sábado, dezembro 14, 2002

Dez minutos de bom papo com Julius foram suficientes para acabar com meu cansaço, na sexta-feira. A possibilidade de nos vermos na próxima semana me deixou outra pessoa. Mas foi duro ceder e ligar pra ele... Resisti o máximo que consegui. Mas tudo bem... Vi que ele ficou feliz. Percebo que, como eu, ele pula de um assunto para outro, faz nossa conversa parecer natural. Percebo que o tom de voz muda...eu tento disfarçar a minha... mas tudo que consigo ver é a gente se abraçando apertado! E ele falando do meu cheiro... Nada mais importa!

Preciso aprender a colocar aqui um espaço para comentários... Mas.. será que estou preparada para "ouvir"?


Não, não estou não. Ou melhor: não estou a fim de ouvir. Aqui eu digo o que acho e pronto! Não devo satisfação aos leitores, como nas revistas. E também não tenho que agradar ninguém! E ninguém vai detonar meu blog porque tá ruim demais. Também não vou sair do ar por falta de "audiência"...

Mas pelo menos consegui aumentar o corpo do texto (nossa.. acho que ninguém mais usa essa expressão), ou melhor, o tamanho da fonte! Quem sabe, consigo também ajustar a borda...


" Escrevo. Escrevo que escrevo. Mentalmente me vejo escrever o que escrevo e também posso me ver que escrevo. Recordo-me já escrevedo e também vendo-me que escrevia. e me vejo recordando que me vejo escrever e me recordo vendo-me recordar que escrevia e escrevo vendo-me escrever que recordo haver-me visto escrever que me via escrever que recordava haver-me visto escrever que escrevia e que escrevia que escrevo e que escrevia. Também posso imaginar-me escrevendo que já havia escrito que me imaginaria escrevendo que havia escrito que me imaginava escrevendo que me vejo escrever que escrevo." Salvador Elizondo, el grafógrafo


Amanhã, 6 da manhã, tenho um programinha especial... eheheheh... Suspense...

Viram? Estou reagindo.

quinta-feira, dezembro 12, 2002

Esta é parte de um texto escrito há cinco anos.

Como amanhã completa cinco anos desde o nosso último contato, presto aqui, nestas lembranças, uma singela homenagem. É ainda difícil me conformar com aquela despedida inesperada e sem explicação.


É de um e-mail enviado a minha amiga Lúcia, que mora no RJ e é minha amiga mais antiga (nos conhecemos aos 11 anos)

Juraci foi minha colega na FT e nos tornamos muito amigas mais ou menos na época em que Paula nasceu. Uma pessoa muito “diferente”, muito especial... Não a via há quase dois anos, eu creio...
A última vez que tive notícias dela antes desta foi pouco antes das eleições do ano passado, quando ela me ligou de Campo Grande...
Depois desse dia, ela só voltou a me contatar no último dia 28, quando me disse que chegara de viagem há uns dois dias. Conversamos e matamos saudades naquela tarde, por telefone, e também nos dias 29 e 01. Na
terça-feira, dia 2, liguei para ela, ansiosa para nos revermos e conversarmos pessoalmente. A mãe dela disse que estava dormindo. No dia seguinte, a situação se repetiu duas vezes. Na quarta, desconfiei que havia
algo estranho, pois a mãe disse que ela estava muito abatida e só queria me ver quando se recompusesse. No sábado, eu e outra amiga fomos fazer uma visita, meio “na marra”. Constatamos que ela estava num estado que mais parecia coma. Não era coma, pois se alimentava. Abria a boca e deglutia o que lheera oferecido. Muito estranho... Não se levantava e nem se mexia ou abria os olhos. Uma irmã havia chegado de Recife para cuidar dela. “É uma fuga... ela só volta quando quiser” - disseram. “Há suspeitas de Mal de Alzheimer, mas
minha mãe não sabe” - cochichou a irmã. Os dias se passaram, a situação não parecia mudar... Fiz umas pesquisas e achei que os sintomas nada tinham a ver com a tal doença. Estranhei muito e comentei com a Marice, que concordou comigo. Era difícil a gente se intrometer, mas ... seguindo o conselho da minha sobrinha mpedica, tentei conversar com o irmão dela, em Campo Grande. Ele é psiquiatra e vinha cuidando da Ju.
“Em último caso, tem que mandar o Resgate à casa dela, aí será providenciado o socorro, mas você poderá se indispor com a família” - explicou minhaa sobrinha, que também achou absurda a situação. Ela atribuiu tal comportamento a fanatismo,
decorrente do espiritismo da mãe. .. Liguei 4 vezes para Campo Grande e o
doutor não retornou minha ligação...
Na quarta-feira, eu e minha amiga Alice - também ex-colega da FT e amigona de Juraci há 19 anos -, e decidimos ir pela manhã bem cedo até lá, para conferir o que acontecia e dispostas a interferir se fosse preciso...


