quinta-feira, junho 02, 2005

Pequeno Principe

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Foi única frase que guardei de O pequeno príncipe.
Eu me lembro da frase toda vez que me vejo às voltas com uns amigos considerados "esquisitos". Às vezes eu mesma chego a ter raiva deles. Mas é raivinha mansa feito bronca com irmão ou filho. A gente fala e passa. O afeto continua, mesmo que a afinidade nem sempre seja grande.
É o que acontece com meu amigo Alfredo. Quando o conheci, ele era tradutor técnico, dirigia uma equipe especializada em uma multinacional. Aparecia de paletó e gravata na faculdade. Tinha camisa com monograma. Quinze anos mais velho do que eu, aos 35 anos, tinha a voz pausada e envelhecida, como se fosse um fumante inveterado. Passados mais 27 anos, quase nao mudou. Ao contrário, de barba e cabelo revoltos, tem um ar até mais jovial do que naquele tempo. Só os cabelos brancos denunciam a idade.
Pouco depois da faculdade, ele perdeu aquele emprego, depois de uma discussão. Foi acusado de racismo e custou a arrumar outro. Conseguiu. Entre ida ao Japao, como dekassegui e trabalho em uma estatal e revista religiosa, foram outros dois altos e baixos. Nesse interim, fui eternamente cativada quando ele deu meu nome à primeira filha. Mais dois casamentos e 4 filhos, lá está o meu amigo às voltas com uma cirurgia delicada, na coluna e na bacia. Não fala com a única irmã e a mãe vive em outro mundo, em uma casa de repouso. Parece coisa de novela. Não pensem que sao só desgraças. Tem uma jovem e dedicada esposa, mãe dos 3 últimos filhos, que cuida dele quase com veneração. Quem sabe, tudo muda na cabeça do meu amigo após a cirurgia. Para melhor.

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