quinta-feira, novembro 03, 2005

Dizendo as mesmices

Repito mais uma vez o de sempre: incrível como acabamos gostando de pessoas que conhecemos só pelo blog.
Acompanho sempre a vida do Luís, da Kate e da Raquel, cujos links estão aqui. Vejo o desenrolar da vida desses jovens e vivo suas conquistas, alegrias e desencantos.
Hoje fiquei muito chateada ao saber que Raquel deixou a faculdade... No meu aniversário ela me mandou um e-mail tão lindinho. Foi o mais bonito dos cumprimentos, a sensação de uma amizade verdadeira. Percebi que ela disse coisas engraçadas pois notou o quanto eu andei em parafuso, a ponto de estar prestes a mudar a chamada para "quase cinquentona com muitos ataques de nervos"... Entre outras coisas, ela me disse: "se a vida começa aos 40, você só tem 8 anos". Ao ler isso, sorri e relaxei Parece que meu dia ganhou novo colorido e pude comemorar, comendo muitos doces sem culpa!

Mais tarde, antes de dormir, aproveitei pra me lembrar dos meus 8 anos. Era final do primeiro ano do grupo escolar. Choveu muito naquele ano e a professora da escola rural faltou muitos dias. Mal terminamos a cartilha. Mas, embora precariamente, estava alfabetizada. Logo faríamos o temido exame final, enviado pela delegacia de ensino da cidade. Naquele tempo funcionava assim. E se não conseguíssemos a média 50, o ano estaria perdido.
A escolinha era fraca, meus coleguinhas eram quase todos filhos de bóias-frias. Éramos em uns 60 alunos, ocupando três fileiras de carteiras duplas, uma fileira para cada série. Quarto ano, só na cidade. Eu era uma das poucas meninas que iam calçadas para as aulas. Nos dias de chuva, usava chinelos de borracha, ainda antecessoras das havaianas. Chamava-se tyo-tyo. Pronunciávamos tio-tio. Só muito tempo depois me dei conta de que significa borboleta em japonês. Eram aquelas de borracha colorida e mal-cheirosa. Daí a razão das havaianas serem aquelas que não soltam cheiro.

Pouco depois de completar 8 anos, soube que no ano seguinte eu iría para a cidade. Rúbi, um menino de 12 anos que ainda cursava o terceiro ano, me falou: "Você vai virar dona Sílvia e nunca mais se lembrará de mim." Jurei que não o esqueceria. Não o esqueci, mas nunca mais o vi. Quando voltei ao sítio alguns anos depois, a casa em que eles moravam, na beira da estrada, havia sido demolida.

Na última eleiçao municipal, ao conferir os vereadores eleitos na pequena cidade (naquele tempo só tinha duas ruas e nem era município), vi um nome: Delza Evangelista. "A irmã de Rúbi! Com esse nome só pode ser ela!" - pensei. Nunca soube o sobrenome deles, mas esse nome... só podia ser ela! Procurei no guia de telefones e liguei. Cumprimentei-a pela eleição e perguntei se tinha um irmão... Tinha sim, mas nenhum Rubens, o Rúbi. Olhando no Google, descobri que há muitas Delzas Evangelistas... a minha coleguinha loira dos meus oito anos certamente está muito longe da Internet.

E daqui a 40 anos, quem estarei procurando? Por onde? Quem sabe, tentando sintonizar a frequência dos meus chips para me comunicar com Raquel, uma historiadora famosa, que se especializou em pesquisas cyberarqueológicas, restaurando caches de blogs. Também procuro retomar contato com Kate, que depois de ganhar o primeiro Nobel de Física para o Brasil, se mudou para Vênus. Será que terei pique para viajar até a Lua para, finalmente conhecer Luiz ao vivo, em sua empresa que edita poemas transcritos em raios que brilham nas noites de Minguante? O Professor de Literatura, que tem quase a mesma idade que eu, dirá que bom mesmo era ler na tela do computador. Legal era do Flash Gordon no papel...

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