Penso em telefonar pra aquela anta ingrata que sumiu daqui há mais de um mês. Lembro-me, então, dos estresses com aquela figura paquidérmica vagando pela casa, falando sem parar de seus pobremas. Desisto e faço outros planos.


terça-feira, outubro 07, 2008

mais sonhos...

Vou registrar os sonhos aqui porque, pelo jeito, entrei de novo na fase de "sonhos criativos"


Ao amanhecer do dia da eleição, sonhei...  Eduardo e Alice tinham ido fazer curso de culinaria, no fim da av. Angélica. Eu os encontrei na saída, no ponto de onibus.Traziam bandeja com algo que pareciam sonhos ou carolinas. Tínhamos todos a idade de hoje, só que minha mae ainda era viva, eu a via me esperando, imagem de quando ela tinha uns 70 anos, com os cabelos ainda quase todos pretos. Eu falava com os dois e eles não me davam bola. A certa altura disse que pegaria um táxi, perguntei se não queriam carona até o metrô. Via a minha mãe de óculos de aro preto e grosso, blusa de lã preta, vestido azul xadrez e avental branco. Estava no nosso quintal do sítio... Aí acordei.
O sonho aconteceu na minha segunda dormida, depois que minha filha saiu pro trabalho. Estava apreensiva, previa um dia difícil. Temia por contratempos com ela, tentando pensar muito positivo. Entretanto, no sonho eu era sozinha. Sem marido ou filha... Tão bom ter mãe... Que saudade!

No dia seguinte, foi a vez de sonhar com Li... 

Eu telefonei pra ele, na universidade... Só que a ligaçao caiu na sua casa.. " Epa, acho que tá programado pra transferir ", pensei. Isto porque eu via o fone tocar e ele atendendo, como em filmes. Começamos a conversar e, de repente, eu estava na sala da casa dele. No local havia um sofá grandao da Lafer, cor café, igual a um que eu tenho aqui (so que meu é cor de mel, cor-de-burro-quando-foge, mas há tempos que penso que melhor cor seria café, mas eu nao troco pq outro movel igual esse acho dificil arrumar).. Aí, voltando ao sonho, entrei na sala e comentei do seu sofá... aí, apareceu a mulher dele, uma ruiva de cabelos bem volumosos e encaracolados. Cabelo estilo da cantora Simone há alguns anos... Ela usava um leg branco e uma camisetona cor de beterraba. Bonitona, cabelos bem vermelhos, diria magenta, quase pink. E ela veio do quintal, juntamente com o filho, que era mais novo, acho que com uns 11 ou 12 anos. Aí ela achou que era uma das professoras dele, mais exatamente, de Ciencias, e estava ali pra discutir alguma atividade extra, que incluia uma viagem pelo mato. Fiquei sem graça e deixei embarcar na confusao. Chegou mais alguem na casa e ele foi atender, era um colega, cabeludão, tipo hippie dos anos 70, de calça branca e camisa florida. Cumprimentou-o entusiasmado e me deixou na fogueira, conversando com a mulher, que me chamava de "professora". E o garoto, filho do casal, com cara de ué. Aí ela, a  mulher, foi pro quintal e voltou com uma braçada de roupas recolhidas do varal, roupas do menino, que me passou pra ir adiantando as malas pra tal viagem. Eu comecei a dobrar, roupas ainda quentes do calor do Sol. Agradeceu a visita e praticamente me botou pra fora, com aquelas recomendaçoes de mae. Aí acordei.

sexta-feira, outubro 03, 2008

vivendo sem aprender

Vem eleiçao, vai eleiçao, nunca aprendo a ficar calada!
Nao resisti e acabei fazendo uma recomendaçao. Pior é aguentar grosserias... Difícil, muito difícil...

mistérios dos sonhos

Foi um sonho muito, muito real. Daqueles do tipo em que quando acordamos fica a sensaçao de que aconteceu mesmo. Sensaçao boa. Sonhei que P P estava andando. Tinha saído da sala e quando voltei, ele se esqueceu que nao podia andar e estava andando, sem querer. Feito criança que perde o medo. Chamei nossa filha pra olhar. Ficamos radiantes, resolvemos nao comentar, pra que ele nao se relembrasse que nao podia e, de repente, acordasse. Foi muito bom o sonho.  Parte triste é que, de repente ele caiu e teve uma possível lesão na medula. Acordei nesse momento. Mas me concentrei na parte boa e voltei a dormir. O sonho aconteceu depois das 4h30, quando dou a primeira acordada, pra dar café pra filha e remédios rpa ele. Isso acontece dia sim, dia nao, qdo ela trabalha de dia. É tão bom voltar a dormir...

segunda-feira, setembro 29, 2008

devagar, devagar...

