quinta-feira, abril 28, 2005

cena paulistana

Posto hoje texto que recebi de Edu, que descreve muito bem o dia de hoje. Eu assinaria embaixo!

Soube ontem mesmo do falecimento do deputado. Pensei em ligar para você mas não houve possibilidade. Compartilho do sentimento de perda. Era um dos poucos políticos que sentia mais próximo. Desde o cursinho pré-vestibular no Objetivo, acostumei-me em vê-lo nas campanhas. De uma forma quase onipresente, ele parecia acompanhar minha vida. Lembro das campanhas na Liberdade, de seu comitê próximo à Estação Ana Rosa, há pouco mais de três anos. Mas, como você comentou, ele deveria estar muito diferente da imagem que dele guardei. Fui pego quase de surpresa pelo protesto dos motoristas de ônibus e vans, que deixaram de circular da meia-noite às 6 da manhã. Precavido, deixei para ir ao trabalho mais tarde. Tomei café tranqüilamente com minha mãe e sai de casa, milagre, à luz do dia. Um dia maravilhosamente nublado e levemente úmido. Apanhei uma van praticamente vazia, em direção à estação Vila Matilde do Metro e deixei-me observar o percurso com uma confortável sensação de paz e nostalgia. Banhadas por uma luz difusa, as casas e suas donas pareciam surgir de um mundo esquecido pela turbulência dos dias modernos. Cachorros bocejavam nas calçadas, estudantes em burburinho caminhavam estridentes para as escolas, rapazes bem barbeados e cheirosos em seus ternos deixavam entrever a rebeldia (ou a entrega à moda) nos anéis e nos brincos. E os jardins? Aquelas plantinhas esparsas e esquecidas, rosas antigas, arbustos sem poda e árvores de um verde escuro contrastando contra o céu branco. Como adorei aqueles momentos de vida provinciana, com tempo espaçado, com desejo de aconchego, cobertor e bolinho de chuva. Vivo me questionando se não é isso que desejo: uma vida absolutamente anônima, provinciana, esquecida nos remotos pontos da capital paulista. Sem medos e sem ansiedades. E tempo a passar, levando as esperanças e os desejos da juventude. Ainda apanhei uma garoa fina e tudo parecia tranqüilo no Metro até a Estação Vila Madalena. No caminho pensei: " Por que não descer na Liberdade e comprar alguns salgadinhos? Aproveitar mais essa pretensa liberdade?" Mas que nada, vim como um torpedo teleguiado ao trabalho, já com atraso de algumas horas. Horas...

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