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Agora, as cópias dos meus e-mails ao Fábio...
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Cheguei hoje pouco depois das oito da manhã, juntamente com minha amiga Alice à casa de Ju. A mãe dela abraçou-me chorosa e comunicou-nos que a filha estava muito mal e já haviam chamado o resgate. A doente estava febril e agonizante. A ambulância chegou depois de meia hora e eu segui para o pronto-socorro juntamente com a irmã dela que vinha fazendo vezes de enfermeira na última semana. Lá, o atendimento foi imediato e o médico pediu os exames de radiografia, urina e sangue. Porém, não havia enfermeiros e os recursos bem precários. Nós duas tivemos de empurrar a maca e levá-la pelas várias salas, para os exames. Saí para comprar material de higiene e algumas roupas, para dar mínimo de conforto, enquanto ela tomava
soro e aguardava o diagnóstico. Com o resultado nas mãos, evidenciando uma pneumonia, foi providenciada a remoção para o hospital, onde uma pneumologista muito atenciosa e competente nos explicou que o estado de
sonolência devia provavelmente ser em decorrência da falta de oxigenação do cérebro. Foram solicitados exames com neurologista e imediato encaminhamento ao setor de emergência. O nível de glicemia também estava alto.
Porém, o enfermeiro demorava um pouco e aguardávamos num saguão, com demais doentes, na maca, quando a vi abrir os olhos, depois de 8 dias. O olhar estava parado e arregalado, fitando o vazio. E ela suava muito. Comuniquei a um jovem médico, que viu o estado e empurrou pessoalmente a maca para a UTI. Fiquei
na dúvida se já era tarde demais... mas, felizmente, colocaram os tubos e oxigênio a tempo. Às 18h30, deixei o hospital, juntamente com a irmã de Ju, por ora tranqüilas com as providências possíveis tomadas. Foram dezenas de telefonemas aos colegas, particularmente a um velho conhecido, ex-chefe de reportagem do jornal, que contatou o assessor de Imprensa do Inss, que nos passou as coordenadas.

Não sei se minha amiga se recuperará. O estado é mesmo grave. Sei que há momentos em que pouco podemos fazer... Mas, neste momento, não tive como não deixar de esgotar todas as possibilidades que estavam ao meu alcance. Agi segundo minha consciência e seguindo o próprio exemplo de Ju.
Estou triste, porém aliviada e tranqüila. deixei-a com todos os cuidados que a ciência pode oferecer hoje, num hospital muito bem equipado, em mãos de profissionais dedicados. Se ela morrer, não será sem atendimento. Creio que o socorro adequado demorou demais a ser providenciado, porém foi a tempo de se tentar reverter o quadro.

Sem querer julgar, constatei que o tal irmão médico psiquiatra (de Campo Grande) vem tendo um procedimento no mínimo incompetente, ao atribuir tudo à depressão e esclerose múltipla. O primeiro sinal de febre já devia ser de comprometimento do pulmão e também da elevação da taxa de açúcar. A situação deve ter-se agravado com a ingestão de muitas vitaminas de frutas, adoçadas com certo exagero. A mãe, que tudo centralizou, omitiu muitos dados que deveriam ter sido transmitidos ao filho médico (para não preocupar demais o
célebre filho, tão ocupado, às voltas com o final de semestre do curso de Medicina, onde é catedrático em uma cadeira freudiana) e entregou-a cedo demais às mãos de deus... E ele, na sua linha de raciocínio, continuou a
tratá-la de depressão, ministrando tranqüilizantes, que aumentavam a sonolência... Difícil acordar, né?

Enfim... essa situação me mostrou como a família significa tudo... Em última instância, enquanto não rompemos com ela, é ela quem sempre toma decisões por nós quando estamos incapacitados. Os amigos, por mais preparados e mais competentes que possam ser, nunca têm direito de agir, de tentar fazer o
melhor... E, na família, sempre se respeita a hierarquia: cônjuge, filhos, pais e irmãos, quase sempre nessa ordem. Ninguém questiona essa hierarquia... No caso da minha amiga, as decisões sempre ficaram por conta
da mãe, que vinha seguindo os conselhos do filho médico. Por se julgarem mais capacitados, os outros nada souberam ou souberam de tudo pela metade... Os amigos, continuamos sendo estranhos e intrometidos demais...

