segunda-feira, agosto 09, 2004

Comentário do meu amigo:
"Não resisti a te escrever depois de ler sua mensagem sobre suas peripécias no ônibus. Como me identifiquei! Passo a maior parte da minha vida indo da casa para o trabalho e vice-versa. Não seria nada se não cortasse a cidade de lado a lado, percorrendo bairros e cruzando o centro antigo todos os dias. E como há histórias para contar, como existe gente diferente, personagens misteriosos, conhecidos até, que se cruzam por pequenos minutos nos ônibus, vans e metro. Apesar de nunca se cumprimentarem, nem mesmo se olharem, noto diariamente pessoas que se encontram e se separam no metro pela madrugada e à noite. O sr. idoso que desde a van e do ônibus corre para descer a frente dos demais, a senhora baixa e obesa que fica com os olhos fechados até chegar à estação Sé do Metro, a moça ruiva e pálida que vem dormindo no banco reservado para idosos, o rapaz alto que entra sempre no primeiro vagão com agasalho e carregando um cabide. Estará levando um terno, um uniforme? Nunca saberei. E aquele senhor manco lendo um livro entretido? Qual livro será? Tento ler mas não consigo. O metro pára e ele salta. No ponto, madrugada ainda, todos os dias, como um relógio, vejo passar a senhora magra que vai comprar pão, o rapaz de casaco pesado e escuro mas que revela um par de de sapatos de verniz bicolor e com salto alto a cada passo. De onde estará vindo às 5h40? As "meninas alegres" no lado errado da Augusta tentando seduzir os últimos homens da madrugada. O oriental que pedala solitário da academia que anuncia com sua iluminação fria o início da manhã.Eu de olhos fechados, sei que no próximo ponto, meu amigo e pesquisador peruano vai subir no ônibus dando bom dia a todos e fazendo comentários sobre o tempo.E por aí vai... atendentes de hospitais, técnicos de laboratório, seguranças, estudantes, pedreiros, pessoal de limpeza, cada um vai saindo de casa e se diringindo ao trabalho como um exército silencioso ( e neste horário da manhã é bom que o seja ) a ocupar suas posições. Muitas vezes sinto um enorme carinho por essas pessoas anônimas. Peço a Deus para abençoá-las na imensa, vasta mediocridade de vida que levamos, abandonados quase que a própria sorte pelos poderosos, sem educação, sem saúde, limitados a procurar sobreviver silenciando muitos desejos. Mas sei que se tentasse abraçá-los seria taxado como louco ou perturbado.Também acho que escrivi demais para quem está tão atrapalhado tentando fechar um evento para daqui a 20 dias!"

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