quarta-feira, maio 06, 2009

39 dia


Este é o numero do dia da Campanha Espiritual do qual falei. Ela foi divulgada por um vereador de nome Fábio, da cidade de Osasco, na Grande São Paulo, e seguida por uma amiga que conheci em uma comunidade do Orkut que reúne sobreviventes do avc.

Depois de dois anos nessa luta em que os acompanhamentos médicos sao bem esparsos e pouco converso sobre a evoluçao do paciente, senti necessidade de dialogar mais a respeito e decidi apelar para o Orkut. Busquei pessoas em situaçao semelhante, por idade, localidade e tempo pós avc. Uma delas, de Goiás (pelo fato do P P ser de , procurei contatos naquele estado) me levou a um chat do msn (nem sabia desse recurso para abrir sala de bate-papo). Foi a coordenadora desse grupo, conhecida como Bete, quem me falou da campanha.

Num momento de extremo esgotamento iniciei as leituras. Elas se estenderão por 63 dias e eu estou no 39 dia.

O texto de hoje é:

"Não faça somente pedidos quando orar, afirme também que lhe estão sendo dadas muitas bênçãos e agradeça por elas. Faça uma oração em intenção de alguém com quem não simpatize ou que o tenha tratado mal. Perdoe depois esta pessoa.o ressentimento é barreira número um da força espiritual."

Decidi que irei firme neste propósito, por todos os meios. Inicialmente, dentro deste tema, devo perdoar minha cunhada, irmã do PP. Para ela fiz uma oraçao e em seguida acenderei uma vela no site do Sagrado Coração. Sim. Irei apagar essa mágoa. compreendo bastante as razões que desagregaram essa família e talvez uma das razões desta situaçao em que se encontra PP. Esse nódulo há de se dissolver com a perdão que vou ajudar a se firmar no cérebro abalado dele. Se eu consegui reeducar, fazer com que se relembrasse do que havia se apagado, vou conseguir também isto. Explicar atitudes como as que tiveram, de indiferença e palavras duras, a mim dirigidas em momentos tão delicados.

Sim. Sou imensamente agradecida pelos meus dias tranquilos, sem acontecimentos negativos. Com respostas superiores aos meus apelos.

Sou muito grata aos pedidos de ontem em que fui atendida ao pedir por coisas aparentemente banais como encontrar a bolsa da minha filha. Estou muito grata pela proteçao que ela recebe diariamente, assim como todos os colegas e a própria situaçao de combate ao mal entre os cidadãos. Fico orgulhosa de todas as atitudes humanitárias e o bom senso que a guia no trabalho. Tenho plena certeza de que, seguindo exemplos de primos e tios, ela será mais uma sacerdote em campanha por melhores condiçoes de vida  para nosso estado, nosso país.

Sou, acima de tudo agradecida pela recuperaçao constante do PP. Muito mais pelo bom humor e ótimo astral que ele preserva, acima de tudo. Sei que esse positivismo nos conduzirá à vitória. Reafirmando esses conceitos, vou conseguir superar os obstáculos que surgirem.

Fico também emocionada com os presentes que recebo todos os dias, em forma de palavras de incentivo, vindos de novos e velhos amigos. São dádivas sem preço. Sobretudo, os novos amigos que se juntam à nossa coleçao.

terça-feira, maio 05, 2009

Recontando - copiado de outro blog


Vou copiar aqui um post que fiz ontem em outro blog.

Confesso que me travei com uma crítica que recebi lá sobre o recurso que utilizei pra contar a história que vivo.

É esse relato apenas o começo. Pretendo aproveitar o mote para redigir outros capítulos. Porém, ainda nao sei como. Nem quando.

Sou 1 em 20 na estatística


Sim. Um dos neurocirurgiões disse: "de 20 que operamos, 19 morrem!" E a neurocirurgiã contou que foi a maior hemorragia que ela já viu.

Meu  nome é Paulo, tenho 51 anos e tive avch no dia 18 de fevereiro de 2007, um domingo de carnaval. 
Depois de uma noitada assistindo filmes até tarde, acordei cedo, creio que por volta de 9 horas, contrariando meu hábito de dormir até quase meio-dia, principalmente em um domingo.
 