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Bem... Jui se foi na noite de ontem. Quando recebi a notícia, senti-me aliviada. Depois do último e-mail que te enviei, relatando minha maratona pelo hospital, não consegui pensar nem fazer outra coisa além de me dedicar a ela. No dia seguinte, retornei pra lá e levei um susto, pois ela não estava mais na sala de emergência. Depois de alguns minutos de desespero, localizei-a na UTI, onde eu e Ângela tivemos acesso, escorregando pelos
corredores e furando os esquemas de segurança. Claro que nesta hora a nossa experiência de jornalistas veteranas nos ajudou muito. Não precisei olhar muito pra minha amiga pra concluir que ela estava
péssima. Percebi a gravidade no semblante da chefe de enfermagem, que veio me perguntar o que aconteceu e por que esperamos chegar a tal estado para buscar uma internação. Expliquei a situação familiar rapidamente. Quando a irmã dela entrou para a visita, aproveitei para telefonar pro tal irmão, em Campo Grande. Gastei um cartão de 90 impulsos pra falar 3 minutos no celular dele. Eu: "Sou Suely, amiga da sua irmã de SP. Ela está péssima, o estado piorou muito desde ontem. O senhor pretende vir, doutor?"
Ele: " Não, não vou". Eu: "Esta situação era prevista?" E ele: "Sim... estou esperando a qualquer momento".
Eu: "Meu cartão vai acabar... posso ligar a cobrar?"
Ele: "Ligue para meu consultório daqui meia hora. Estou indo para lá. Por favor, a senhora ligue a cobrar".
Ainda tinha 3 impulsos, mas a voz foi tão fria e autoritária que eu desliguei e não tornei a procurá-lo.
Nós três, Ângela, eu e Titi, a irmã de Juraci, fomos chamadas para conversar com o plantonista da UTI, . Ele nos informou que o quadro era gravíssimo, que ela não reagia a nada... Estava vivendo sob ação de drogas e máquinas. Estava tão debilitada que nem podia ser removida pra se submeter a uma tomografia. Eu pedi a ele que contatasse o irmão, que ligasse a ele para ter o diagnóstico que ele já tinha. "O procedimento não é este. Quem deve nos procurar é ele. Aliás, ele deveria estar aqui" - foi o que o médico disse, irritado. Expliquei a ele que eu era "apenas" amiga e relatei o que ocorrera. "Então, estamos diante de algum problema familiar que nós
desconhecemos" - concluiu ele, me olhando estranho. Na tarde de ontem, fui novamente ao hospital, já preparada para tudo. No entanto, ela ainda estava na UTI, com aspecto até melhor. Examinei-a e
percebi que retiraram as sondas e estava ligeiramente inchada. Por isto o aspecto melhorara. "Estão preparando..." - pensei com meus botões e saí logo a seguir. A irmã me contou que o tal irmão médico ligou pra ela desesperado. Chorava tanto que nem conseguia falar. "Deve ser culpa" - pensei.
Dali a pouco, veio o médico responsável por aquela tarde na UTI falar conosco. "O estado dela é o que chamamos de "choque", em termos médicos. O irmão dela ligou várias vezes, disse uma porção de coisas... que ela tem isso, tem aquilo... Mas o que posso dizer é que são apenas suposições. Fizemos uma tomografia e nada encontramos. Apenas uma cicatriz muito antiga no crânio. O socorro foi demorado demais. O pulmão dela está péssimo. Tivemos de fazer uma broncoscopia. Foram encontrados resíduos de alimentos.
Ela deve ter vomitado e aspirado. (Foi exatamente o que aconteceu na noite do dia 01, antes de ela cair nesse sono). Ela não reage a nenhuma medicação. Por isto, neste momento, mandei mudar todos os remédios. "
Bem... a minha suspeita era de que Juraci tivesse algo como um tumor no cérebro, segredo que o tal irmão guardasse sozinho. Imaginei que fosse essa a razão de tanta frieza e esquisitice. Mas... que nada... era só
esquisitice. E o que eu percebi é que a "loucura" é mesmo um problema sério naquela família.
Soube, nas longas conversas com Titi de muitas coisas que Ju jamais revelou nestes mais de 15 anos de grande amizade... Como eu sei que você adora essas na coisas a la Gabriel Garcia Marques (por falar nisso... ano vai esquecer de botar Vargas Lhosa que te dei na mala, hein?) - vou te contar tudo detalhadamente. E trata de guardar meus e-mails, viu? Quem sabe a gente monta mesmo aquele livro, misturando tudo isso com as tuas narrativas de viagem... Pelo menos tenho aqui comigo as de Bali, Tailândia e Barcelona... Que tal tentar me escrever sobre tua estada no México? Eu ia adorar saber como foram as coisas...
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Zezé, o irmão mais novo dela, de Ju, de quem ela cuidava, também faz um sério tratamento psiquiátrico, com uma colega do tal irmão... O início da piração desse cara foi durante o movimento hippie, às voltas com drogas. Na cola do outro irmão, Jurandir, líder de movimento estudantil, seguiu para o Chile. Ambos foram de lá "deportados" para a Europa. Na Holanda, Zita sobreviveu fazendo traduções de espanhol para holandês, línguas que nunca estudou. depois, juntou-se ao irmão-ídolo na Alemanha, onde aprendeu marcenaria e tear. Na Anistia, os dois retornaram ao Brasil, sendo acolhidos pela Juraci, que foi buscá-los no Rio, de carro. Jurandir chegou casado, com dois filhos. Em Recife, Zita começou com um tear manual, "inventou" um sistema mecânico e chegou a ter uma indústria de redes, que detonou numa crise. Veio para S.Paulo, onde teve uma loja de decorações, fabricando móveis de cana da índia e fazendo tapeçarias. (Lembro me da tal loja, na Bela Cintra, quase esquina da Paulista, por volta de 1980). Não sei o que aconteceu, que também o tal
negócio foi pro espaço. Segundo Titi, basta ele parar de tomar os remédios e beber, que tudo vai pro
espaço. E era essa a "cruz" que Ju carregou sozinha por tantos anos... protegendo-o das críticas da família.
Ah... depois de detonar a loja de decorações, Zezé sobrevivia "vendendo" teses de mestrado e doutorado ... principalmente de psiquiatria e psicologia.... Dizia que era mesmo catedrático no assunto, após tantos
tratamentos.
Diz a irmã que muitos psiquiatras desistiram de tratá-lo pois ele invertia os papéis e começava a diagnosticar o médico. (Ahahahha...) Eu acredito que ele fosse capaz disso. A fisionomia dele lembra Einstein. Quem fez essa
observação foi Paulinha, quando o viu pela primeira vez, aos sete anos. Achei fantástica a analogia que ela fez e, naquele momento, achei minha filha também genial. Foi no dia em que Zezé tentou explicar a Paulinha um
pouco de Óptica, martelando o chão e esticando barbantes...
Naquela ocasião, ele estava lendo a Enciclopédia Larousse, de 18 volumes. Estava mais maluco pois perdera o volume 10, se não me engano... Estava estudando sozinho, para encarar Vestibular para Agronomia. Queria estudar em Manaus. Explicou que optara por esse curso por ser ele tecelão, tapeceiro...
Disse que queria ir às origens do plantio das fibras que servem para fabricar os fios... E discursou com uma paixão que me impressionou muito. Ju virava os olhos, como que querendo me alertar... E ele interrompia às
vezes as explicações para falar das minhas pernas, com aquele olhar meio tarado... Eu não sabia se gostava ou me apavorava. Afinal, era mesmo um homem fascinante: atlético e bonito, trazendo misturas de sangue índio, negro e português.

