segunda-feira, outubro 31, 2005

Saudades

Hoje fez um ano que minha mãe morreu. Espero ter encerrado esta fase de tristezas. Ontem, finalmente, criei a coragem de entrar pela primeira vez este ano na casa em que ela morava. A última vez foi na cerimônia dos 49 dias, em dezembro do ano passado. Consegui encarar tudo numa boa e nem fiquei tão impressionada, apesar da sala estar ainda exatamente como ela deixou. Acho que não senti tanto pois ela havia mandado reformar os sofás no ano passado. No decorrer da semana passada, procurei nem pensar no assunto, pra poder adiantar meu trabalho. Consegui.

Completamente atrapalhada com outros problemas, quase me esqueci do aniversário de minha sobrinha de 11 anos, a caçula dessa geração. Ela é filha do segundo casamento de meu irmão número 4, que se foi há quatro anos. Sem saber o que comprar, dei a ela um Harry Potter. Fiquei de coração apertado quando soube que até hoje ela ainda não leu nenhum livro "de verdade". Só aqueles pequenos, infantis, muitos dos quais eu dei quando ela aprendeu a ler. Depois, nem me lembrei de presenteá-la com livros. Haviam necessidades mais urgentes: roupas, calçados, um kit do Boticário...

Lembrei-me da minha quinta série, a antiga primeira série ginasial, que cursei em Sampa, em 1969. O primeiro livro que mandaram ler: Iracema. Foi um horror. Não consegui fazer o resumo sozinha naquela "ficha de leitura". Errei algumas perguntas, tive uma nota sofrível. Acho que foi 6,0. Compensei no bimestre seguinte com adorável Música ao Longe (que tenho até hoje) e que se tornou o estopim de minha paixão por Érico Veríssimo. Foi só uma trégua, no semestre seguinte, vieram: O tronco do ipê e Helena.
Minha briga com Português teve rounds piores. No ano seguinte, de volta à minha cidade natal, no interior, uma matéria extra: Latim! Tive aulas de adaptação e tentei de todas as maneiras penetrar no mundo das declinações. Mas errava tudo: ablativo, genitivo, acusativo... Se fosse grego, não sei se seria pior. Ainda bem que as otas de Latim e Música não nos impediam de passar de ano... Nem fiquei traumatizada. Afinal de contas, o Brasil era tricampeão do mundo! Subíamos todos na carroceria da C-10 e íamos participar do corso: eu e meus três irmãos solteiros, que já eram adultos. Eu era muito feliz... e sabia! Tinha também a minha calça Lee americana e um secador SpamJet!

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