.. tento retomar, tento escrever coisas interessantes... mas, acho que aqui não é a neve que ferve, como tão bem descreve a Fal. Meus olhos doem,  minha alma quer divagar por outros tempos. É assim nas difíceis manhãs. Mas aí, sacudo os gatos, espano os pêlos, tomo café, um gole de chá. Consigo me livrar do pigarro na garganta, da dorzinha que parece ser indício de uma gripe. Respiro fundo, vejo que tem roupas de molho. Enxáguo, deixando a água escorrer no esmalte branco do tanque. Não tem como não me lembrar de minha mãe. Quando nós mudamos pra cidade, em 1970, ela ficou tão feliz em ter uma torneira. A água era pouca se comparada ao riacho em que ela lavava as roupas, mas ela estava ali, bastando sair no quintal. E era limpa. Também não precisava mais se preocupar com a lenha úmida que esfumaçava demais nos dias chuvosos... Olho novamente pra espuma que vai sumindo e me lembro que ela reservava o sabão em pó apenas pras roupas finas. E eu uso agora o sabão em pó apenas pras roupas de cama e banho. O resto só lavo com sabão líquido. "Que luxo! Que maravilha!" -- deve pensar mamãe (em japonês, é claro). 
Desculpem o tom... As eleições municipais me fazem voltar há quatro anos, quando ela partiu, na manhã do segundo turno de 2004.

segunda-feira, setembro 22, 2008

provas

Naquele corredor do hospital, no momento em que eu tive a impressão de que minha amiga deu o último suspiro e pressenti que iria morrer, eu disse mentalmente: "J u, se existe vida após a morte, me mostra... Prova pra mim que as coisas nao acabam aqui" Depois daquele dia, nunca percebi nenhum sinal... Porém, ontem, eu comentei sobre esse episódio com a M o n a, aquela minha amiga cuja mãe fez ontem seis meses que morreu. Eu disse pra ela tentar se comunicar, tentar passar os pensamentos, fazer o que for possivel para ela mandar os recadinhos pra mae, que ela pode estar ouvindo, sim! Entretanto, frisei que eu não sabia mais nada, nunca tive prova alguma de que existe o "outro lado" e comentei sobre o que aconteceu com a minha amiga querida... E sabe o que aconteceu hoje? Justamente hoje, a D e ia, a irmãzinha dela que mora nos States, apareceu no MSN e me mandou 4 fotos da J u! Fiquei arrepiada! Posso agora ver a J u dando aquela gargalhada e falando: "Não queira saber de tudo antes da hora, criança..."

Agora penso em quantas provas ela não mandou, quantos sinais não soube interpretar! E vejo a Ju falar: "até pra isso precisei usar o computador, sua danadinha?"

domingo, setembro 21, 2008

quase normal!

Sim, pessoas! Estou quase no meu estado normal. Nos últimos dois meses consegui comprar 5 pares de calçados! Uma sandália e um sapato dos caros, um sapatinho mais ou menos, um sapatênis e uma sandalinha quase ótima! Consegui também fazer os pés!

domingo, setembro 14, 2008

além

Sei que tô chata, chata, chata. Difícil até de eu mesma me ler aqui. Não sei se insisto nos escritos quando pareço explodir de tristeza ou quando ela está indo embora.
Falei mal do Portuga, a quem chamei certa feita de Joaquim. Pelo menos consegui usá-lo para um álibi de fuga vespertina. Se existe vida pós morte, fico imaginando se ele estará rindo ou com mais raiva de mim. 
Sabem duma coisa? Tô triste sim. Queria ter feito as pazes com ele. E eu não acredito que em "outra vida" a gente vá se encontrar. Se existe essa coisa, eu espero não ir parar no mesmo lugar que ele. Ou será que eu também tenho sido tão ruim a esse ponto?
Droga! Não consigo dizer essas coisas pra gente que o conheceu. Falta coragem. Não consigo apagar as mágoas. Vou procurar aquela "oração do perdão".