Quando Ju sofreu o tal acidente em que quebrou a perna e eu chamei Zezé para ajudar, também fiquei impressionada ao vê-lo carregá-la nos braços feito uma pluma. Imaginei uma cena de Cecy e Peri. Parecia mesmo um herói de José de Alencar...

Há três anos, Zezé foi estudar Filosofia em Marília e Ju foi morar com o cunhado da irmã, um jovem de pouco mais de 20 anos. Dividiam o apartamento e ela tratava como se fosse filho dela, com todos os mimos.
Depois, muitas histórias mal contatadas... viagens misteriosas... E foi na tarde do dia 28, depois de estar com você, quando eu dormia depois que voltei do aeroporto, que ela me ligou depois de quase dois anos. Disse que
acabara de chegar de viagem há dois dias.

Agora eu sei que os contatos telefônicos foram para nos despedirmos... Ela se preparava para outra viagem... para o espaço cósmico, onde espero revê-la e botar as fofocas em dia... Soube apenas na visita do sábado passado, à casa da mãe dela, que o tal irmão psiquiatra é coronel-médico... Cursou a Aman enquanto outro irmão liderava Movimento Estudantil e era exilado...

Ultimamente, Ju tinha pavor ao pensar em rever Zezé. Segundo a mãe, a crise de vômito, no dia 01 ocorreu após um telefonema dele, avisando que viria passar férias em S. Paulo. Fico imaginando o que pode ter acontecido de tão TERRÍVEL para ela ter medo do irmão mais querido... E também a mãe dela conta que no domingo passado, quando ele chegou, ela abriu os olhos pela primeira vez depois de todos aqueles dias e o fitou aterrorizada. Depois desse dia, ela não queria mais nem comer...

Coisa de louco, né?

Só não sei QUEM é o louco...

