quinta-feira, abril 21, 2011

Destemperança





Carta IV O Imperador – Fortaleza, realização dos desejos ocultos, proteção de amigo poderoso (que pode ser oculto). Passos corretos levarão a vitória.





Matar pode ser pela força do pensamento. É possível. O ódio pode ser últil, sim.
Dá pra acabar com alguém? Dá! 




Tarô das Bruxas

domingo, abril 17, 2011

Pedroca

  • Hoje ganhei um presente especial. Não foi hoje. Deve fazer uma semana.
    É mais um anjo de uma asa.  A quem emprestei uma das minhas. E ele me emprestou a dele. Juntos, abraçados, pudemos voar... E vamos seguir adiante!


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    Lua cheia, 19 de agosto de 1983 às 15:35 uma criança chorou.
    Em casa já estavam todos sentados, aguardando um menino que ia crescer e ser criado como um rei, sem pular nenhuma etapa de sua vida.
    Esse menino cresceu andando em tartarugas, brincando debaixo de um pé de limoeiro e sabugueiro. Todos os dias ia com seu avô na padaria comprar uma pacoça e um saquinho de leite. Quando ele voltava, a mãe já não estava mais em casa. Era aquela gritaria, aquele choro desesperador e o medo de nunca mais ver sua mãe. E era um choro tão puro que seu avô até achava graça. O avô entregava o saquinho de leite nas mãos da avó e ia com o menino lá pra atrás da casa, onde ele criava sete tartarugas. Era o único jeito de fazer o menino parar de chorar porque a mãe tinha ido trabalhar. Ele pegava o menino pelos braços e colocava em cima da tartaruga. E o menino, ingênuo, acreditava que a tartaruga caminhava com ele pendurado em seu casco e ria de soluçar.
    Quando cresceu mais um pouquinho sua diversão era perturbar a bisavó. Sim, porque ela era filha de índia com português e tinha um sangue esquentado. Sua diversão era pedir moedinhas à ela e quando ela negava recebia o título de bisa pão dura. Isso era o suficiente pra ela correr atrás do menino pra dar uma palmada nele.
    Às vezes também, ele deitava no chão pra ver o que tinha debaixo da saia de sua bisa e quando ela não via, ele avisava que estava ali:
    “_Toeta (como ela era chamada). Tô aqui ó!” Era a hora que ele tinha que correr muito em volta de um canteiro de 5 pontas que tinha no meio do quintal de sua casa, formando uma estrela.

