segunda-feira, julho 06, 2009

Que confusão

Hoje fui postar, depois de séculos sem coragem... E quando fiz isso, não é que acabei criando outro blog?

Talvez seja providencial iniciar outro, nesta nova fase de minha vida. Mas, por enquanto, copiar e colar o que mandei lá:

Disse ontem para minha mais recente grande amiga, a Bete, que domingo é um dos dias mais difíceis da semana.
Seria o dia do Senhor.
Dia de missa, de Sol, de alegria.
Dia de feira, de passeios, de almoço especial.
Mas as lembranças dos dias ensolarados, de domingos no parque, de passeios. Tudo isso tenta me arrastar pra tristeza.
Não, nao deixo que essas lembranças possam se tornar fantasmas.

Lembro-me, entao dos dias de Sol. Dias em que meu pai decidia trocar por um dia de trabalho. Sol no domingo era dia de blasfemar contra católicos e ir pra roça. Aproveitar que foi concedida a permissão para colher, secar o feijão, debrulhar o milho.

Sim. Pensando nisso, ontem passei o dia lavando roupa, mesmo tarde da noite...
Lembrei-me também de minha mãe, bipolar, que dizia em fases de euforia:" Não há nada mais maravilhoso do que ter esta disposição para trabalhar!"

Também penso que não há nada mais abençoado do que poder ajudar o próximo. Poder estar próximo de quem precisa de ajuda.

Não espero recompensas. Estou bem.

Concluí há 6 semanas a primeira fase da campanha pela fé. Funcionou mesmo. Tanto é que iniciei a segunda etapa logo a seguir. E é com base nas frases diárias que tenho encontrado forças para seguir adiante.
Tem dias de rolarem muitas lágrimas.
Tem dias de imenso desespero.
Tem dias que começa assim. Frio e nublado
Mas leio o refrão, vejo o ensinamento do dia.
Ergo a cabeça, pego a vassoura, vou pra cozinha, pro tanque e sigo em frente.
Minha leitura de hoje:

“Coloco, no dia de hoje, a minha vida ,os meus entes queridose o meu trabalho nas mãos de Deus e pode advir o bem. Sejam quais forem os resultados deste dia, ele está nas mãos deDeus, de onde somente pode advir o bem.”

Assim, consigo superar as mágoas todas, as coisas que não deram certo na semana passada.
Hoje há de tar tudo certo. Coisas boas vão acontecer. Têm que acontecer.

Não pensem, por isso, que eu estou mal, que tô ficando deprê. Uma coisa é ficar assim sem motivos. Uma coisa é entrar os pontos. Isto não vou fazer. Jamais. Ao contrário, sei que preciso segurar a onda, puxar a carroça. É assim que estou fazendo!

quarta-feira, maio 06, 2009

39 dia


Este é o numero do dia da Campanha Espiritual do qual falei. Ela foi divulgada por um vereador de nome Fábio, da cidade de Osasco, na Grande São Paulo, e seguida por uma amiga que conheci em uma comunidade do Orkut que reúne sobreviventes do avc.

Depois de dois anos nessa luta em que os acompanhamentos médicos sao bem esparsos e pouco converso sobre a evoluçao do paciente, senti necessidade de dialogar mais a respeito e decidi apelar para o Orkut. Busquei pessoas em situaçao semelhante, por idade, localidade e tempo pós avc. Uma delas, de Goiás (pelo fato do P P ser de , procurei contatos naquele estado) me levou a um chat do msn (nem sabia desse recurso para abrir sala de bate-papo). Foi a coordenadora desse grupo, conhecida como Bete, quem me falou da campanha.

Num momento de extremo esgotamento iniciei as leituras. Elas se estenderão por 63 dias e eu estou no 39 dia.

O texto de hoje é:

"Não faça somente pedidos quando orar, afirme também que lhe estão sendo dadas muitas bênçãos e agradeça por elas. Faça uma oração em intenção de alguém com quem não simpatize ou que o tenha tratado mal. Perdoe depois esta pessoa.o ressentimento é barreira número um da força espiritual."

