segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Pagando mico

Na quinta-feira, conversando à noite com um novo amigo virtual, ele me falou: "Quando vamos nos conhecer pessoalmente?" E eu: "Que tal amanhã?" A sugestão foi casual, naquele momento, mas quando ele me disse que estaria a poucas quadras de onde eu estou, acreditei que o encontro talvez estivesse programado pelo destino. Combinamos para o almoço de sexta. Sob sol escaldante e ardido, decidi caminhar até a famosa esquina da S João com a Ipiranga, onde "tudo acontece". Quase chegando lá, rebentou uma tira da minha sandália. Encostei numa casa de artigos para surfistas e ajeitei um remendo com sylver tape. Deu pra caminhar até uma loja de calçados, na Ipiranga, onde comprei uma havaiana preta da Giselle. Não era a melhor opção, mas pelo menos era meu número e custava 18 reais. Voltei ao local combinado e apertei os olhos para localizar um moreno-claro (assim mesmo, com hífen) de 1,80, cabelos e olhos castanhos, que fosse atlético. De repente, uma pessoa, que nao era exatamente morena-clara, se aproximou de mim e se apresentou. Devo ter arregalado os olhos espantada. Nem consegui sorrir ou brincar. Ou melhor, tentei. Mas o gelo não se quebrou. Não poderia dizer que ele mentiu. Talvez o problema ali fosse semântico, sintagmático, morfológico ou antropológico. Tudo uma questão de conceitos. Mas tentei afastar os preconceitos e ser politicamente correta. Entramos no bar da moda e vasculhamos o cardápio do dia. Ele havia me dito que não comia carnes nem aves. Ah, sim! Confesso que me animei em conhecê-lo impressionada com o texto conciso, elegante e rápido, além do fato de ele ter se apresentado como médico. Disse que veio a Sampa fazer uma pós em saúde pública. O fato de ele ser médico carioca, sem óculos, barba ou bigode, me pareceram descrições suficientes, a ponto de nem pensar em questionar maiores detalhes. Desajeitada no meu novo calçado, acelerei os passos para acompanhar o meu atlético amigo até outro restaurante, à procura de uma refeição a base de peixes. Embora eu quisesse seguir até um japonês na Vieira de Carvalho, meu amigo insistiu em optarmos pelo bufê de um hotel tradicional, onde também não havia peixes incluídos. Ele conversou com o maitre, que foi providenciar um salmão grelhado, sem cobrança extra. Nada demais, considerando o que cobravam. O bufê era extremamente pobre, mas pelo menos as folhas pareciam fresquinhas e a beterraba estava cozida no ponto. Os molhos eram razoáveis e a batata souté era saborosa. Foram únicas coisas que comi pois o filé ao molho madeira me pareceu uma outra carne maquiada com papaína demais. Tentei ser simpática. Puxei papo sobre o trabalho dele, mudanças, instalações de apartamento, etc. A tudo, vieram respostas corretas, porém monossilábicas, nos intervalos entre garfadas. Pudera... ele devorou três pratos e duas sobremesas! Quando minha filha tocou o celular e eu sugeri a ela que procurasse 5 a Sec para cuidar das fardas, ele se interessou pelo assunto, me perguntando como funcionava o sistema. Disse que ainda não comprou tábua para passar e enfrentava problemas com roupas. Além disso, precisava adquirir eletrodomésticos, monitor para PC, etc, para equipar a nova moradia. Estranhei que ele cuidasse pessoalmente da roupa bem passada que trajava. A calça social era bem vincada e até mesmo a camisa pólo dava impressão de ser engomada. Intrigada com a estranha transferência de cidades, perguntei a ele se era funcionário federal. Só então, me contou que era do exército. Oficial médico. Terminado o almoço, ele me disse que pretendia ir ao Ponto Frio. E eu: "Então, vai por aquela rua que chega lá. Eu vou pra aquele outro lado!" Do mesmo modo que nos cumprimentamos, nos despedimos. Com um aperto de mão e beijinho distante no rosto.

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