quarta-feira, outubro 13, 2004

O feriado foi sem crises maiores.
Pelo menos fiquei inquieta diante da possibilidade de receber telefonema de uma pessoa apenas. Minha irmã viajou e fiquei livre do encargo de emprestar meus ouvidos a ela. É terrível, mas isso me pesa muito.

Na noite de quinta para sexta, tive um sonho perturbador. A cena era do velório de meu pai (ocorrido há 25 anos). Estávamos na sala da casa onde passei minha adolescência e minha amiga Alice foi lá com a mãe dela, falecida há seis meses. A senhora usava um vestido estampadinho de flores miúdas em tom lilás, sobre folhinhas verdes. Apesar da situação, não era um ambiente triste. Na sexta, liguei pra amiga contando o sonho. Pouco depois do almoço, quando estava dentro do ônibus, na praça da República, tocou o celular. Era a amiga, que falou: "Sabe quem morreu?" Foram dois segundos de suspense e susto. E ela: "Acho que tem algo a ver com teu sonho de ontem. Acabei de ver na tv que morreu Fernando Sabino". Baixou em mim uma imensa tristeza. Confesso que me perturbou mais do que a recente morte de meu tio... Sim, eu tinha uma ligação muito especial com Fernando Sabino, principalmente desde "E o gato sou eu", em que ganhei o concurso.

Depois, fiquei pensando nas razões do sonho.

Na semana passada peguei na estante vários livros pra reler. Catei os do Érico: "Música ao Longe" e "Olhai os Lírios do Campo". Comentei sobre essa preferência com o Professor de Literatura. Ao manusear "Solo de Clarineta", a imagem de Érico, estampada na capa, me lembrou meu pai. Não pela semelhança física. Talvez a lembrança esteja ligada ao fato de terem morrido com a mesma idade, de forma semelhante. E quando penso na morte deles, consolo-me achando que foram abençoados por partirem antes da decadência, no auge da maturidade, muito lúcidos. Confesso que esses pensamentos me remeteram a F. S a bino, que andou tendo uns repentes senis (por exemplo, a separação e exclusão da ex da autobiografia). Deu pena...

Ontem, fui ao mosteiro de São Bento, com Alice. Entre os beneditinos, senti-me em uma cena de "Em nome da Rosa". Nessa hora, lembrei-me de Li. Baixou imensa saudade... Tive ímpetos de falar do novo amigo para Alice. Mas deixei pra lá pois a explicação seria longa demais e acho que o histórico de nosso encontro - pela Internet - só tem sentido para poucos. Minha experiência mais do que prova que quem está de fora considera esse tipo de contato no mínimo estranho.
Depois da missa, ao som de música gregoriana, no fantástico órgão do mosteiro, seguimos a pé pelas ruas desertas do Centro Velho, rumo à Rua da Glória, no começo da Liberdade, onde fomos jantar.

Ao nos dirigirmos para o ambiente dos fundos do restaurante, deparamos com uma cena inusitada, merecedora de um registro fotográfico. Entretanto, não sei por que, não tive a coragem de tirar a máquina da bolsa... O pessoal do restaurante estava reunido nos fundos, devorando dezenas de PIZZAS!
Eu ri muito e falei: "Não acredito!" Mas nao senti nenhum senso de humor do dono/gerente /maitre, aquela versão nipônica de Edgard Le Grand, da atual novela das oito. O homem ainda não tinha iniciado o expediente, quando se curva em mesuras à moda dos comerciantes do Japão... Ainda estava ali um nissei brasileiro apreciador de pizzas.

Para não constranger o pessoal, nos acomodarmos no tatami, lá no meio do primeiro ambiente.
Saboremos um fantástico udon e um modesto yakissoba. Também nessa hora, lembrei-me de Li e da comparação feita por ele a "Montalbano", que está registrada entra minhas futuras leituras.
No restaurante, rindo das mesuras do "maitre", fiquei relembrando das pessoas com que estive ali... e também pensei nas com quem nunca fui. Deu também certo peso na consciência não ter marcado um almoço ou jantar com Lúcia, que passou o feriado prolongado por aqui. Talvez se ela lesse blogs e passeasse mais pela Internet compreendesse um pouco mais as transformações do mundo!

Foi uma boa noite de reflexões, talvez com a alma elevada pelos cânticos dos monges... Pena nunca ter aprendido latim!





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