segunda-feira, outubro 29, 2001

Mais de dez dias sem escrever aqui. Gripe e uma série de contratempos que acabaram com qualquer inspiração. Ou melhor: gastei toda minha inspiração no trabalho. Depois, passei os dias atropelada por problemas dos outros. No sábado anterior ao último, a mulher de meu amigo Alberto me telefonou pedindo para ir visitá-lo em Taboão da Serra pois ele estava numa crise depressiva. Larguei todos os compromissos, engoli uns comprimidos e fui pra lá, passar o dia.
Alberto foi meu colega na ECA mas tem 13 anos a mais do que eu. Somos amigos há mais de 23 anos. A vida dele é uma novela e tanto.

Quando o conheci, ele era tradutor técnico de uma multinacional, morava num flat e trabalhava de terno e gravata. Usava camisas com monogramas bordados e tinha até secretária para datilografar os textos numa IBM de esfera. O mundo deu muitas voltas e há 20 anos nasceu a primeira filha dele, que ganhou meu nome em japonês. Fiquei muito sensibilizada com essa homenagem. Nunca imaginei que alguém pudesse me achar tal exemplo de pessoa. Desde então, praticamente acabei adotando Alberto como irmão.

Depois da minha xará, veio outra menina, agora com 13 anos, nascida de outra relação eventual de meu amigo com uma garota qualquer. Há uns 4 anos, depois de uma temporada no Japão como dekassegui e outras desventuras, meu amigo se casou com uma professora secundária e já têm mais dois garotos, de 3 e 2 anos. Em dezembro, nasce o terceiro, a quem darão o nome de meu irmão mais novo. (A esposa de meu amigo gostou do nome e das coisas que ele tem falado pela tv).

Além de desempregado e doente (artrite), Alberto estava deprimido pois havia perdido contato com a família e anda cansado da vida de dono-de-casa como ele mesmo diz. Não sabia se a mãe (com 85 anos) estaria ainda viva. Há pouco mais de um ano descobriu que a única irmã se mudara do apartamento onde morou durante 30 anos, sem deixar novo endereço. Mesmo tendo um sobrenome japonês raro, não conseguia localizar ninguém pela lista telefônica. De repente, veio à minha lembrança um comentário antigo sobre um dos sobrinhos que teria ido cursar a Academia de Barro Branco. Esse foi o ponto de partida para minhas investigações. Com o nome do rapaz à mão, em menos de 4 horas, na segunda-feira depois dessa visita, consegui falar com os familiares dele. Quem me ajudou muito foi um anjo: Haiael, que ao ouvir minha história me indicou imediatamente o lugar onde o sobrinho do Alberto trabalha agora, como subcomandante da PM. Ele estava licenciado justamente para cuidar da avó doente. Não sei ainda a gravidade do problema, mas a tal senhora fora trazida há uns 15 dias de ambulância do interior. Pelo menos consegui estabelecer as coordenadas para o reencontro!

Por conta dessa história, fiquei uns dias em parafuso e só na quinta-feira consegui matar saudades de Julius. E que saudades!


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