sexta-feira, novembro 23, 2001

Vou parar de me preocupar com os que não me entendem. Acho que cada um interpreta as coisas conforme o que vai na alma. Os que estão tristes ficam tristes por qualquer coisa. Quem tem grilos vê os bichinhos verdes em qualquer canto. Se eu sou maluca, sou maluca saudável.

Chega de lamentações. Daqui a pouco vou ver "Vítor ou Vitória" e tirar a prova. A crítica falou bem no começo, mas agora tem gente que saiu no meio.
Depois eu conto o que achei.
Muitas pessoas acham que meus textos andam tristes.
Eu estou melancólica, hipersensível. Estou intrasigente, intolerante. Não é tristeza.

Acabei de receber um e-mail do Fábio, em resposta a outro que enviei na noite de ontem, dando condolências pela morte da tia dele. Eu estou sensível e fiquei emocionada ao saber que ele se lembrou de mim nesta hora. Acho que isto é afinidade de fato.

A tia do Fábio se matou. Também deu um tiro no ouvido, igual meu irmão. Só quem passou por esta situação com alguém próximo faz idéia do que é viver este drama. Só quem tem sensibilidade compreende que não dá para julgar. E tem certos comentários que a gente só aceita ouvir de quem a gente gosta.

Fábio é um amigo tão importante para mim quanto Ângela. Ele está longe, mas sempre perto do meu coração. Sabemos disso.

quinta-feira, novembro 22, 2001

Incompreensão, interpretações erradas dos que lêem este blog têm me desestimulado a escrever. Muitas das reações equivocadas me deixam frustrada como profissional de comunicação. Parece aquela coisa de “casa de ferreiro, espeto de pau”.
Do mesmo modo que coloquei nos primeiros posts, ainda no extinto Desembucha, continuo com a mesma alegria de viver, mesmo nos momentos em que a luta diária se torna exaustiva. Embora minha vida “amorosa” não seja um modelo, acredito que sou uma pessoa emocionalmente resolvida.

O fato de continuar na minha rotina de conhecer sempre novos contatos, novos amigos masculinos, não indica que eu esteja infeliz. Significa apenas que não estou fechando os olhos para novas oportunidades. Quanto mais conheço outras pessoas, mais certeza eu tenho de que não existe ninguém como Julius. Claro que eu estaria mais saltitante se não fossem tantos desencontros. Mas isso não me aborrece. Estamos curtindo a saudade... Ontem ele escreveu: “Ainda sinto teu cheiro... tênue, mas sinto...”. Meus olhos se encheram de lágrimas. Mas só porque fiquei emocionada. E nunca deixamos de nos falar. Falamos de coisas banais, dos nossos trabalhos, dos filhos, do vestibular, dos problemas que enfrentamos. Não dá nem pra namorar por telefone. Nunca fizemos isso. Agimos com naturalidade. Mas a cumplicidade e o elo estão presentes em todas as entrelinhas dos diálogos. Eu sempre torço por ele e sei que ele também por mim. Essa certeza é muito grande, com os dois pés no chão.

Na sexta-feira depois do feriado, fui tomar um café com Jimmy, judeu americano de origem polonesa, que me pescou no White Pages. Charmoso, elegante, culto, professor de MBA e colunista da Exame. Divertido, bem-humorado, com lindos olhos azuis por trás de óculos cristalinos de lentes bem talhadas. Mas nem tudo é perfeito: cinco casamentos, seis filhos e quatro netos! Como diz minha amiga Blaquita, “esse homem é um perigo internacional!” Eh, eh, eh!

Ele fez um baita interrogatório sobre os mais variados temas, colocando mil questões, de assuntos profissionais a pessoais. Falei com transparência e sinceridade, só com certo cuidado na construção de frases (senti-me avaliada feito mercadoria). “Você é muito interessante!” – repetia ele o tempo todo. Perguntou-me se já fiz alguma terapia na vida. Quando respondi que não, ele ficou admirado e comentou que eu sou uma pessoa “muito bem resolvida”. Fiquei envaidecida com essa avaliação. Mas um pouco frustrada que acho que ele não se interessou muito por mim... Ah, mesmo que a gente não queira, sempre desejamos ser cortejadas! Faz parte da natureza feminina.

Ah... fomos ao Franz Café e quando nos sentamos, ele revirou os bolsos e disse que deixou a carteira na empresa. Queria que fosse com ele buscar. Preferi arcar com os quase seis reais a ir até o tal escritório, na Paulista, num dia em que não deveria ter mais ninguém trabalhando. Eh, eh, eh... Vai que ele fosse doido… Nunca se sabe, né?

segunda-feira, novembro 19, 2001

Ontem morreu a dona Berta, tia de minha grande amiga Ângela.
Também foi o dia do vestibular de minha filha.
Depois de deixar a garota no local do exame, fui ao velório, no Araçá. A despedida foi emocionante, porém longe de tristezas. A família é verdadeiramente cristã, tanto é que o filho de dona Berta, José Manuel, é padre. Ele veio há umas duas semanas de Portugal, preparado para esta missão. Celebrou uma missa linda. Ela estava com 79 anos, tinha câncer, e aceitou tudo com dignidade e resignação. Sabendo de seu breve destino, a senhora escolheu pessoalmente as roupas que usaria e as músicas que deveriam ser tocadas na cerimônia.
Acho que minha caixa de lágrimas ainda está bem cheia, pois não pude deixar de derramar algumas.
Aproveitei que estava no Araçá para uma visitinha rápida a minha amiga Walkyria. Procurei a administração do cemitério e localizei a capela pelo nome dela. Não há ainda placas ou inscrições, mas pela porta de vidro, pude matar um pouco de saudades com uma linda foto em preto e branco que colocaram dela. De novo, aquela sensação esquisita de não compreender como agora, passados 10 anos, ela continua ainda jovem, enquanto o tempo passou para nós que estamos vivos.
Tudo que passei ontem apenas aguça minha sensibilidade. Não estou triste.