Decidi que irei firme neste propósito, por todos os meios. Inicialmente, dentro deste tema, devo perdoar minha cunhada, irmã do PP. Para ela fiz uma oraçao e em seguida acenderei uma vela no site do Sagrado Coração. Sim. Irei apagar essa mágoa. compreendo bastante as razões que desagregaram essa família e talvez uma das razões desta situaçao em que se encontra PP. Esse nódulo há de se dissolver com a perdão que vou ajudar a se firmar no cérebro abalado dele. Se eu consegui reeducar, fazer com que se relembrasse do que havia se apagado, vou conseguir também isto. Explicar atitudes como as que tiveram, de indiferença e palavras duras, a mim dirigidas em momentos tão delicados.

Sim. Sou imensamente agradecida pelos meus dias tranquilos, sem acontecimentos negativos. Com respostas superiores aos meus apelos.

Sou muito grata aos pedidos de ontem em que fui atendida ao pedir por coisas aparentemente banais como encontrar a bolsa da minha filha. Estou muito grata pela proteçao que ela recebe diariamente, assim como todos os colegas e a própria situaçao de combate ao mal entre os cidadãos. Fico orgulhosa de todas as atitudes humanitárias e o bom senso que a guia no trabalho. Tenho plena certeza de que, seguindo exemplos de primos e tios, ela será mais uma sacerdote em campanha por melhores condiçoes de vida  para nosso estado, nosso país.

Sou, acima de tudo agradecida pela recuperaçao constante do PP. Muito mais pelo bom humor e ótimo astral que ele preserva, acima de tudo. Sei que esse positivismo nos conduzirá à vitória. Reafirmando esses conceitos, vou conseguir superar os obstáculos que surgirem.

Fico também emocionada com os presentes que recebo todos os dias, em forma de palavras de incentivo, vindos de novos e velhos amigos. São dádivas sem preço. Sobretudo, os novos amigos que se juntam à nossa coleçao.

terça-feira, maio 05, 2009

Recontando - copiado de outro blog


Vou copiar aqui um post que fiz ontem em outro blog.

Confesso que me travei com uma crítica que recebi lá sobre o recurso que utilizei pra contar a história que vivo.

É esse relato apenas o começo. Pretendo aproveitar o mote para redigir outros capítulos. Porém, ainda nao sei como. Nem quando.

Sou 1 em 20 na estatística


Sim. Um dos neurocirurgiões disse: "de 20 que operamos, 19 morrem!" E a neurocirurgiã contou que foi a maior hemorragia que ela já viu.

Meu  nome é Paulo, tenho 51 anos e tive avch no dia 18 de fevereiro de 2007, um domingo de carnaval. 
Depois de uma noitada assistindo filmes até tarde, acordei cedo, creio que por volta de 9 horas, contrariando meu hábito de dormir até quase meio-dia, principalmente em um domingo.
 
Tive uma dor de cabeça fortíssima, latejante, coisa que nunca me aconteceu, nem quando eu bebia e tinha ressacas fenomenais. Devido à dor de cabeça, não acendi o cigarrinho de costume e tampouco quis tomar café. Fui ao banheiro, fiz xixi. Minha mulher disse que a têmpora estava vermelha e até me deu uma toalha umedecida em água gelada, para aliviar.

Voltei a me deitar, encostando a cabeça no braço do sofá. Creio que já havia passado mais ou menos meia hora desde que despertara, quando me deu nova vontade de fazer xixi. Aí, quando fui me levantar, a perna esquerda não me obedeceu mais. Erguendo-me com o impulso, dei dois passos, capenguei e caí em cima de almofadões que estavam no chão da sala. Tentei me apoiar no braço pra levantar e a perna parecia boba. 

Minha filha gritava: "pai, pai, que foi?" E minha mulher falou: "chama o resgate" (tendo já presenciado o pai dela ter vários AVCs, ela já deduziu).

Minha mulher insistiu pra que eu ficasse quieto, nao tentasse mais levantar. Então acabei mijando numa bacia.
Primeiro ligaram pro Samu e depois pros Bombeiros. Os dois socorros chegaram quase ao mesmo tempo. A paramédica viu a pressão e me mandou apertar as duas mãos dela. E vi que fizeram sinais entre eles e falaram uma sigla que talvez fosse AVC, nao tenho certeza. Me espantei que escutei pressão 24 (não me lembro do outro número). Como o elevador do nosso prédio é pequeno, e só havia maca comum, me colocaram meio amarrado numa cadeira pra descer. Apenas no hall de entrada do prédio, me colocaram na maca. 