No cemitério, conheci o Professor Xavier, o ex-lider do Movimento Estudantil, sociólogo, coleguinha de FHC. Hoje é secretário de Planejamento e Meio Ambiente de uma grande cidade no Nordeste. Abraçou-me muito
e comentou: "Não entendo o que aconteceu... não tem explicação... Às vezes ela estava bem lúcida. Às vezes misturava tudo". Insistiu muito que vá visitá-lo... "Meu filho Juliano tem uma casa linda, num condomínio fechado
em João Pessoa. Venham passar uns dias lá... Lá podemos conversar melhor..." - frisou para mim e para Ângela. E Titi insistiu: "Venham até Recife, que pegamos a chave da casa com Jura e vamos as três juntas de carro até a praia, em João Pessoa."
Senti tanta sinceridade e tanta emoção que estamos - eu e Alice - pensando seriamente em ir mesmo. Para mim, só falta arrumar dinheiro.... Bem... quem sabe, o secretário descola um trabalhinho especial para duas jornalistas de São Paulo, né? Eheheheh...
E eu estou intrigada e curiosa para saber o que se passou... O que fez minha
amiga tão positiva e cheia de vida desistir de tudo... O enterro foi tão especial quanto foi a vida de Ju. Onze pessoas e dois vasos de flores que eu e Alice compramos. Nenhuma lágrima. Ficamos de mãos
dadas: Titi, Xavier, Alice e Eu, enquanto tudo acontecia... Olhamos para o céu, para as plantas, para uma árvore linda, ao lado do jazigo. "Não dá pra esquecer... É a árvore mais bonita e a mais alta"- comentou Xavier.
"Conhecer vocês foi uma bênção de Deus" - observou Titi. Fiquei muito emocionada e feliz. Fiquei grata a minha amiga por permitir este encontro. Achei esses dois irmãos dela tão especiais quanto ela...
Pensei em dirigir uma oração, como Ju fez no enterro da Walkyria. Mas não consegui nem me lembrar do Pai Nosso. Ângela tirou da bolsa uma linda mensagem de Natal, que lemos emocionados, em silêncio. Significativas e oportunas palavras, falando da importância da amizade.Xavier foi até o carro, pegou uma câmera muito transada e tirou umas fotos da paisagem, mostrando o lugar onde Juraci descansou. E também pediu ao
Roberto, marido da "irmãzinha" para tirar uma de nós todos, sorridentes e abraçados. Prometeu enviar as fotos pela Internet assim que as revelar. E eu fiquei de procurar, nos arquivos da Abril, uma reportagem na "Nova", em que Ju aparecia como exemplo de "viver bem em São Paulo". Esta semana vou falar com minha prima, que e' diretora de Arte da revista... Vai ser fácil, foi no número em que saiu uma reportagem com Leão, eleito dono das pernas mais lindas do Brasil. Será fácil achar.
Na volta do cemitério, fui com Ângela almoçar num lugarzinho legal, aqui na Barão de Limeira. A gente não ficou triste. Apenas tentando desvendar o mistério. Tentamos não apontar culpados. Porém, prometi a mim mesma que se tal situação surgir de novo à minha frente, não vou mais ficar "cheia de dedos". Garanto que vou tomar as rédeas antes e agir com determinação. Alice concordou comigo. Choramos apenas alguns minutos quando nos abrigamos da chuva, no terminal de ônibus que nos trouxe de Guarulhos onde Ju foi
enterrada. (Fomos sem carro pois não conhecemos o pedaço). Ficamos ali, alguns segundos, num abraço muito apertado. "Não me abandone" - disse Alice. "Nem você.." - respondi.

Trecho da resposta de Fábio:

"Você descreve tudo de forma tao natural, que é como se estivesse te ouvindo. Me lembra aquelas cenas de novela em que o ator recebe uma carta e ,`a medida que vai lendo, aparece a voz de quem escreveu fazendo a narração ! E obrigado me achar um amigo importante Su. `As vezes fico pensando por qual coincidência do destino viemos nos encontrar !! E acho que deve ter algo por trás disso !!"



Comentário de hoje:

Coincidência? Força do pensamento? Não sei... Constato sempre que nos momentos em que mais precisei do seu ombro você se fez presente. E o papo de ontem... não imagina o bem que me fez! Você me ensinou a ousar, a encarar a vida de frente, sem culpas. Suas massagens são fantásticas. Que saudades!
Você e Eduardo são mais do que prova de que pode mesmo existir uma amizade verdadeira entre pessoas de sexos diferentes e que essa ligação pode superar tudo... sem falar que, também podemos viver com afeto, carinho e ... você sabe o resto... eheheeh. Só na base do bem-querer.


Cinco anos... Ainda falo com a família de Ju. Ligo algumas vezes por ano para a mãe dela e até a acompanhamos para resgatar um dinheiro que minha amiga deixou aplicado numa capitalização. Encontrei a irmã dela, do Nordeste, algumas vezes... e consegui falar uma única vez com Zezé, que se prepara para iniciar mestrado no ano que vem. Agora ele dá aulas para o ensino médio, morando com a mãe em Sampa. A "irmãzinha" de minha amiga teve um bebê nos States, do segundo casamento. E a nossa vida continuou...

Depois dela, perdi dois dos meus irmãos. Nos momentos mais difíceis de minha vida, busquei alento naquela voz sonora, nas palavras dela: "viver cada dia...." "o Sol nunca deixou de brilhar, mesmo por trás da nuvem mais escura..." "isso não foi de você..." "você é a força, sua família depende de você..."

Lembro-me dela embaixo daquelas duas árvores mais altas, em Guarulhos... a última morada de minha amiga, onde prometi retornar com mudinhas de flores e nunca mais fui. Mas acho que ela entende... Um dia levarei as flores sim... quando tiver um dia só para nós... Por enquanto, em palavras que tomam forma nesta tela, quero deixar registrado (para Deus e Bill, como disse um dia Mário Prata) e também para a internet (que vc nunca conheceu )que você me ajudou muito a ser gente!