Tive uma dor de cabeça fortíssima, latejante, coisa que nunca me aconteceu, nem quando eu bebia e tinha ressacas fenomenais. Devido à dor de cabeça, não acendi o cigarrinho de costume e tampouco quis tomar café. Fui ao banheiro, fiz xixi. Minha mulher disse que a têmpora estava vermelha e até me deu uma toalha umedecida em água gelada, para aliviar.

Voltei a me deitar, encostando a cabeça no braço do sofá. Creio que já havia passado mais ou menos meia hora desde que despertara, quando me deu nova vontade de fazer xixi. Aí, quando fui me levantar, a perna esquerda não me obedeceu mais. Erguendo-me com o impulso, dei dois passos, capenguei e caí em cima de almofadões que estavam no chão da sala. Tentei me apoiar no braço pra levantar e a perna parecia boba. 

Minha filha gritava: "pai, pai, que foi?" E minha mulher falou: "chama o resgate" (tendo já presenciado o pai dela ter vários AVCs, ela já deduziu).

Minha mulher insistiu pra que eu ficasse quieto, nao tentasse mais levantar. Então acabei mijando numa bacia.
Primeiro ligaram pro Samu e depois pros Bombeiros. Os dois socorros chegaram quase ao mesmo tempo. A paramédica viu a pressão e me mandou apertar as duas mãos dela. E vi que fizeram sinais entre eles e falaram uma sigla que talvez fosse AVC, nao tenho certeza. Me espantei que escutei pressão 24 (não me lembro do outro número). Como o elevador do nosso prédio é pequeno, e só havia maca comum, me colocaram meio amarrado numa cadeira pra descer. Apenas no hall de entrada do prédio, me colocaram na maca. 

Bem na hora em que estavam me colocando no carro dos bombeiros, chegou a dra M arice, médica, sobrinha de minha mulher. Em menos de dez minutos, chegamos ao PS da Santa Casa de SP. O lugar estava lotado. Típica cena de hospital público em feriado. Corredores cheios de pacientes nas macas. Mediram minha pressao, que melhorou um pouco: 22. Pedi pra fazer xixi e deram um saco plástico. Parece que colocaram soro e me deram algum remédio.

Dali a mais ou menos meia hora, minha dor de cabeça piorou muito, comecei a tremer e a boca entortou completamente. A tremedeira era muito forte, a ponto de terem de me segurar pra nao cair da cama. Aí apaguei.
Dessa parte em diante, quem vai contar é a minha mulher, porque a minha história é muito longa. Foram 35 dias em coma, 60 na UTI e 5 meses no hospital.

Tem dias que acordo e ainda penso se estou em um pesadelo do qual não desperto quando me vejo dormindo em um colchonete no chão e uma cama hospitalar ao lado, onde ressona meu marido. Me levanto assustada e me dou conta de que é hora de verificar a pressão arterial e dar as medicações. Respiro fundo e vejo que não é um pesadelo. Aí penso: "pesadelo foi o que vivemos há pouco mais de dois anos. Agora estamos em casa. Ele já fala, conseguimos conversar e alimenta-se quase que normalmente".

Depois desse trecho contado em primeira pessoa por PP (Pepê como é conhecido por causa das iniciais do nome), um jovem médico residente saiu correndo com a maca para o setor de emergência. Provavelmente estava convulsionando e lhe deram um diazepan. E eu precisei sair de perto. 

Enquanto aguardava por notícias lá fora, minha sobrinha procurava me tranquilizar, dizendo que poderia ser um coágulo, uma artéria que obstruiu e logo se dissiparia... 
Eu nem sabia no que pensar. Pressenti algo muito grave e telefonei para todas pessoas queridas que localizei pela agenda. Entre os que correram para o hospital, estavam Angela, minha amiga mais solidária, e o casal de amigos quase vizinhos, Rivaldo e Juraci, que conhecem PP desde que ele tinha uns 16 anos. Minha filha também telefonou para uma amiga dela, que foi pra lá com o namorado. 

