sábado, janeiro 04, 2014

historinha postada no Fb

Nos anos 70...

"Acho que sou uma mulher muito privilegiada mesmo. Olho pra trás e percebo que tive oportunidade de viver muitas histórias de amor. Algumas bem conturbadas. srsrsr.
Vou começar contando a primeira. Eu tinha pouco mais de 12 anos, era mesmo um brotinho, como se costumava dizer na época. 1970, auge da Era Militar. O Brasil se preparava pra aquela vitoriosa Copa do Mundo. Éramos felizes, com o sonho americano chegando até nós em forma de novos eletrodomésticos. Ganhei também a minha sonhada calça Lee americana, presente de meu irmão querido. E foi ele quem me levou ao meu primeiro baile noturno, no último dia de Carnaval. De repente, um amigo dele, 7 anos mais velho do que eu, veio me puxar para pular. Ele tinha ido ao baile acompanhado, mas esqueceu de tudo e todos pra ficar comigo. Juntos pulamos até o dia amanhecer. No dia seguinte, ele foi a minha casa sob pretexto de levar uma chave pro meu irmao. Conversamos, conversamos e não paramos mais. Quando as aulas reiniciaram, vejam só, ele já fazendo faculdade em outra cidade e eu ainda no ginásio. Trocamos cartas semanais pois desde aquele tempo gostava muito de escrever, e eu tinha uma letra linda. Nas tardes de sábado, ele ia me buscar na escola, pra "carregar os ivros", como nos romances. Mas eu tinha muita vergonha. Parecia que minha turma ia na frente rindo... Continuo depois!
Durante alguns anos, ele me visitou nas tardes de sábado, vindo de Sao Carlos, onde fazia a faculdade, até a hora do busão para o sítio onde morava a família. Ele tinha um lindo sorriso e acho que foi único rapaz para quem minha mãe serviu limonada em dias muito quentes. Ele ria tanto, e minha mãe perguntava: "o que ele acha tão engraçado?" Eu desdenhava e lhe dizia: "Mas eu tenho namorado!" E ele respondia: "mas isso não é problema!!"
Um dia ele parou de me visitar. Em junho de 1979, o avistei de longe, quando eu saía do cartório de minha cidade, onde fora marcar meu casamento. Ele subia no carro. Ele não me viu e não nos falamos. Também fora marcar o casamento dele. Soube ao ver nossos proclamas publicados na mesma edição do semanário da cidade. Se não me engano, ele se casou uma semana depois de mim.

Depois da internet, o procurei algumas vezes, mas nunca o encontrei em grupos de bate-papos ou tampouco localizei seu e-mail, embora tivesse algumas notícias de seu paradeiro através de meu irmão, em cuja casa visitara em algumas reuniões saudosistas. Num certo sábado de Carnaval, entre os contatos de meu irmão, achei o e-mail dele e então, criei coragem e lhe escrevi. Em menos de meia hora, veio a resposta. Nos adicionamos pelo MSN e seguiram-se horas de chat...

Aí ele me contou que também me procurava há muitos anos. Disse que achou alguns e-mails meus e me escreveu, mas eu já havia mudado de endereço. Em seguida, me revelou que parou de me procurar, lá na casa em que morava, no interior, porque uma "amiga" disse pra ele que minha família jamais admitiria que eu tivesse qualquer coisa com ele. Teria sido uma de minhas primas quem garantiu isso. Também me contou que durante 4 anos ficou sem namorar ninguém. Tava esperando eu "crescer"...
Na manhã seguinte a aquele longo papo, minha vida virou de ponta-cabeça. Foi quando meu marido teve avc e, depois, passou 5 mess no hospital. 
Nas semanas seguintes, aquele velho amigo foi fundamental para eu conseguir superar os dias mais difíceis. Alguns anos depois, foi a vez dele dar outra guinada na vida: a esposa (segunda) passou por um transplante do coração. Desde então, ele, que morava em Salvador, voltou a morar em SP, no interior. Conversamos agora, eventualmente pelo Facebook..
Ah! Naquele tempo, tínhamos o costume de trocar fotos 3x4, aquelas que sobravam dos documentos pois sempre tínhamos de mandar fazer 6 no fotógrafo. E eu guardei uma que ele me deu. Escaneei e enviei por e-mail. Está no álbum dele, no Facebook. 
No ano passado, quando a esposa dele estava na UTI, após o transplante, feito na Unicamp, ele pediu meu telefone. E escutamos nossas vozes. Pela primeira vez após uns 40 anos. Estranhei um pouco e fiquei feito adolescente, sem saber o que dizer ou como disfarçar.