segunda-feira, junho 20, 2005

chuva e inverno

Inverno começa amanhã e parece que a frente fria que havia se perdido encontrou o rumo de sempre: a velha terra da garoa. Mal consegui me dar conta de que já havia amanhecido quando deparei com o cinza quase chumbo na janela.
Na madrugada de ontem, minha filha ligou chorando:
"Não vou voltar pra casa. Mãe, tô tão sozinha..."
Cortou o coração. Mas falei: "concentre-se no silêncio da noite e tente tirar proveito dele. Você poderá dormir tranquila..."
Era quase meio-dia, quando ela chegou e olhos inchados. Pediu ao pai lugar no sofá. Lendo jornal, ele não deu bola. Ela insistiu, ele nem falou nada. Continuou deitado no lugar que ela queria. Ela perdeu o controle, ou melhor, jogou o controle remoto da tv e foi pro quarto, chorando.
Eu comentei algo como: "Vc não faz idéia do que é ter uma noite dura de trabalho, chegar estressada em casa... eu sei bem o que é isso... Me lembro de chegar exausta de um plantão e ainda encontrar casa pra arrumar, não ser bem tratada".
E ele com cara de saco cheio, do tipo: "Lá vai começar..."

Chorei. Chorei muito. Lágrimas sentidas ao ver minha filha soluçando. Perguntei se tinha fome, disse que sim. Aprontei o almoço e levei pra ela, na cama. Expliquei a ela que nem todos têm sensibilidade até mesmo para perceber olhos inchados. E ela fora mal-educada também... Soluçando, ela almoçou. Deitada e com edredon na cabeça, parecia uma criancinha que apanhou... Mimei, sabendo que talvez não fosse a melhor coisa a se fazer. Mas colo era tudo que eu podia oferecer...
E eu me lembrei das vezes em que solucei até dormir, trancada no quarto, depois de uma bronca de papai. Doía muito. Por vezes, cheguei a odiá-lo.
Lembrei-me também do desalento, desamparo, desgosto ao dar com minha mãe em mais uma crise de depressão que a derrubava na cama. Voltava pra casa cheia de roupas sujas, esperando uma comidinha gostosa... e eu é que tinha de ir pro tanque, pra depois tentar algo na cozinha. Meu pai fazia o que podia, com sua falta de jeito. Mas caprichava nos poucos pratos que cozinhava com tempero incoparável. Quando esfriava um tiquinho, minha presença em casa era boa desculpa pra preparar o banho japonês de que ele tanto gostava.
Tenho saudades... Que saudades!
E então, reunindo os poucos ingredientes que tinha em casa, fiz sushis pra minha filha. Demorou um pouco, mas logo ela se recuperou e ficou em paz com o pai... me pediu pra fazer mais pra levar. Atendi o pedido e a paz voltou. Ela foi embora dócil... Nem pai nem filha se desculparam, mas ficaram se agradando. Ainda bem!


Almas gêmeas

Hoje mudo a rotina noveleira. Vou prestigiar meu velho amigo às 18 horas. Ele, que vê o mundo quase como minha alma gêmea.

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