Bem na hora em que estavam me colocando no carro dos bombeiros, chegou a dra M arice, médica, sobrinha de minha mulher. Em menos de dez minutos, chegamos ao PS da Santa Casa de SP. O lugar estava lotado. Típica cena de hospital público em feriado. Corredores cheios de pacientes nas macas. Mediram minha pressao, que melhorou um pouco: 22. Pedi pra fazer xixi e deram um saco plástico. Parece que colocaram soro e me deram algum remédio.

Dali a mais ou menos meia hora, minha dor de cabeça piorou muito, comecei a tremer e a boca entortou completamente. A tremedeira era muito forte, a ponto de terem de me segurar pra nao cair da cama. Aí apaguei.
Dessa parte em diante, quem vai contar é a minha mulher, porque a minha história é muito longa. Foram 35 dias em coma, 60 na UTI e 5 meses no hospital.

Tem dias que acordo e ainda penso se estou em um pesadelo do qual não desperto quando me vejo dormindo em um colchonete no chão e uma cama hospitalar ao lado, onde ressona meu marido. Me levanto assustada e me dou conta de que é hora de verificar a pressão arterial e dar as medicações. Respiro fundo e vejo que não é um pesadelo. Aí penso: "pesadelo foi o que vivemos há pouco mais de dois anos. Agora estamos em casa. Ele já fala, conseguimos conversar e alimenta-se quase que normalmente".

Depois desse trecho contado em primeira pessoa por PP (Pepê como é conhecido por causa das iniciais do nome), um jovem médico residente saiu correndo com a maca para o setor de emergência. Provavelmente estava convulsionando e lhe deram um diazepan. E eu precisei sair de perto. 

Enquanto aguardava por notícias lá fora, minha sobrinha procurava me tranquilizar, dizendo que poderia ser um coágulo, uma artéria que obstruiu e logo se dissiparia... 
Eu nem sabia no que pensar. Pressenti algo muito grave e telefonei para todas pessoas queridas que localizei pela agenda. Entre os que correram para o hospital, estavam Angela, minha amiga mais solidária, e o casal de amigos quase vizinhos, Rivaldo e Juraci, que conhecem PP desde que ele tinha uns 16 anos. Minha filha também telefonou para uma amiga dela, que foi pra lá com o namorado. 

A antesala do PS mais parecia o saguão da antiga rodoviária de SP, com cadeiras de plástico, um bebedouro e uma tv mal sintonizada na parede. Todas pessoas olhavam pras imagens que se moviam e ninguém conseguia prestar atençao.

Não tenho idéia de quanto tempo se passou naquela angustiante espera por notícias. Casal de amigos da minha filha trouxe café, refrigerante e um lanche. De repente, a médica nos chamou. Mostrou a tomografia e disse que PP tinha um sangramento imenso, que ocupava toda parte superior e o lado direito da cabeça. Era uma situação de emergência, do qual tentariam tirar por uma cirurgia. Falou que só iniciaria os preparativos do centro cirúrgico e os procedimentos quando eu conversasse com a assistente social e assinasse autorizaçao. A doutora disse algo como: "Vamos ter de abrir para diminuir a pressão craniana. Será uma tentativa. É uma situaçao muito grave, nao garantimos resultados. Vamos entrar com ele, nao sabemos se sairá. E se sair, nao sabemos como ele ficará, se precisar, teremos de sacrificar parte do cérebro para preservar a vida. Mas nem isso garantimos".
Estava escurecendo quando nos informaram onde era o prédio do centro cirúrgico. O complexo hospitalar é imenso, ocupa uma quadra inteira. Pela primeira vez percorri aquele espaço em que construção moderna se intercala a paredes de tijolo a vista com torres que lembram Notre Dame. Chegamos a um corredor mal-iluminado, com o chão de cerâmica vermelha. Teto muito alto, que aumentava em nós a sensação de desolação. Daquele lugar, me lembro de ter telefonado para outros amigos e também para a família dele.

Minha sobrinha retornou com o marido dela, trazendo agasalhos. Disse que devíamos nos preparar pra passar a noite naquela espera. Eu fiquei sentada nos bancos do andar térreo, enquanto minha filha subiu com a prima. As duas ficaram o tempo todo na porta do centro cirúrgico. Previsão era de que demorassem pelo menos de 4 a 5 horas. Nosso medo: que a porta se abrisse antes desse tempo. Felizmente isso não aconteceu. Creio que pouco antes da meia-noite, a neurocirurgiã abriu a porta e informou que terminaram. Com a roupa respingada de sangue até nos sapatos, contou pra minha filha que fora a maior hemorragia que já viram. Agora, nos restava voltar pra casa e retornar na manhã seguinte, no horário de visitas.

