segunda-feira, agosto 20, 2012

Mais uma despedida...


Não escrevi mais por absoluta falta de coisas interessantes e concretas. 


Também aos 68 anos, como meu amigo Al ber to, morreu ontem o jornalista Roberto Hirao. 
Foi ele quem  me abriu a primeira porta na então Folha da Manhã, indicado por outro saudoso amigo, José F i o r o n i  Rodrigues, ex-colega na Abril. Hirao atendeu-me com carinho de irmão mais velho e disse: "Você pode tentar, mas não vai aguentar de cara o ritmo de um jornal e vai se queimar". Diante da minha insistência, falou:"Se quiser tentar na revisão..." Então, comecei por lá, fazendo um teste.



Menos de um ano depois, estávamos trabalhamos juntos. Eu, como redatora de Economia e ele, editor da primeira página da F o l h a  da T a rde. Ainda me lembro da minha cara de pavor quando ele vinha, sorridente pedir: "Oito linhas cheias de dezenove!"E eu negociava: "Sobre o Decreto-Lei? Impossível!" E ele olhava pras suas anota~~oes e oferecia: "Fica com onze linhas de dezessete."

Apaixonado por tecnologias, Hirao era profundo conhecedor de informática, sendo um dos jornalistas que mais entendia do assunto que chegava às redações como um bicho de sete cabeças. Dominava o sistema implantado no jornal e sabia explicar os porquês daqueles comandos que tínhamos de transcrever para formatar um parágrafo, com base em códigos originários de diagramadores e pestapes, com nomes de fontes, medidas em cíceros e paicas.

Sem vaidades, muito raramente ele assinava matérias. Sempre trabalhou nos bastidores, anonimamente. Outra paixão era cinema, em especial o japonês, cujos detalhes históricos conhecia muito bem. Era esse o tema que ligava F i o  r o n i a Hirao, que se conheceram numa rádio da colônia japonesa. Duas pessoas opostas. Primeiro, solteirão de origem italiana, se contentava com duas mudas de roupa que duravam uns trinta anos. Sem filhos, careca, era muito sovina. Hirao, descendente de japoneses, deixou quatro filhos, era generoso e tinha vasta cabeleira. Era elegante mesmo corroído pela doença.

Sendo vizinha da Folha, costumava ver Hirao de longe, sem coragem de me aproximar, com receio de constrangê-lo... 
Estou triste.

Uma bonita homenagem de quem o conheceu melhor e com ele esteve nos últimos anos: http://kapores.blogspot.com.br

É estranho o sentimento que toma conta de mim. Sem dúvida, minha dor parece maior com pessoas da mesma origem. Apesar de poucos contatos, uma ligação especial. Creio que recíproco... Ele era especialmente tolerante e condecedente comigo. E me recebeu naquela tarde em que fui procurá-lo, em especial consideração ao meu sobrenome. Sei que muitas vezes ele mesmo reescrevia minhas chamadas em vez de devolver. Foi mesmo um grande mestre para muitas gerações de jornalistas. Sorte de quem teve a oportunidade de aprender com ele!