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Olha... Eu quero acreditar que existem outras chances, outras dimensões. Gostaria de rever a Ju, a Wal... minha mãe, meus pais, meus irmãos...

Droga! Eu quero falar de outras coisas... Contar que tive uma tarde de sexta muito boa. Fiquei novamente me sentindo desejável, comível... Não queria ficar assim, com pena de mim mesma ou achar que os outros também me aguentam de dó.
Essa sensaçao vai passar!

Queria saber quem é esse Anônimo que comentou meu post outro dia. Nao sei mais verificar o Haloscan. Esqueci a senha, esqueci como se faz tudo... E também... De que adianta achar o IP? Agora tá tudo bagunçado, ninguém sabe mais o que é de onde.


sábado, setembro 13, 2008

Continuo sem saber o que escrever...

... mas vou tentar postar qualquer coisa regularmente. Fico feliz em saber que meus poucos e esporádicos leitores as vezes se lembram de mim.
Eu continuo chorosa, mas estou voltando à velha forma. Ontem, consegui largar tudo e me lembrar de quando era a Pomba Enamorada.  Aliás, ao me ver frente a frente com Ligia Fagundes Telles (chique, né?), me lembrei dos lugares por onde a Pomba transitava, tão familiares pra mim!

quinta-feira, setembro 11, 2008

foi-se...

.. o portuga que brigou comigo e me fez chorar pelo menos por uma semana.
Olha, nao é porque ele morreu. É porque eu tô virando santa. Mas faz tempo que nao tenho mais raiva dele. Até quando ele tripudiou ao saber das minhas últimas dificuldades, nao consegui sentir raiva. Desde sempre, sinto muita pena...  E não é de vingança que digo, mas duvido que consiga descansar em paz, viu? 

domingo, setembro 07, 2008

tentanto

Juro que tô me esforçando. Mas não gosto de nada que penso em postar. Raquel, tô com saudades. Qdo vc mostrou a carinha, não consegui responder. Pena.
Hoje tô chorosa. Pela primeira vez não pude ir ao casamento de um sobrinho. Na verdade nem tive tantos sobrinhos se casando. Foram duas, duas sobrinhas. Aí, me lembrei daquelas deliciosas reuniões familiares. A última com minha mãe. Ficamos hospedadas no mesmo quarto de hotel, lá na beira da represa, em Minas. ai, que saudadinha. Às vezes, saudades de mim mesma... 

domingo, agosto 31, 2008

curiosidade

Nossa! Essa curiosidade acaba comigo! Quem será meu segundo leitor? Ultimamente estava certa de que a única fiel visitante era Raquel...
Bom.. Tenho pelo menos 3 suspeitos, que talvez se lembrem ainda do endereço e da minha pessoinha.

Onde eu estava mesmo?
Ah... Sim! Deixando de sentir pena, de ser coitadinha. Retomar minha louca vida. Em alguns posts contei o que aconteceu, a guinada na minha vida. Agora, preciso retomá-la, mesmo assim capenga. Nem sei mais o que eu sinto. Tenho medo... Posso?

chega mesmo...

.. vou parar, já parei de ser a coitadinha!
Agora, só tô com a cabeça oca.

tentando retomar de novo, outra vez

Vou criar vergonha e voltar a postar... Não vi a neve ferver como a Fal. Quase. A leitura dos Drops me deu uma sacudida. Não posso ficar tanto tempo com pena de mim mesma. Preciso reagir. É uma promessa, sim! Apesar de ter descoberto nesses passeios que não sei escrever...

segunda-feira, abril 21, 2008

vitória e ajuda

Mensagem que pedi para encaminhar para a amiga de uma amiga,cujo marido está em estado grave, aguardando transplante de pulmão.

Há muitos anos nossa grande amiga em comum, a Alice, me fala de vc. Sempre ressaltou a grande amizade que as une e também a sua inteligência e gênio fortes, características que, segundo ela, sao presentes em nós duas, até pelo fato de ambas sermos escorpianas. Outro ponto em comum em nós duas seria o nosso ceticismo, a descrença, o fato de sermos "atéias", coisa que eu já penso que nao sou mais. Eu me recordo de termos nos cumprimentado no enterro do pai dela... Vc usava um casaquinho multicolorido... Depois daquele dia, enfrentamos uma sucessão de momentos difíceis, tanto eu como ela.. e hoje eu sei que você também.