Nova pessoa

Sim, gente... Meus dias continuam difíceis. Nao pude mais me dedicar a textos mais amenos. Não pude contar fatos pitorescos. Mas continuo vencendo. Sou hoje um outro ser humano. Pessoa espiritualizada, confiante, serena, de fé.

Superar as primeiras horas da manhã, até conseguir me convencer de que não adianta tentar recuperar o sono e preciso enfrentar o dia é a parte mais difícil. 

Há pouco mais de um mês, tenho me fortalecido com a campanha espiritual divulgada por uma nova amiga,a Bete. São 63 dias e eu já passei da metade. Posso afirmar hoje, sem medo e sem constrangimento que sou mesmo uma pessoa de fé. Estranho? Eu também acho, em muitos momentos. A essência está nesse refrão:

SENHOR, no silêncio deste dia que amanhece, 
venho pedir-Te a paz, sabedoria e força.
QUERO ver hoje o mundo com os olhos cheios de amor,
 ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
VER além das aparências os TEUS filhos como TU mesmo os vê e,
 assim, não ver se não o bem em cada um.
CERRA meus ouvidos a toda calúnia.
GUARDA minha língua de toda maldade.
QUE só de bênção se encha meu espírito.
QUE todos os que a mim se chegarem sintam a TUA presença.
REVESTE-ME de TUA beleza, SENHOR, 
e que no decurso deste dia eu TE revele a todos.
SENHOR, TU podes todas as coisas.
TU podes conceder-me a graça que tanto almejo.
Cria, Senhor, as possibilidades para a realização de me­u desejo.
EM nome de JESUS , amém!

Toda vez que parece que maus pensamentos, a raiva e a mágoa vêm pro meu lado, retomo a leitura e relembro:

CERRA meus ouvidos a toda calúnia.
GUARDA minha língua de toda maldade.



quinta-feira, abril 16, 2009

xooo, tristeza!

Tem dias em que é muito difícil conter as lágrimas, mesmo quando se trata de "problemas dos outros".
Ontem, estava aqui, ruminando meus pequenos problemas do dia a dia, as dificuldades operacionais de estar aqui maior parte do tempo sozinha, tendo que trabalhar e cuidar de uma pessoa acamada. Cochilava diante do entendiante futebol de quarta-feira (nem sei quem estava jogando). Na minha rabugice noturna, atendi ao celular, certa de que a filha comunicava mais um atraso porque mudara a programaçao para ir a casa do namorado.
De fato, era mais ou menos isso. Só que o motivo da mudança de rota foi a morte de um colega, noivo de uma amiga, em  s o te rramento. Haviam acabado de receber a notícia, por vias tortas e um grupo foi prestar solidariedade a moça.
De repente, me vi no meio das lembranças. Há pouco mais de 5 anos... Eram só alegrias nos rostos daqueles jovens. Idealistas, sonhadores. Conheci a turma de perto durante os exames físicos para ingresso na a c a d e m i a m i l i t a r.  Entre as famílias havia uma senhora mais expansiva que as demais, que contava sobre ocorridos em outros anos, candidatos que já conhecia de outros carnavais. Eu também era remanescente do ano anterior e estava ali, na torcida por minha filha.
Estranha no ninho, vi a mulher comentando que nao importaria a classificaçao, o principal era ingressar, nem que fosse em último lugar. E de fato assim foi, a filha dela, já na idade limite, fora a ultima a ser chamada... Maior orgulho para a q u el a familia... Muito esforço para cada árdua conquista. E eu... observando desconfiada, tentando descobrir quem eram aquelas pessoas.
O pai era s a r gento bombeiro, muito orgulhoso em encaminhar a filha para ser uma o f i c i a l. 
Junto ao sucesso, também um namorado maravilhoso, o genro dos sonhos, já alguns anos a frente no curso, na carreira. 
Depois, o ingresso da garota no curso de especializaçao, sendo uma das 2 únicas mulheres do grupo. Orgulho sem igual para aquela família. Para completar a felicidade, o noivado.
E no final da tarde de ontem, a notícia: ele morreu soterrado.
Triste, muito triste... Doeu na minha alma, no meu corpo, como se fosse com alguém da família. Nos meus pensamentos, o sorriso daquela garota sonhadora. Que lutou com muita garra para chegar ao vestibular, passar... e encarar o curso, no limite de sua capacidade.
Mas vou soterrar essa tragédia e me ater a tantas coisas boas que advém num momento assim. A solidariedade sem medidas...

sexta-feira, abril 10, 2009

SEXTA SANTA


Hoje é um dia em que respeito muito o silêncio. Procuro meditar e até me sinto constrangida a comer antecipadamente chocolates de ovo de Páscoa. Procuro conter a gula diante de uma bacalhoada.

