sábado, novembro 06, 2004

Ainda estou meio atordoada, acredito que raramente nos preparamos para aceitar a morte de pessoas queridas e próximas com resignação. É muito complicado cair a ficha, mesmo sendo esta a quarta vez que me vejo diante desta situaçao. A primeira vez foi quando perdi meu pai, aos 21 anos. Depois, foram dois irmãos.
Aos poucos, tento rememorar o pesadelo e registro, o que aconteceu, antes que se dilua na minha memória.

No caso da minha mãe, há uns 3 meses, eu notei que ela estava muito "diferente". Hoje, percebo que talvez já andasse em contato com "outra dimensão". Mamãe nunca foi de relatar sonhos... Certo dia, quando esteve na casa da minha irmã, esta a surpreendeu falando sozinha. Disse que meu falecido irmão esteve ali, ao pé da cama. Poucos dias depois, mamãe confundiu minha irmã com minha tia Yaeko (irmã mais nova de meu pai), falecida há 2 anos. Isso me deixou com pulga atrás da orelha... Em nenhum momento ela se referiu a esses acontecimentos como sonhos. No dia em que foi constatada a fratura, meu irmão a encontrou caída no chão do quarto, muito assustada. Foi numa manhã de sábado, por volta de 7h30, 8 dias antes do falecimento. Mamãe disse que pessoas estranhas invadiram o quarto, retiraram cobertores do armário dela e se encapuzaram. Acenderam velas no alto e fizeram maior bagunça. Ela apontava assustada para o alto e dizia: "de que religião são essas pessoas"? Insistiu que tinha muita gente ali. Meu irmao chegou a pensar se não haveria alguém mesmo, assaltantes talvez. Ela apontou para baixo da cama ou outro cômodo, acrescentando que entre 8 a 10 pessoas foram para a sala. Entre elas havia uma menina, que estivera ao pé da cama e moças jovens com maquiagem pesada e colares. Contou que estava escuro, tentou acender a luz, mas os fios haviam sido cortados. Repetiu o relato várias vezes, com riqueza de detalhes e ficou muito brava com pessoas que insistiam em dizer que tivera um pesadelo. Quando a indaguei se sentira algum impacto no local da fratura ao cair, ela disse que esses estranhos haviam colocado cadeiras reviradas no quarto dela e que ao se dirigir para tentar acender a luz, bateu a perna em um dos pés da cadeira e foi ao chão.
Muitos interpretam esse "delírio" como visita da morte. Eu não sei o que pensar. Fiquei bastante impressionada.
Meu irmão me contou que ela estava segurando um potinho de chá que derramara na queda. Quando voltamos para casa, depois da alta, ela falou, sentada na sala e apontando para o quarto: "De repente aquela cena me voltou à mente. Quando caí derrubei um potinho de chá. Acho que rolou pelo chão e quebrou. Veja se não tem cacos lá no quarto". Conferi e não vi nada, mas encontrei o potinho a que ela se referia. Mostrei pra ela, que insistiu que havia outro idêntico. Mais tarde perguntei ao meu irmão mais velho. Segundo ele, existia de fato um par de potes. Só que o outro se quebrou há mais de 20 anos.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Meu aniversário não foi nada bom. Não neste ano, mas no ano que vem, espero celebrar uma nova fase da vida. Perdi minha mãe no dia 31, véspera do meu aniversário. Ainda não acordei direito do pesadelo. Não consegui digerir, apesar de saber que aos 88 anos tudo seria possível. Ela fraturou o fêmur no domingo, dia 24, fez cirurgia na segunda, teve alta na sexta. Eu passei a semana indo e vindo do hospital. No domigo cedo, já na casa dela, amanheceu respirando de modo estranho. Provavelmente teve embolia pulmonar. Chamamos o resgate, foi levada ao PS, mas não resistiu. Não comuniquei ninguém pois tudo transcorreu a 100km de SP. Apenas os que me ligaram no dia 1º pra me cumprimentar, ficaram sabendo. Foram dias muito desgastantes, com o velório se estendendo por mais de 30 horas porque um dos meus irmãos estava na Amazônia... Resolvemos fazer um tratamento chamado t a n a c o p l a xia com o corpo, para que pudéssemos estender o velório até o retorno do meu irmão. Só que ninguém avisou dos efeitos colaterais. Ela ficou completamente desfigurada. Parecia outra pessoa. Com isso, ainda não consegui aceitar a idéia de que aquele corpo era o de minha mãe.
Na noite de hoje, dia 3, mais uma vez meu querido Fábio me telefonou... Foi muito confortante. Por que será que certas pessoas, certas vozes nos fazem tão bem? Só pode ser mesmo ligaçao espiritual.