A antesala do PS mais parecia o saguão da antiga rodoviária de SP, com cadeiras de plástico, um bebedouro e uma tv mal sintonizada na parede. Todas pessoas olhavam pras imagens que se moviam e ninguém conseguia prestar atençao.

Não tenho idéia de quanto tempo se passou naquela angustiante espera por notícias. Casal de amigos da minha filha trouxe café, refrigerante e um lanche. De repente, a médica nos chamou. Mostrou a tomografia e disse que PP tinha um sangramento imenso, que ocupava toda parte superior e o lado direito da cabeça. Era uma situação de emergência, do qual tentariam tirar por uma cirurgia. Falou que só iniciaria os preparativos do centro cirúrgico e os procedimentos quando eu conversasse com a assistente social e assinasse autorizaçao. A doutora disse algo como: "Vamos ter de abrir para diminuir a pressão craniana. Será uma tentativa. É uma situaçao muito grave, nao garantimos resultados. Vamos entrar com ele, nao sabemos se sairá. E se sair, nao sabemos como ele ficará, se precisar, teremos de sacrificar parte do cérebro para preservar a vida. Mas nem isso garantimos".
Estava escurecendo quando nos informaram onde era o prédio do centro cirúrgico. O complexo hospitalar é imenso, ocupa uma quadra inteira. Pela primeira vez percorri aquele espaço em que construção moderna se intercala a paredes de tijolo a vista com torres que lembram Notre Dame. Chegamos a um corredor mal-iluminado, com o chão de cerâmica vermelha. Teto muito alto, que aumentava em nós a sensação de desolação. Daquele lugar, me lembro de ter telefonado para outros amigos e também para a família dele.

Minha sobrinha retornou com o marido dela, trazendo agasalhos. Disse que devíamos nos preparar pra passar a noite naquela espera. Eu fiquei sentada nos bancos do andar térreo, enquanto minha filha subiu com a prima. As duas ficaram o tempo todo na porta do centro cirúrgico. Previsão era de que demorassem pelo menos de 4 a 5 horas. Nosso medo: que a porta se abrisse antes desse tempo. Felizmente isso não aconteceu. Creio que pouco antes da meia-noite, a neurocirurgiã abriu a porta e informou que terminaram. Com a roupa respingada de sangue até nos sapatos, contou pra minha filha que fora a maior hemorragia que já viram. Agora, nos restava voltar pra casa e retornar na manhã seguinte, no horário de visitas.

Nova pessoa

Sim, gente... Meus dias continuam difíceis. Nao pude mais me dedicar a textos mais amenos. Não pude contar fatos pitorescos. Mas continuo vencendo. Sou hoje um outro ser humano. Pessoa espiritualizada, confiante, serena, de fé.

Superar as primeiras horas da manhã, até conseguir me convencer de que não adianta tentar recuperar o sono e preciso enfrentar o dia é a parte mais difícil. 

Há pouco mais de um mês, tenho me fortalecido com a campanha espiritual divulgada por uma nova amiga,a Bete. São 63 dias e eu já passei da metade. Posso afirmar hoje, sem medo e sem constrangimento que sou mesmo uma pessoa de fé. Estranho? Eu também acho, em muitos momentos. A essência está nesse refrão:

SENHOR, no silêncio deste dia que amanhece, 
venho pedir-Te a paz, sabedoria e força.
QUERO ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor,
 ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
VER além das aparências os TEUS filhos como TU mesmo os vê e,
 assim, não ver se não o bem em cada um.
CERRA meus ouvidos a toda calúnia.
GUARDA minha língua de toda maldade.
QUE só de bênção se encha meu espírito.
QUE todos os que a mim se chegarem sintam a TUA presença.
REVESTE-ME de TUA beleza, SENHOR, 
e que no decurso deste dia eu TE revele a todos.
SENHOR, TU podes todas as coisas.
TU podes conceder-me a graça que tanto almejo.
Cria, Senhor, as possibilidades para a realização de me­u desejo.
EM nome de JESUS , amém!

Toda vez que parece que maus pensamentos, a raiva e a mágoa vêm pro meu lado, retomo a leitura e relembro:

CERRA meus ouvidos a toda calúnia.
GUARDA minha língua de toda maldade.