Na minha ignorância, nunca compreendi bem o sentido do jejum...

Lembro-me de meu pai ironizando a tradição católica. Ele, que na maior parte da vida se disse ateu, demonstrava revolta contra a catequese a que se submeteram meus irmãos, sobretudo os que cresceram logo depois da 2a. Guerra Mundial, em meio a perseguição aos japoneses.

Na Sexta-Feira Santa, ele dizia algo como: "Hoje vocês católicos devem ficar com a cabeça embaixo do cobertor, chorando a morte de seu líder e jejuar... eu vou comer carne!"

Eu conheci a bíblia e o cristianismo ao entrar para a escola, no antigo grupo escolar. Perplexa ouvi a história da criação do mundo a partir de Adão e Eva. Tal qual indiozinhos catequizados por jesuítas, morri de medo que minha alma vagasse no limbo por não ser batizada. Então, me preparei para seguir os rituais... Mas veio o final do ano letivo e acabei perdendo a programação que incluía batismo, comunhão e crisma.  Naquele verão rezei muito as rezas que aprendi e implorei aos céus que não fizessem isso comigo, caso eu morresse sem ser batizada. Pedi que perdoassem meus pais também.

Mesmo assim... não segui adiante nesse processo. Acho que em respeito ao meu pai. Tendo escutado as argumentações dele, acabei deixando esse papo de religião de lado. No ano seguinte, pedi pra me excluírem das aulas de religião.

Depois... ao longo de uma vida inteira, tanto corri que nunca mais tive tempo para refletir sobre isso.. Talvez muito ligeiramente nas ocasiões em que me despedi de pessoas queridas... Meu pai, amigas, dois de meus irmãos e mais recentemente, minha mãe...

Agora, tal qual na parábola de "Pegadas na Areia", vi-me amparada pela fé, pelas pessoas que têm fé. E graças a ela estou aqui, lutando ainda pela recuperação do Paulo. 

E agora que aprendi, diante do desespero, a "conversar com Deus", o que eu faço?

Digo a Ele e a seu Filho, que certamente sua passagem pelo nosso planeta e o sacrifício não foram em vão. Com todo o respeito, admiro os rituais da Igreja Católica e reafirmo que não é por rebeldia que minha família e eu continuamos oficialmente fora dela, sem termos nos submetido a seus rituais de iniciação.

Peço perdão pelo desleixo e ressalto que minha fé se encontra hoje acima de tudo isso. Neste dia especial, procuro meditar e homenagear o falecido, do mesmo modo que faço em dias de aniversário de morte de pessoas da minha família. Não é um dia triste. É um dia de reflexão sobre suas vidas. De aprendermos com a história de sua passagem pela Terra.

quarta-feira, abril 08, 2009

novas motivaçoes

Depois de dois anos nesta luta, semana passada, baixou uma grande crise de desânimo. Dias terríveis. 
Vi que precisava levantar a cabeça, seguir adiante, me reanimar.
Procurei comunidades no orkut. Contatei algumas pessoas em situaçao semelhante e conheci uma novidade: chat em grupo pelo msn. 
Novamente retomei a alegria de conhecer gente nova. Descubro um mundo a parte.
Também me emocionei com aproximaça maior de uma amiga, ainda virtual. Ela é irmã de Ju, a quem citei aqui muitas vezes. Ju se foi há 12 anos, se nao me engano. Mas nos deixou de presente a família, de quem só me tornei amiga depois de sua partida.
Esta semana, apresentei a Adri (como a chamarei) este blog. Espero que ela não se assuste feito Alice e Eduardo... rsrsr

sábado, fevereiro 07, 2009

Meu pai

Hoje é um dia especial.

Há trinta anos morreu meu pai.

Se estivesse vivo, faria 100 anos no próximo dia 14 de março...