Já atualizei, mexi umas cinco vezes e esta coisa não quer me obedecer.
Que chato...


Movi para a data de hoje a segunda parte do post de ontem. É que deu maior bagunça...
Assim, pelo menos a ordem fica certa.
Hoje comecei meu dia antes das seis da manhã. Mesmo assim, espero tornar a postar.

Havia prometido não tocar mais no assunto. Entretanto, não pude deixar de comentar com meu amigo da agência de turismo, juntamente com quem fui acusada de prestar favor visando a uma comissão.

Não era minha intenção publicar, mas vou seguir a sugestão de uma amiga que acha que pensamentos tão nobres merecem ser lidos por mais pessoas.

Aqui está o texto do meu amigo:

E eu que mesmo sem conhecê-lo já gostava de seu amigo português por tabela, ou seja, por nossa ótima amizade e por você demonstrar tanto carinho e preocupação por ele, eu naturalmente já o via também como um bom amigo . Lembro-me da primeira vez que pesquisamos exaustivamente um hotel que fosse bem localizado e tivesse o lay out e equipamentos que ele apreciaria. Vizinho ao Sheraton e Intercontinental, hotéis caríssimos, conseguimos aquele muito mais barato e porque não, melhor. Agora, nessa oportunidade, tão em cima da hora, devido a proximidade do metrô recomendei o flat que é bom e teve o preço muito reduzido devido a concorrência do Formula 1, o hotel mais barato de SP, que é vizinho ao flat. Não digo dessa vez, mas da primeira vez, por nossa amizade, parei de fazer coisas importantes só para ajudar-lhe na pesquisa.
Esse senhor evidentemente parece-me ser pessoa de larga experiência de vida devido às viagens internacionais ao longo de tantos anos. Isso em geral abre muito a cabeça e os horizontes das pessoas. Por isso e pela amizade que vocês tinham, fiquei absolutamente perplexo com o comentário maldoso de que eu teria ganho comissão pelas reservas feitas...... A rigor, seria absolutamente natural pois ninguém trabalha de graça a não ser eu que o fiz por ele. Com toda a experiência dele se ao menos ele tivesse observado que as reservas em ambas as ocasiões foram feitas por você e não por minha empresa o que elimina a possibilidade de qualquer remuneração (não uso o termo comissão, pois dá a impressão de ser dinheiro de regociatas) esse tremendo mal-estar e em especial indelicadeza teria sido evitado. Graças a Deus eu nada ganhei com isso. Aliás, ganhei sim. Ajudei a um amigo seu e esta satisfação é uma "comissão" que meu espírito não abre mão de ganhar :-))))))Às vezes coisas acontecem que podem nos levar a precipitações e conseqüentemente a cometer injustiças. Se é que vocês foram tão amigos, demonstre sua amizade dando a outra face e uma oportunidade a ele para que, mesmo terminando a amizade, não fiquem maus sentimentos a corroer corações e mentes. Eu, com 41 anos, sinto que daqui pra frente não tenho mais cabeça para me consumir com maus pensamentos...... Ninguém merece isso depois de uma certa idade..... espero que vocês possam encerrar tudo sem mágoas e guardar lembrança somente dos bons momentos....
PS (eu pensando..... "e pensar que eu vendo suite no Steiguenberg em Dusseldorf a US$700,00 a diária e ter que houvir uma dessas....... :-)))))))) ainda bem que meu lema é.... perder o bom humor, jamais!!!


* * * *

Pena que eu não estou ainda em condições de oferecer a outra face. Ainda estou baqueada. Mas tudo que aconteceu não permitirá que anule os bons momentos que tive graças à companhia daquelas pessoas. Como comentei antes: pena que elas morreram e eu nunca acreditei em ressurreição. Até prova em contrário.

Entretanto, não deletei as fotos nem os e-mails antigos.

Até hoje me arrependo das fotos que destruí e das cartas que queimei ou rasguei quando adolescente. Refiro-me a namorados, é claro. Tudo merece ser guardado, mesmo que sejam páginas negras. Do mesmo modo que acontecimentos históricos vergonhosos – da Inquisição a tantas guerras... Afinal, até o obscurantismo da Idade Média é aceito hoje como uma transição que se fez necessária para o amadurecimento da humanidade... E há também quem cultue os encantos daquele período, coberto pelo mistério e pela ignorância que massacrou tantos inocentes. Do martírio surgiram santos e mitos românticos... e também as obras de arte. Tudo nas trevas... a ciência parou, a busca do conhecimento se estagnou... a ignorância ficou camuflada nos painéis e telas...

* * * *
Vai ver que eu estava sendo feliz em demasia...

Tentarei pensar que tudo que houve foi uma compensação que a vida me reservou para contrabalancear com as tantas coisas positivas que me são destinadas. Principalmente em relação a amigos. Sem dúvida, sou uma pessoa privilegiada... E todos esses acontecimentos me abriram os olhos... Pena que essa abertura seja assim dolorosa... Mas é o que acontece quando nos habituamos a usar óculos escuros toda vez que saímos ao Sol. Nossas pupilas têm preguiça de se contrair...ou então ficamos com medo de criar rugas desnecessárias ao firmar demais as pálpebras.


