quarta-feira, outubro 17, 2001

Lamentos (segunda dia 15)

Hoje quem está inexplicavelmente triste sou eu. Estou chorosa desde ontem.Vagando por pastas antigas de CDs perdidos, encontrei este texto. Creio que copiei do santinho que distribuíram na missa do Matt. Não sei o que me acontece. Creio que são os astros, o que minha amiga Cris (agora na Guatemala) chama de "quarentena astral". Creio que é real,
acontece sim. Não se trata de autosugestão. Ai, minha nossa. Já chorei e
comprimi as lágrimas umas tantas vezes hoje. De repente me lembrei daquela missa na Santa Cecília com folhas de carambola. A cena veio nítida. fotográfica, na minha mente. Ela me remeteu a outras lembranças. Ao dia em que a Ju telefonou. Foi no final de novembro e não de outubro. O inesperado telefonema da Ju aconteceu no dia 28 de novembro, dia em que conheci Fábio. E então, me lembrei do Fábio, vi as cenas de Lageado na TV e bateu uma saudade sem tamanho. Não sei por que as perdizes me levaram a outro mundo...

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A crônica do amigo


Perdizes de Andrômeda
(Henrique Matteuci)

- Mim Jane - disse ela colocando a palma das mãos sobre o próprio peito.
- Tu Tarzan - completou, tocando meu peito. não solteio grito de vitória do rei das selvas porque se o fizesse transformaria aquele gesto romântico num episódio ridículo. Estávamos ao pé de um grande grupo de árvores gigantescas, ali do parque da Água Branca, majestosos exemplares de pau-ferro, plantados, com certeza, por um botânico de mãos bentas.
- Lá está nossa cabana - disse eu - Vamos subir e fazer amor. Partimos na cabine de um pensamento uno. O guarda apitou, descemos. Ele foi delicado, mas incisivo.
- É proibido amar no parque.
Ela suspirou frustrada e eu disse, botando a mão em meu próprio peito:
- Mim Jedi, tu Shaula.
Quando pus a mão em seu peito, senti a taquicardia do amor. De mãos dadas entramos em nossa nave e viajamos para a constelação de Andrômeda, onde gira a estrela que tem o nome de minha amada. Lá o amor não é proibido. Criamos um bosque parecido com o da Água Branca, cheio de árvores imponentes e aconchegantes. Batizamos o local com o nome de Perdizes e decidimos: só voltaremos à Terra quando for revogada a proibição do amor.

O abraço de Alice
(comentário da amiga sobre o que eu escrevi acima)

Apesar de atrasada, como sempre, receba, antes, um grande abraço, daqueles bem arrochado e demorado, sem nos mexermos. Lembro-me de uma amiga do Solaris, a Magali, que adorava abraçar as pessoas, e eu costuma a balançar o corpo enquanto a abraçava. Um dia, ela me disse mais ou menos assim: "Não se mexa, sinta este nosso abraço. Depois, sim, de trocarmos nosso carinho, podemos nos sacudir". Acho que ela tem razão, agindo assim sentimos mais a reciprocidade do aconchego, do afago. Isso, é claro, quando gostamos muito de alguém. Sinta meu abraço!
Agora, sinta-se sacudida para afastar essa onda melancólica. Quanto à quarentena, talvez haja mesmo influência. Como dizem que todos temos livre-arbítrio para decidir o que é melhor para nós, por que não começar a tentar em se livrar desse estigma (não me ocorre um termo adequado para definir essa onda infernal). Comparo isso ao que os espíritas e, até mesmo, os esotéricos chamam de karma (carma). A diferença é que o espiritismo encara o karma como algo que é inevitável, ou seja, a pessoa precisa aceitar com paciência (sofrer mesmo) para que seu espírito se eleve. Conforme o pouco que li e, segundo o curso de autoconhecimento do Solaris, o livre-arbítrio pode superar o karma. É como você se esforçasse para quebrar um ritmo, um vício que há anos, até vidas, você carrega. Podemos chamar isso também de força de vontade. Vamos ser incisivas: "Não quero mais sentir isso", "Desta vez, essa onda não vai me derrubar" e por aí afora. É fácil?
Claro que não. Se continuarmos nesse raciocínio, como deve ser difícil quebrar uma herança genética. Vejamos, um exemplo: tenha uma amiga que já perdeu duas tias e a mãe (morreu com 53 anos) de câncer. A probabilidade para a Solange desenvolver a doença, segundo o histórico familiar, é grande. Aliás, ela já foi operada e anda muito preocupada. Segundo a Sonia, temos condições de quebrar esses ciclos karmáticos. Como? O autoconhecimento ajuda a ter maior percepção do que acontece. Depois, de conscientes, temos de nos armar para o combate. Este assunto é pano para manga. Infelizmente, preciso ver minha mãe. Pois é, ainda não quebrei esse ciclo. Mas, na verdade, vou vê-la por vontade própria. Estava difícil escrever para você neste momento com o Carlos me rodeando. Aliás, precisamos "nos confessar". Desculpe-me, te incluí no confessionário porque desconfio que você tenha alguns segredinhos. Eu também tenho. Justamente por se tratar de segredinhos, não dá para comentá-los porque tenho à minha volta um espiãozinho. Quanto à perda da gatinha da sua amiga, dos amigos Matt e Ju, é triste. Chorei muito na época, hoje sinto uma saudade não doída como antes. Eu diria que é uma saudade reflexiva. Sei lá! Um dia me explico melhor pessoalmente. Não encuque! É uma história complicada, talvez karmática.

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