segunda-feira, abril 12, 2004


A Páscoa surgiu na minha vida por volta dos 8 anos, quando minha prima Yasuko (com quem morei aqui em SP) foi trabalhar na fábcica de chocolates Falchi. Lembrança que tenho do catolicismo se apresentando na minha vida são um pouco aterrorizantes. Conheci na escola, nas aulas de religião. Aprendi a rezar Ave-Maria e Pai-Nosso. Minhas professoras tentaram me catequisar. Quase me convenceram, devido ao medo de ficar vagando no limbo por ser pagã. Um dia cheguei em casa com as novidades que ouvi na escola, juntamente com formulário para dizer "sim" ou "não" às aulas de religião. Sábio como era, meu pai deixou a escolha para mim. Não fui a algumas. Eram dadas todas sextas-feiras. Mas não gostei da idéia de ficar no pátio sem fazer nada. Ficávamos eu e uma coleguinha evangélica (minoria na época). Aí, retomei as aulas, ouvi mais sobre céu, inferno, pecados. Pelo sim, pelo não, resolvi frequentar missas, sem contar que eu era pagã. Um dia, quase fui comungar.. Mas aí, achei que seria um pecado imperdoável e o fogo do inferno poderia arder muito mais. Fui me preparando para o batismo, enquanto morria de pena dos meus pais, que ficariam no limbo. Pensava se nao seria melhor fazer companhia a eles. Não conseguia compreender como o céu seria reservado apenas aos católicos. Nessa época, meu pai era ateu. Venerava apenas os antepassados. Tínhamos oratório em casa, onde sempre fazia oferendas e prestava culto. (Depois dos 60 anos, ele acabou assumindo o budismo, depois de uma cerimônia em homenagem a 50 anos de morte do bisavô dele).

Meus irmãos, menos rebeldes do que eu, foram batizados. Alguns, devido à perseguiçao aos japoneses pós-guera. Outros, apenas para se casarem na igreja. Assim, eles ganharam nomes cristãos de Rosa, Luis Roberto, Aldo, etc. Por ironia, eu que sou única a ter nome em português registrado, continuei pagã. Quando chegava a Semana Santa, meu pai dizia: "agora é hora de vocês católicos jejuarem e chorarem pela morte de Cristo. Eu vou comer do bom e do melhor!" . Acho que esse ponto pesou bastante na minha decisão. Preferi continuar pecadora, pois o limbo parecia uma coisa muito distante. Hoje, 40 anos depois desses conflitos, "comemoro socialmente" o Natal e a Páscoa, apenas para não ser do contra. Retribuo os cartões (que começaram a pipocar pela net, pois antes nao me lembro de ter recebido cartões de páscoa). Quando tivemos crianças pequenas na família, claro que as presenteávamos com muitos ovos. Agora, só tem os netos da minha irmã (3) e a Kelly, a caçulinha do meu falecido irmão. Mandei coelhinhos de pelúcia para as meninas e um livro que fala da Páscoa pro Paulo Otávio (mais velho do Júnior), que tem 10 anos e gosta muito de ler.

Escrevi isso tudo pra explicar que não é nenhuma data especial para nós, aqui em casa. Tem mais: estou enjoada de chocolates há 15 anos. Mesmo assim, retribuí educadamente os cumprimentos pela data.




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