Depois de um papo cheio de emoções, o Baixinho de Taubaté mandou um e-mail relembrando Charles Aznavour:

Ontem ainda

Ontem ainda,
eu tinha vinte anos,
acariciava o tempo,
e brincava de viver,
como se brinca de namorar,
e vivia a noite,
sem considerar meus dias,
que escorriam no tempo,
fiz tantos projetos, que ficaram no ar,
alimentei tantas esperanças, que bateram asas,
que permaneço perdido, sem saber aonde ir,
os olhos procurando o Céu,
mas, o coração posto na Terra;

Ontem ainda,
eu tinha vinte anos,
desperdiçava o tempo,
acreditando que o fazia parar,
e para retê-lo, e até ultrapassá-lo,
só fiz correr e me esfalfar,
ignorando o passado,
que conduz ao futuro,
precedia da palavra "eu" qualquer conversação,
e opinava que eu queria o melhor,
por criticar o mundo com desenvoltura;

Ontem ainda,
eu tinha vinte anos,
mas, perdi meu tempo
a cometer loucuras,
o que não me deixa, no fundo, nada de realmente concreto,
além de algumas rugas na fronte e o medo do tédio,
porque meus amores morreram antes de existir,
meus amigos partiram, e não mais retornarão,
por minha culpa, criei o vazio em torno a mim,
e gastei minha vida e meus anos de juventude,
do melhor e do pior,
descartando o melhor,
imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros,
onde estão, agora,
agora, meus vinte anos?


Taí o Baixinho... uma pessoa a quem imediatamente perdoei por uma grande mentira. Importou-me mais o fato de ele ter resolvido se apresentar como ele mesmo, ainda a tempo. Importou que ele quis se mostrar real e transparente, não por medo que eu descobrisse ou desconfiasse. Foi porque um dia ele quis ser meu amigo de verdade. Sinto saudades... Faz um tempão que não nos vemos pessoalmente. Eu com minhas dificuldades e ele com as dele, em Taubaté.

Pena que as pessoas mais legais estão tão longe... e muito, muito mais longe, o Fábio... mas em janeiro, ele "desce" para Curitiba... e aí... quem sabe?

Por falar em saudades... Julius foi para Blumenau.... Aaaaaaaai que falta me faz um colinho!

* * * *

Para não dizer que ignoro a família... Hoje é noite de HQ Mix. Não "ganhamos" nenhum prêmio. Mas coube coube a nós a entrega das estatuetas... e as badalações...

quarta-feira, dezembro 11, 2002

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Desde ontem que a Internet tá uma lerdeza só.
Não consegui ver meu blog, não consegui postar.
Fiquei com pena de perder tudo.

Devem ser olhos-gordos.

Mas logo mais vou tomar banho de sal grosso, cortar o cabelo, dar um jeito no cabelo...
Vou enfrentar essas urucubacas e VENCER!
Tenho planos de conhecer novo amigo hoje. Ele é de SJC e vem esta tarde a Sampa. Foram duas semanas de papos entrecortados, mas bem prufundos. Ele é budista.. ehehehe..

Já que "perdi" dois amigos, preciso preencher essas vagas.
Não que tenha limites no meu coração... Só naquele cantinho direito, muito especial...

Consegui contar o que aconteceu para Fábio. Comentário dele:
Que estória mais incrível !!!
Parece enredo de novela, daquelas mexicanas !!!! como é possível as pessoas se transformarem assim ???
Realmente a gente não consegue saber direito o que se passa pela cabeça das pessoas.
Você tem toda razão de deletar esses “amigos” da sua vida.
Espero que você já esteja recuperada deste choque, ate mesmo porque nenhum dos dois merece qualquer minuto de consideração seu. Simplesmente apague, quando faz ao formatar um disquete.


O que eu penso:

As pessoas não se transformam. A essência é a mesma. Algumas conseguem camuflar, esconder as garras por mais tempo. É isso...

A história da humanidade está repleta de casos assim.

O que eu não me conformo é que a minha tão propalada intuição tenha falhado assim.

Mas isso tudo não me faz perder a fé nas pessoas e nem na Internet. Deste universo maluco, tenho grandes saldos positivos. Um deles, que sempre coloquei em primeiro plano é você, Fábio... que em meio a tantos problemas, trabalho, responsabilidades, sempre tem um tempinho para se lembrar de mim, para dizer que está aí... Só isso compensa todas outras agruras.

E estes textos horrosos que tenho postado... Morro de vergonha do "Crianças Cantoras". Tá certo que ele destruiu sete blogs. Mas tem um cuidado todo especial com a redação. Minha desculpa é de que "casa de ferreiro, espeto de pau"

Entre reações surpreendentes, um amigo que parou completamente os contatos depois que enviei a ele o relato do barraco. Ele estava curioso, eu mandei por e-mail os detalhes insólitos. Isto foi porque ele começou a antecipar conclusões e eu perdi a paciência.