    Sua avó era um doce! Preparava suco de goiaba todo santo dia. Quando ia levar o menino pra escola, às vezes o rosto dele estava sujo de pasta de dente. Sua avó umedecia o dedo com a saliva e passava no rosto dele pra limpar. Aquilo era a morte pra ele! Sua avó o levava ao parque, às praças, a outros estados, junto com sua mãe.
    E assim foi crescendo o menino, batizado como “JAIME”, numa homenagem feita por sua mãe à seu avô. Mas foi apelidado de PEDROCA pelo velhinho que lhe venerava. Segundo ele, Pedroca era o nome de um boneco que era muito parecido com seu neto. E foi crescendo o Pedroca mais um pouquinho.
    Logo depois resolveu trocar a tartaruga por amigos de verdade. Resolveu brincar com seus bonequinhos de luta debaixo de um limoeiro. E quando somos crianças, um pé de limão pode se tornar uma floresta amazônica. E era assim que o menino brincava. Ele via índios escondidos no meio da mata, tigres ferozes querendo lhe atacar. Mas seus amigos super poderosos lhe guardavam dos perigos da floresta e matavam todos os inimidos com suas espadas.
  •  
    E assim cresce o menino: criado com base cristã, aprendendo a respeitar tudo; a não ser malcriado, a não mentir, a não falar com estranhos e todas aquelas coisas que uma boa família ensina.
    Sua mãe era evangélica, mas o menino mais seu melhor amigo resolveram fazer catecismo. Sua mãe concordou que ele deveria escolher sua religião e permitiu que o filho fosse. Chegando lá, no terceiro dia de catecismo a tia Fátima foi reclamar com sua mãe porque o menino não ficava quieto. Ele ria a aula inteira, atrapalhava a concentração dos outros. A mãe do Pedroca ficou com tanta vergonha e quando foi conversar com ele, ouviu o bizarro argumento de que a Tia Fátima era portuguesa e ele achava estranho ouvir o que ela falava. Então a mãe caiu na gargalhada junto com ele e resolveu tirar o menino do catecismo.
    E de repente vem um golpe do destino: o homem que lhe criara como filho foi morar com papai do céu. Foi aquele choque! E o menino chorou. Chorou porque perdeu um avô que foi seu pai, e infelizmente o coraçãozinho dele parou de funcionar. Todos fizeram o que podiam, mas assim foi! Dia triste, coitado do menino!
    Mas o menino continuou sua luta. Continuou indo à escola, estudando muito!! Às vezes chamavam sua mãe no colégio porque ele era atrevido e brigava com amigos, colava em provas, ouvia discman na hora da aula e quando o professor lhe tomava o objeto, ele só falava que era dele e que se o professor quisesse um teria que comprar. Era conhecido no colégio que foi construído em homenagem à Virgem de Fátima. Coitada da santa, deve ter ficado desorientada com as besteiras do Pedroca.
    E o menino foi esticando e chegou ao final do ginásio. Sua mãe, com muito sacrifício, pagou excelentes preparatórios, explicadora particular e o menino pode escolher onde ele faria o segundo grau técnico. Optou foi fazer Administração de empresas.
    Cresce o menino e hoje já é um HOMEM!
    Um homem bem criado, sensível, organizado, apegado à família.

    E depois de oito anos, seu vovô resolveu ir na casa de sua bisa e leva-la pra morar junto com ele lá no céu. Foi aquela tristeza! Uma velhinha curvada que sentava na pracinha que tinha em frente à sua casa e falava que era pros meninos levaram as mulheres pro meio do mato e fazer isso e aquilo. “_não paga motel não. É tudo piranha. Não gasta dinheiro com elas não. Come elas no meio do mato mesmo.”
    E ela era a diversão da rua. Às vezes ela esquecia de se vestir e ia pra rua pelada. Ficava dando voltas no ônibus circular de seu bairro por mais de 5 horas e dizia pra todo mundo que o motorista era o seu namorado. Ela escrevia cartas de amor, dava um pão com queijo ou mortadela pra ele todos os dias. Assim como os amigos do Pedroca, o motorista também achava graça daquilo.
    E essa graça tinha partido de vez. Era chato saber que não mais teria esses momentos em sua rotina.

    Pedroca terminou seu segundo grau e já com 18 anos resolve sair de casa pra ser independente.

    Quando um ano depois, seu avô junto com sua bisa decidiram visitar sua família de novo e levaram sua mãe embora.
    Esse dia foi ENLOUQUECEDOR! Pedroca achou que ia ficar louco! Por cinco segundos seu cérebro parou de funcionar. Era um choro de desespero! Fez tudo o que podia fazer pra alegrar a mulher mais importante de sua vida!
    Sua mãe era seu espelho. Ele às vezes ficava parado só olhando pra sua mãe cozinhar, lavar roupa, e lhe admirava de uma maneira absurda. Todos os dias tinha que lhe dizer que a amava mais que tudo! ISSO HAVIA ACABADO!
    Quis se revoltar com Deus, xingou, gritou, berrou... Mas Deus, em sua infinita sabedoria, fez com que o TEMPO curasse a dor, fez com que a resignação fosse agora sua mais nova rotina. E o Pedroca foi crescendo. Agora todo seu amor, ternura, amizade, carinho, fidelidade, zelo era com sua avó.
    E passam-se mais 5 anos, adivinha:
    Sua mãe estava com muita saudades de sua avó e resolveu ir busca-la.
    E o menino perguntou à Deus:
    “_Porra, tu tá de sacanagem comigo né? Tenho 27 anos, tu já levou meu avô, já levou minha bisa, minha mãe e agora a minha avó? Que caralho hein!Minha bisa já era velhinha, eu concordo! Mas pq que minha mãe e meus avós tiveram que ir agora cacete? Eu preciso delas, e agora eu vou fazer O QUÊ? Quer me levar também? Me leva caralho!”
  • E Deus, em sua infinita misericórdia, riu do jeito que ele falou e lhe respondeu assim“_Meu filho, vc só tem 27 anos, mas não é o único que passa por isso. O ciclo tem que continuar. Não posso parar a terra porque você está triste. Confia em mim, confia em você, confia nos teus amigos, eles são anjos que mandei pra cuidar de vc. E toma esse DVD aqui. Depois que você ver, vc vai entender a minha mensagem. Filho ingrato da porra, seu viado safado!”