Neste momento, ... atrevo-me a lhe falar um pouco de minha experiência, na tentativa de ajudá-la de algum modo na recuperaçao de seu marido Milton.

Como vc já deve saber, eu vivi uma situaçao limite com meu marido... Foram 35 dis em coma, 60 na Uti e 4 meses e meio de hospitao. E uma das coisas que me confortou muito foi a apresentaçao de uma pessoa em situaçao semelhante a minha, feita por uma grande amiga, que mora no Rio de Janeiro. Lilian é minha amiga de infância e ela se lembrou que tinha uma colega dela cujo marido tb teve avc, 4 meses antes do meu. O relato de tudo que ela viveu me estimulou muito a seguir em frente.

Sei que problema do seu marido é outro, mas acho que a batalha é igual quando os médicos nos dizem que a situação é "grave". Imagino que vc, como mulher inteligente, faça até contas ds possibilidades ao escutar essa palavra. E eu já ouvi também as piores, que são "muito grave" e "gravíssimo", apontados pelos médicos como níveis em que as esperanças se aproximam de zero.

Sei também que nao é primeira vez que vc enfrenta tal situaçao pois já viveu experiências difíceis com seus pais. Foi também o meu caso, pois além dos meus pais, também perdi dois irmaos, ainda jovens. Um deles se matou e outro teve cãncer no estômago.
Minha mae morreu uma semana depois de fazer cirurgia no fêmur. Ainda hoje me culpo de muitas coisas. Mas agora mesmo uma amiga me disse "a gente nao pode se culpar por ter caído porque não aprendeu a andar". De fato, nas ocasiões anteriores, eu ainda nao sabia andar em relaçao a doenças. Agora, acho que dou bons passos, que aprendi a duras, duríssimas penas, neste um ano e dois meses em que estou cuidando do meu marido.

O que posso lhe dizer? Que na hora do desespero, decidi acreditar em Deus. Olhei pra cima, em volta.. Pedi ajuda a pessoas que tinham fé. Espíritas, evangélicos, católicos... aceitei a mão de quem me estendeu. Recorri a todos tratamentos. Aceitei orações de quem prenunciou "dom da cura", pessoas amigas ou voluntários desconhecidos. Confesso, sem nenhuma vergonha que só em tal situaçao aprendi a rezar. Não creio que tenha feito isso anteriormente, nem quando meus pais e ãorreram. Nas outras ocasioes, acho que rezei por rezar... mecanicamente, temerosamente.

Desta vez, pedi, implorei, rezei com fé. Desejei ardentemente que Deus exista de fato e que seja mesmo o ser onipresente, que tudo sabe e tudo pode. Pedi humildemente que me socorresse e me confortasse. Pedi, sobretudo, pela vida de meu marido, mesmo que eu, em toda minha descrença e vida de pecadora, nada mereça.

Também aprendi a ler a Bíblia e nela buscar conforto, respostas, tranquilidade.

Paralelamente, nao deixei de lutar com todas as armas, conversando, perguntando, insistindo com médicos... e enchendo Paulo de todas energias positivas que minhas forças possam permitir.

Amiga (permita-me chamá-la assim, pois assim te considero), hoje, considero-me praticamente vitoriosa pois embora meu marido ainda não ande, está longe do risco de vida, já consegue comer com próprias maos. Ainda batalho entre momentos de infinita gratidão e tendência a revolta, cansaço e desespero. Mas os momentos de esperança sao bem maiores.

O que digo pra vc neste momento?

Que respire fundo.. que encha sua barriga de ar.... esvazie completamente o peito. Faça isso dez, vinte, trinta vezes e feche os olhos por dez minutos sempre que a agonia tomar conta de você.
Nao tenha vergonha de abaixar a cabeça, se humilhar... não tenha vergonha de estar sempre presente, firme e esperançosa ao lado de seu marido. Não tenha vergonha de ser você sempre... mas se dê ao luxo de chorar e pedir ajuda. Entre em um templo, uma igreja qualquer, e se pergunte: "por que tantas pessoas vêm aqui? por que tanta gente se conforta neste lugar? Se é assim, senhor Meu Deus, me dê tal conforto também."