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post de 10/12/2002
Por que tem tanta gente que torce contra? Não é ótimo Lula ter ido ver Bush? Se não tivesse o encontro, iam falar... Se tem, falam do mesmo jeito.
Agora ele será nosso presidente. Temos de torcer para tudo dar certo. Há de dar certo. Afinal, não é a vontade da maioria? Nunca houve votação tão consciente. Nunca houve vitória tão emocionante. Mais gente do que a conquista do penta!

Hoje um coleguinha ligou... pra variar, direto com a pergunta de informática. Minha família já reclamou deste meu serviço de suporte grátis.

Depois das consultas de praxe, pra falar de umas baboseiras em importância – isso, depois de jurar que não usa icq nem msn, "essas besteiras", não é que ele resolveu comentar a "troca de comando" da subsidiária brasileira de uma das maiores empresas do setor? Acrescentou que "estava na hora, que ultimamente andava uma porcaria".... tsc, tsc, tsc...
Quando eu revelei que esse "comando" estava a cargo do meu primo e que isso era novidade, ele deve ter caído da cadeira... kkkkkkkkkk! Foi engraçado. Mas, para meu alívio, a mudança de quem fica na cadeira foi apenas do diretor de negócios.


Estou preparando um texto sobre a vida de São Francisco de Assis. Interessante a biografia dele e muito lindo o texto de Frei Jorge Hartmann, que dá a ele o codinome de "irmão sempre alegre". Conta o biógrafo que aos olhos das pessoas comuns, ele era considerado louco, lunático. Certa noite, o frade teria acordado a cidade toda, tocando os sinos da igreja. A explicação: "Meus irmãos, como se pode dormir com um luar tão lindo assim"?

Assim é a "doidice", bem explicou Mário Prata na crônica da semana passada. Ainda bem que acho que também me incluo entre as doidas, nesse grupo incomum de pessoas que têm algo mais do que simples animais.

Hoje liguei para um velho amigo, para finalmente marcarmos um jantar que vem sendo protelado desde o dia 6 de junho. Sugeri sexta-feira. E ele: "só se levar minha namorada junto".
Silêncio deste lado da linha...
E ele: "pra você, eu posso falar... não sou nenhum santo"!

Ehehehehe.. Que bom que não sou apenas eu a encarar uma situação dessa com naturalidade. Puxa vida! Se ele pode, eu também posso ter um "namorado", né?

Que bom!

E viva o fim das convenções, dos rótulos, das coisas "politicamente corretas"!

Como é bom ser feliz sem medo!

Mais um dia acordando às 4 da manhã me deixa assim: doidíssima às 14h.
Como disse Ana Maria Braga: "quero ter sempre borboletas no estômago"!

segunda-feira, dezembro 09, 2002

Dizia minha mãe uma frase muito sábia: "Tanto para o alto como para baixo, não há limites."

É uma grande verdade. Estes dias, enfrentei muitas crises, decepções, expectativas negativas. Estou apreensiva com os rumos da economia, da política, do país, dos negócios...
Mas minha amiga Alice tem tudo isso e muito pior: a saúde dos pais e a reprovação da filha mais nova na escola.

Meu amigo Alberto tem três crianças pequenas, está desempregado e com a mãe completamente esclerosada, numa casa de repousos.

Meu amigo Eduardo anda preocupado com o trabalho, diante da mudança de governo e a saúde da mãe.

Infelizmente dezembro traz mais preocupações do que alegrias. Natal e Ano Novo podem ser apenas um oásis diante dessa confusão.

Minha cabeça pesa... mas quando me lembro de passado recente, de tantas coisas por que passei, vejo que só tenho motivos para sorrir!

Sábado fui com Alberto ver a mãe dele. Está há alguns meses numa casa de repouso. Fomos as únicas visitas daquela tarde quente. Os velhinhos carentes se aproximaram curiosos feito crianças. Olhares vazios, sem sensações. Certamentes todos com a memória vaga como a mãe de meu amigo... Ela, que me conhece há 25 anos, nao se lembrou de mim. Disse que tem apenas algumas imagens enevoadas, feito sonhos longínquos. Saímos de lá com um nó na garganta. Meu amigo, de olhos marejados, manteve-se durão, como todo oriental. Ainda o velho mito de que "homem não chora".

Mesmo diante de todas essas cenas, voltei feliz. Ele agradeceu muito a minha companhia. Disse que eu lhe proporcionei um dia especial. Acredito que sim.

Muita gente deve achar que meu lugar talvez fosse ao lado de minha mãe. Mas ela está bem, feliz no canto dela, curtindo orgulhosa o filho famoso. Não falo isso com ciúmes. Acho que ela não sente minha falta, então posso me dar mais a outras pessoas. Estou sendo justa sim.