quinta-feira, outubro 10, 2002

Ultimamente não consigo falar só de coisas boas. Tá difícil...

Vejam o que escrevi para meu grande amigo Eduardo. Logo a seguir, a resposta dele. Mas tentei enviar meu recado a mais gente. Uns não entenderam, outros me ignoraram... Fábio também ouviu meu apelo e me escreveu. Duas vezes. Uma ontem à noite, em pleno trabalho às 21h. Fiquei emocionada. Chorei de novo. Mas levantei a cabeça. Mas continuo me irritando. Com os que pensam que eu não sou PT e com os que têm certeza que eu sou PT. Que droga!

Nessa confusão toda, não consegui contar nada a Julius. Dois desencontros... Vamos ver na segunda...


Estou agoniada. Não sei bem se é o calor, o resultado das eleições ou o que. Acho que o clima geral, de baixo astral, está me conduzindo. Estou tentando levantar a cabeça e trabalhar. É duro lidar com humor quando a gente está sem humor algum, ou melhor, de muito mau humor.
Comecei mal a semana, ao ligar pro Alberto. Havíamos ficado de nos ver no dia da eleição, mas eu não o procurei pois senti que não seria bom para mim. Sabia que ele votaria no Maluf e no Cunha Bueno. Não estava a fim de discutir o assunto. E dizem que "política, futebol e religião não se discute". Ao mesmo tempo, fiquei me sentindo culpada por não ter forças para prestar um gesto de solidariedade a quem tanto espera de mim. Eu sei que represento para ele muitas coisas positivas. Ele costuma dizer que eu sou hoje o único elo de ligação que ele mantém com o mundo culto e civilizado.
Enfim, na segunda, liguei para o Alberto. Ele começou perguntando se candidatura do coronel Ubiratan por acaso fora impugnada, pois ele tentou votar nele e não conseguiu. E acrescentou que votou no Conte Lopes. Eu fiquei chocada. De repente, numa cena de há uns 23 anos, lembrei-me dele, no apartamento da Pedro Taques, recomendando a votação para Luísa Erundina, para a Câmara Municipal. Foi a primeira vez que ouvi falar de uma fantástica nordestina, formada em Ciências Sociais, e defensora das causas do povo. Votei nela e a minha faxineira também.
Fiquei muito triste. Até chorei, depois de dizer para ele tirar o ódio do coração, não defender a pena de morte e a propagação de mais ódio. E ele ainda comentou do meu irmão, se eu acharia justo se acontecesse alguma tragédia similar ao massacre do Carandiru e ele fosse incriminado como o coronel Ubiratan. Aí, me lembrei de um reveillon que acabou com 3 mortes, em Venceslau, depois da passagem do ano com negociações. Foi consequência de horas de estudos estratégicos para solucionar o problema com menos sangue... A família toda reunida, acompanhando dezenas de telefonemas ao longo da madrugada. E comentei que eu, com tudo que tenho acompanhado, ainda acredito na recuperação do criminoso e procuro fixar na mente as histórias positivas. Citei até o caso de um ex-caminhoneiro, que matou umas cinco pessoas, e é hoje um exemplo de liderança e trabalho na cadeia de minha cidade. Aí, o Alberto falou: "e as família dos que ele matou"? Então eu respondi que não sei dessas famílias e que não seria matando o sujeito ou o deixando em condições desumanas que se reverteria o que ocorreu. O mais importante é que agora ele resolveu mudar e colaborar para possibilitar vida mais digna a outros detentos, que também têm famílias. Lembrei também que no massacre do Carandiru as vítimas foram casuais. Terminei dizendo ao Alberto que ele teve a capacidade de estragar meu dia e talvez a minha semana, contaminando com tanto baixo astral. Ele se desculpou. Eu chorei bastante depois disso.
Lembrei-me de tantas coisas... até da briga que tive com certo “jurista” sobre o tratamento humanitário dado aos detentos.


Sua mensagem foi a única que recebi neste novo e-mail. Signfica que você é uma amiga fiel e que o pessoal de Informática do instituto não sabe escrever "yahoo" de forma correta, já que pensei que o processo de aculturação norte-americana estava mais avançado e só repassei o e-mail por telefone. Resultado: centenas de mensagens importantíssimas, que poderiam até conter o segredo para o sucesso futuro da humanidade, foram para o espaço junto com a família Robson e o Dr.Smith. O Robô foi visto recentemente em um baile funk do morro da Mangueira passando-se por segurança.
Recebi sua mensagem e fiquei surpreso com sua reação às palavras do Alberto. As vezes imagino a amizade como um passeio que se faz a dois. No nosso caso, o passeio é agradável, divertido,cheio de bom humor. Afinal, rimos de nossas mazelas e incertezas como se elas fizessem parte de uma ampla obra literária escrita com certa ironia por Deus. E esperamos que nossas vidas continuem uma comédia leve por muitos e muitos anos. Afinal, quem gostava de tragédia não eram os gregos? Aqueles homens que andavam de sainha e... deixa prá lá.
Mas acho que você não deve ficar triste. O Alberto talvez esteja tão envolvido no labirinto que criou que nem o fio de Ariadne o ajudaria a sair no momento.Espero que ele sobreviva ao encontro como Minotauro. Talvez até já se tenha transformado nele, já que você observou a mudança pela qual ele passou nesses anos. Você tentou mostrar a saída do labirinto mas talvez ele não queira sair. Já pensou nisso?
Toque sua vida com prazer. Seja a adorável Sue Lee de sempre. Seja a adolescente danadinha que apronta em silêncio e fica depois dando risinhos tímidos. Seja a Suely destemida e corajosa que saiu de Bragança para mergulhar na cidade grande, ou pelo menos na Santa Cecília ou Santa Ifigênia. Seja a Suely admirável, prestativa, responsável, inteligente, generosa e acima de tudo, bem humorada.
Você é muito mais que esses problemas rotineiros e mesquinhos que surgem para dar um tempero à vida. Portanto, olhe pela janela, veja o lindo dia que está fazendo, veja como a cidade, uma vida coletiva, vai se arrastando e digerindo o dia. Veja com carinho sua filha e como, em muitos momentos, ela te deixa orgulhosa mesmo que você não queira. Veja o carinho e a compreensão de seu marido e o caminho que já trilharam juntos e as risadas que forneceram ao mundo. Quantas pessoas tristes não sorriram por meio e graça de vocês.
Pense na força e energia que possui para transformar o mundo. Ou pelo menos a sala ou a mesa de trabalho. Mas também vá ao seu tempo e não se cobre por aquilo que está além de sua responsabilidade.
Um abraço ensolarado e com brisa de mar para você

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