sábado, março 09, 2002

Ontem foi Dia Internacional da Mulher
Foi a oportunidade para algumas pessoas puxarem papo. Também para outras retomarem contato.
Meu amigo Eduardo escreveu:

Que todos seus misteriosos e mais profundos desejos
se realizem. Mas juizo, hein!


Como sempre acontece nessas ocasiões, minha sobrinha mandou um e-mail.

Obrigada.
Hoje estou melhor, depois de um café da manhã especial às mulheres (oferecido pela empresa)...
Ontem é que eu dei uma baqueada (fiquei triste) depois de associar a data com alguns acontecimentos passados... Tentei não pensar muito a respeito. Depois passou.


Eu escrevi para ela:


Nao pense que comigo também nao aconteceu a mesma coisa no dia de ontem (dia 7)...
Todos nós lembramos..Para mim, essa lembrança veio de um modo muito estranho, na noite de anteontem...
Encontrei um amigo e fomos tomar um café. Comentei com ele que meu modo de encarar a vida mudou bastante depois das perdas recentes. E, de repente, me toquei sobre a data. Contei a ele o que aconteceu... frisando que até hoje nao compreendia bem se fora extrema coragem ou covardia. (particularmente, acho que foi muita coragem). E ele me disse que também nao saberia como classificar, pois perdera uma filha nas mesmas circunstâncias, há quatro anos. A garota faria 19 anos. Não consegui falar mais nada. Nos abraçamos silenciosamente. Meus olhos se encheram de lágrimas. Senti que os dele também.

As lembranças trazem melancolias, tristezas.
Mas devemos encarar tudo como um aprendizado para o nosso crescimento.
beijos e abraços apertados para você!



Comentário da sobrinha:

"Coragem, tia, coragem!

Claro que o suicídio de meu irmão foi um gesto de muita coragem sim. Quantos de nós não temos vontade de fazer isso?

Entre os japoneses, é o único jeito de se redmir de alguma situação insustentável.
Em nenhum momento posso criticar ou condenar.
E fico muito chateada com os comentários de pessoas que não podem jamais compreender isso...

Sinto que apenas quem viveu de perto um drama desse tem alguma idéia do tamanho...

E a solidariedade... ainda hoje me lembro do telefonema do Fábio,de Angola... E da Ângela vindo de repente me abraçar...
E do infeliz comentário da Vera poucos minutos após a notícia: "Meu tio fez isso. Deu um tiro também. Voou miolo pra todo lado."

O fato de meu novo amigo ter ouvido calmamente a minha história me tocou muito...

Em certo momento, ele disse:

"Há um ditado chines que diz que só se deve falar quando se tiver certeza de que as palavras serão mais construtivas que o silêncio... "

E, segurando minhas mãos, disse:

"Sente apenas..."

Eu me senti muito pequena diante da dor que ele deveria sentir...

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