Então.. acredite... Seja lá de onde for, você se fortalecerá.. e conseguirá, do mesmo jeito que eu : vencer um dia depois do outro!





segunda-feira, março 24, 2008

continuo emotiva

Os últimos dias andam puxados....
em dias em que minha paciência se esgota. Evito falar de coisas negativas. Tem dias em que até as boas nos remetem às ruins... Deve ser algo esquisito que paira no ar... Não há de ser nada!
Esse tempão todo sem postar... Ao voltar, a grata surpresa de saber que pelo menos 5 amigos estiveram em vigília aguardando este dia. Fiquei muito feliz em saber do interesse deles! Paralelamente, tento entender 3 de meus grandes amigos que não querem ler isto aqui de jeito nenhum! Um deles, até entendo, confessa, com ar maroto, que "tem meda!" rsrsrsr..

Páscoa

Assim como Natal, Dia das Maes, Dia dos Pais, etc... os dias festivos às vezes sao difíceis quando as coisas não estão dentro da normalidade.
Mas nao posso me queixar do último Natal, Ano Novo... e muito menos da Páscoa! Tudo tem sido muito positivo. Isso não significa que as lágrimas teimem ainda em escorrer. Mas nem sempre são em razão de tristeza ou desespero. São simplesmente emoções.
Amigos e meus parentes me carregam e empurram "com as duas mãos e pés", como diria minha sobrinha Dani.
No último sábado recebi visita de meu irmao mais velho com a família. Trouxeram presentes que o outro irmão, lá de Minas, me mandou. Fiquei imensamente feliz. Até com uma coisa tão boba que foi um avental de brinde. Vermelho, enorme, de brim. Adorei, principalmente pelo lado prático nesses meus dias de jornada quádrupla. A vida de "cuidadora" exige bolsos enormes e estar com fones e celulares nos bolsos, além de tesoura, fita crepe, etc!

domingo, março 16, 2008

melancolia

To de novo tristinha... mas é coisa de momento.

Semana passada foi muito legal. Recebi visita de uma grande amiga, que mora há uns 15 anos em NY. Estudamos juntas durante 7 anos. Ela veio ao Brasil, passou por Sp e de repente estava aqui em casa. Foi muito, muito bom. Muito alto astral, sensaçao de que nos separamos ontem!
De repente, uma noite, ela mostrou a cara no gmail, passei o endereço, trocamos fones. Dia seguinte, a esperei com salgadinhos quentinhos. Vieram ela e a irmã. Essa irmã é voluntária dos Doutores da Alegria em minha cidade. Penúltima vez que a vi foi no hospital, com minha mae. Última, foi no velório... Estranho e até engraçado é que, após 3 anos, ela nao se lembrava que minha mãe já não está mais por aqui. Claro que isso foi um esquecimento repentino. Mesmo assim, fiquei encafifada...

domingo, março 09, 2008

Dia da Mulher e etc

Meus dias continuam difíceis.
Nao sei se tá tudo bem ou não.
Tem coisas que quero contar, mas nao dá coragem.
Não, nem sempre sou verdadeira...
Tõ inquieta... Quase sempre, me priorizando em último lugar. Não, disso não reclamo. Nem sei se sou feliz ou nao. Acho que sou!

Ontem, Dia da Mulher, resolvi escrever mandar mensagem comemorativa pras amigas. Saiu isto:

Muita gente acha besteira celebrarmos este dia. Mas eu, do mesmo jeito que aprovo todas novas datas comemorativas, como Dia do Amigo, Dia do Vizinho, Dia da Vovó, da Sogra, etc, vejo razões especiais para festejarmos o dia de hoje!

Feliz Dia Internacional da Mulher!
Para vc,
Para mim,
Para todas grandes mulheres!

Vamos aproveitar para relembrar todas nossas conquistas! Nós, que acompanhamos tantas mudanças e estamos tendo a oportunidade de conviver entre o melhor da mulher de antigamente e da nova mulher!

A nós, desta geraçao, que perdemos a vergonha de ir comprar modess na farmácia, tendo acompanhado aqueles anúncios nas revistas de fotonovelas. Lembram? "Adeus, toalhinhas laváveis!"
A nós, que ousamos experimentar o OB e tantas outras coisinhas!