    Aí eu coloquei o DVD. E CHOREI, chorei, chorei...
    Porque vi que nas minhas loucuras infantis, nas tartarugas, nos choros, na vontade de me tornar independente, na vontade de dizer que amava minha família e em mais um milhão de coisas eu VIVI TUDO!! Vivi coisas que talvez um homem de 50 anos não tenha vivido.
    Eu disse “eu te amo” mil vezes por dia pra todas as pessoas que eu amei. Eu recebi abraços, educação, conforto. E vi que é bom demais saber que eles sabiam o quanto eu os amava, lhes admirava. E hoje só agradeço, com um amor infinito que existe em mim, por TUDO que eu tive. Eu não tenho uma casa, eu não tenho um carro, eu não sou rico; mas a minha maior riqueza, com toda certeza, é a última frase que a última pessoa que me criou me falou.
    Ela estava dodói, deitada, eu fui pra casa dormir e dei um beijo nela. Falei: “_velhinha, vou pra casa mimir e minha tia vai mimir aqui com vc tá? Fica boa logo pra vc ir morar junto comigo! Te amo!

    Ela me puxou com o braço direito, abriu os olhinhos e disse: “_Meu filho, Deus te abençoe!”. E fechou os olhinhos. :( Já não podia me falar mais nada.

    Tem como não ser feliz? Tem como não agradecer à Deus? Tem como se revoltar depois de ouvir isso? JAMAIS!

    Eu tive a melhor família do mundo! E se um dia Deus pudesse mandar isso aqui pra eles, eu ia perguntar ao meu avô onde estão as tartarugas, com certeza devem estar vivas em algum canto e ia lhe dar uma paçoca.
    Ia perguntar à minha bisavó se ela me dava umas moedinhas. Ia reclamar muito com a minha mãe porque ela não esperou a neta nascer. E ia falar com a minha avó que ela era uma velha maluca e que ia leva-la ao baile da terceira idade pra ela arrumar um macho. Ahuauhauhuha E ela ia me xingar, e eu ia fazer cosquinha nelae no final eu ia fazer o de sempre: beijar o braço subir o pescoço e fechar o beijo lambendo o rosto dela. Auhsauhshu
    Aí ela ia gritar: "_Pára PORRA! Nem depois de velha a gente tem sossego? vai arrumar uma mulher ou um macho, sei lá. mas me deixa em paz"

    E ia me dar um tapa no braço. auhauhhua
    Aí depois de 5 minutos ela ia começar a me atentar só pra eu fazer cosquinha nela de novo.

    Família: eu amo demais!!! Eternamente VIVOS!!! AMO MT! OBRIGADO MESMOOO!!!!
    EU SOU O QUE VOCÊS ME ENSINARAM! EXATAMENTE DO JEITINHO DE VOCÊS! E QUANDO QUISEREM, PODEM VIR ME VISITAR. MAS SE ME LEVAREM PRA MORAR COM VOCÊS AGORA EU VOU FICAR MUITO PUTO. PORQUE NÃO FIZ NEM A METADE DO QUE EU QUERO. AUHAUHAUHHUAHUAHUAUHAHUHAH
    HUAUHHAUHUHA
    AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
    OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO VCS!


    Texto de Jaime Fernandes, postado em seu Facebook no dia 17 de abril de 2011 - pela manhã, enquanto sente o cair da ficha da partida de sua avó querida