A nós, que brincamos de intelectuais e hoje podemos assumir gostar de telenovelas!

A nós, que começamos com sutiã de bojo pontudo, ousamos usar camisetas sem nada e agora encaramos modelitos que levantam tudo!

A nós, que fomos à luta, empurradas pelas mães que, invejavam nossas oportunidades!
A nós, que invejamos a moleza de nossas avós e mães!
A nós, que invejamos a moleza de nossas filhas!
A nós, que podemos nos orgulhar de tudo!
A nós, que começamos fazendo curso de "dactilografia", "estenografia" , passamos até pelo código morse (eu , sim.. juro!) e estamos aqui, sobrevivendo à era da informática!
A nós!


domingo, fevereiro 10, 2008

para dar sorte

A exemplo do que fiz há quatro anos, fica aqui um post de um futuro imaginário, talvez o meu post de número 8.000 neste blog.

Em seu discurso de posse, a nova diretora do curso de G e s tão de P olíticas Pú blicas, relembrou sua primeira ida ao campus da U s p leste, ainda um lugar desconhecido. Era o ano de 2008. Foi com dificuldade que ela chegou a aquele descampado em seu carrinho de segunda mão, ainda sonolenta do plantão noturno como aspirante-a-oficial.

No momento em que se torna a primeira m i litar a dirigir a faculdade, mencionou os preconceitos que enfrentou entre os colegas dos dois grupos: os estudantes da maior universidade do país e os seus colegas de c a s erna.

Com os olhos marejados de lágrimas, a capitão rememorou a luta vitoriosa pela recuperação da saúde de seu pai, convalescendo então de um avc gravíssimo que o deixou mais de um ano na cadeira de rodas. Foi justamente o exemplo dele, com a guinada que deu para voltar a andar que a estimulou a redobrar esforços nos estudos e no trabalho.

No agradecimento citou a mae, tios e primos, exemplos que a incentivaram nos momentos mais difíceis com a certeza de que vale a pena correr atrás das conquistas. Expressou também especial gratidão ao ma jor N e lson, que depois de reformado se dedicou à vida acadêmica, tornando-se conceituado filólogo e etimologista. Lembrou que foi graças à "força" dada por ele, com a apresentaçao de um aluno veterano que conseguiu sobreviver ao primeiro ano como recruta na academia militar.
A cerimônia foi concorrida devido à presença de seu primo, ministro da J u stiça e do tio, que veio de N. York, onde coordena o novo organismo da On u, encarregado da recuperacao dos detentos em todo o planeta.
A doutora, que acumulará a funçao com o subcomando da área central da capital, pretende conciliar o rigor militar com a liberdade de um ambiente humanista. Para isso, contará com o apoio do marido, figura igualmente polivalente, que divide as atividades de físi co e filó sofo, também na u s p.

Kell está certa!Muito bom voltar a escrever! Agora vou me especializar em sonhos premonitórios!

escrevi no carnaval

Não postei no dia pois achei muito triste...

Domingo de Carnaval. Estou trabalhando às 20h, como estive muitas vezes, como estaria também no ano passado, nao fosse o que aconteceu.
Então, neste momento, penso: "Que bom que posso trabalhar".
ão domingo de Carnaval do ano passado (que caiu no dia 18), estava aflita, aguardando naquele corredor assustador da Santa Casa por onde passava pela primeira vez em minha vida. Nos meses seguintes, me familiarizaria muito com aquele chao de cerâmica vermelha tão limpo e bem encerado, cercado por paredes antigas de tijolos a vista. Gatos passeando pelos corredores.

Chove lá fora e já lavei montanhas de roupas hoje. Toda vez que lavo roupas, me lembro muito de minha mãe. Especialmente num domingo. Quando ela esteve aqui em casa, lavando as fraldas da minha filha, comentava como era tudo muito fácil só pelo fato de ter água encanada e poder esquentar água em fogão a gás, bastando pra isso girar um botão.Também ficou toda invejosa do meu tanque de cerâmica branca. Ela dizia isso lembrando-se dos primeiros anos como imigrante, quando depois de doze horas no cafezal ainda tinha de tirar água do poço, puxando um balde com corda. Água para o banho de ofurô e para lavar a roupa, além de fazer comida e lavar a louça. Para aquecer a água, fogo a lenha. E quando chovia por muitos dias? Lenha molhada e muita fumaça...
São essas reminiscências que me enchem de coragem. Quando vou cuidar do P P, me lembro de minha avó... Passou uns cinco anos dependente, num tempo em que nem existiam fraldas descartáveis ou mesmo folhas de plástico pra forrar a cama... E minha mãe ainda costurava e lavava roupas de dez pessoas enquanto cuidava dela. Sem máquina de lavar, sem água encanada, sem energia elétrica, sem fogão a gás...
Então, eu penso: Nao posso chorar! Mas as lágrimas correm...

vencendo o a v c

Conversa de hoje, enquanto ajudava P P no banho:
"Nao fica aborrecido, esta situaçao é por pouco tempo, vc vai superar, logo vai estar fazendo essas coisas sozinho. Vc é um vitorioso. Sabia que vc venceu a luta mais difícil?"
Ele:
"Eu sei, eu venci a morte"
Eu:
"Entao... Agora, qualquer coisa que vc tiver de vencer, é fichinha"
Ele:
"E vc vai escrever sobre isso?"
"Sim... vou, ainda estou pensando num best seller"
"Vai ser na S e l e c o e s? E eu vou sair na quarta capa... Vou sair sem camisa?"
"Nao, vc vai sair bonitao, bem vestido e sem cadeira de rodas."
"Vencendo o A V C... Eu venci o A V C. Tem cara de artigo de Selecoes..."

Essa é uma mostra de mais um dia em que tenho de respirar fundo para vencer as lágrimas. Elas novamente jorraram, aos borbotoes.
Lembrei entao de que a primeira vez que enfrentei situaçao parecida foi quando minha mae operou o fêmur. Pela primeira vez ela se viu dependende de uma filha, precisando de ajuda para fazer cocô, tomar banho. Estava tao travada que nao conseguia evacuar. Ficou tudo empedrado. E também tinha vergonha de ir ao banho com ajuda da auxiliar de enfermagem. Depois de insistir muito, concordou que eu a levasse na cadeira de banho. ..
Hoje fiquei pensando em como tudo seria tao diferente se naquela ocasiao eu tivesse a vivência hospitalar e a destreza que tenho hoje. Digo, com toda certeza, que nao tem ninguém com a prática e agilidade que adquiri neste ano, em especial nos 8 meses como "c u idadora"... Dificil, muito dificil, mas compensador, sem dúvida.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

um ano?

  • Sim, pelo calendário lunar, já completei um ano de meu sumiço daqui. Era Carnaval e era Ano-Novo chinês. Foi quando minha vida virou de cabeça pra baixo.
  • Então devo começar dizendo que metade de mim "nao sou mais eu". Ou melhor: não é mais eu!"
  • Finalmente, me disponho a contar esta história que parece muito longa, apesar de um ano nao ser um tempo tão extenso.
  • Entretanto, foi um ano intenso, em que vivi situaçao inesperada.
  • Começarei revelando uma parte da minha vida que ficou de fora deste blog. Essa parte, eu havia resolvido excluir da minha vida afetiva, virtual e lúdica pois há muito se tornara um apêndice inerte e incômodo. Por isso, nunca participou de meus relatos aqui. Preferia nao falar do tema para nao ser criticada, para nao ter de tomar atitudes... Tanto é que creio que jamais cheguei a citá-lo aqui.
  • Entretanto, os acontecimentos deste ano que passei me mostraram que se trata de uma parte muito, muito importante. Trata-se do pai de minha única filha. E a ele dediquei os últimos 360 dias, desde que sofreu um AVCH, acidente vascular celebral hemorrágico.
  • P P sofreu uma hemorragia muito extensa e repentina, provavelmente resultante de um aneurisma congênito. Levado ao hospital, foi operado e ele passou 35 dias em coma, mais de 60 dias na uti e4 meses e meio internado.
  • Minha vida virou do avesso e hoje sou metade outra pessoa. A partir de hoje, este blog vai mudar de foco pois minhas impressões girarão em torno dos temas: saúde, dedicaçao, amor ao próximo, solidariedade, perseverança, esperança...