Quando ele se foi, eu mal acabava de entrar pra idade adulta. Atualmente, dizem que  a adolescência vai até os trinta anos. Naquele tempo, nao chegava aos 18... Ou pelo menos a gente achava...

sábado, janeiro 10, 2009

preguiça

Muita preguiça.
Cabeça vazia.
Falta de novidades.
Marasmo.
Trabalho atrasado.
Tô bem!

domingo, dezembro 28, 2008

Natal e sentimentos

Sem dúvida, esta época do ano é mágico para definir relacionamentos. 
Minha filha ficou noiva neste Natal. Ainda estou assustada, atordoada, tentando digerir esta nova situaçao. Estou estarrecida, mas estou feliz. Isso tudo me remeteu a um Natal há 30 anos... Foi o primeiro que passei longe de casa. Me arrependi amargamente pois aquele foi o último Natal de meu pai. Dali a dois meses ele morreu. 
Há 30 anos eu tinha um namorado ciumento, possessivo e machista. Ele me trouxe a força pra SP, pra passar o Natal com a familia dele. Eu nao me sentia a vontade para que ele fosse passar com minha familia e ele nao admitia que ficássemos longe um do outro. Vim chorosa e contrariada, trazendo o presente da mae dele, sorteada pra ser minha amiga secreta. Ainda me lembro do jogo de toalhas de banho, cinza-azulado, que comprei. 
Aquela noite, na esquina da Paulista com Brigadeiro, se nao me engano, 20 andar, foi definitivo para dizer um basta a aquela relação horrorosa. Dali eu fugi para dar outro rumo a minha vida. Rumo que sigo há 30 anos. Pouco antes havia conhecido, no trabalho, a pessoa com quem dividi o teto e a vida a partir de entao.

sábado, novembro 22, 2008

ai, ai

(suspiros)

normalidade

Pra nao pensarem que deixei de lado minha vidinha paralela, vou contar uma coisa... Ou melhor, deixo aqui registrado que ontem à noite, mandei um torpedo falando da Lua, pra uma pessoinha que foi remar. Mas acho que não levou o celular.  Mesmo assim, com certeza, teve luar, sim!

Loucuras

Fui um tanto desesperada no último post. Mas nem é pra tanto. Apenas o cansaço e dias às voltas com final do meu inferno astral. Tá certo, agora estou no paraíso? Não... segundo um guru astrológico com quem trabalhei certa época, o certo seria chamarmos o período em volta do nosso níver de quarentena astral. Ficamos hipersensíveis. 
Veio o Finados e os dias foram muito, muito difíceis mesmo. Dizem os orientais que nessa época os falecidos vêm à Terra visitar as famílias. Cresci com essa crença. Sem medo de Finados, que é sempre uma data festiva, mas com estranha sensaçao de que tem mais gente por perto. Às vezes tenho essa certeza quando uma de minhas gatinhas pula nas minhas costas, no meu ombro. Quem faz isso é Spyke, a caçulinha dos filhotes nascidos aqui em casa. Ela é branquinha com pintinhas pretas, uma quase dálmata. Tem a carinha meio torta, piorada no aspecto devido a manchas. Os olhos são meio caídos, tristes, de um estranho amarelo. Sempre percebe minha melancolia e, nessas horas, vem afofar meu colo. Se eu choro, ronrona pra mim. Édipo, o avô dela, também era assim. Primeira vez que Édipo saltou no meu ombro foi quando voltei do enterro da minha mãe.  Uma senhora que morou aqui no prédio e que era meio tipo bruxa me disse que tinha "bichinhos", o que entendi que fossem "encostos".
Não entendo que todo tipo de encosto seja ruim. Sem dúvida que nao. Às vezes também penso se pessoas reencarnam como bichos. Às vezes tenho certeza de que gatos foram gente. Às vezes olho pra eles e fico imaginando se alguns seriam meus parentes. Às vezes acho que isso é maluquice minha. Às vezes tenho certeza disso!

Falei pra minha xará quase homônima que iria contar em breve o causo do moço que conheci na Década de 70 pela Revista Melodias. Foram tempos pré-históricos em que a gente engatinhou nos primórdios do que hoje chamamos de relações virtuais.  Quando me lembro disso, me lembro também que conheci o linotipo, as fotonovelas e a caneta-tinteiro. Pudera! Já passei de meio século de idade. Sim, faço parte de uma geraçao privilegiada que testemunhou de camarote tantos acontecimentos fantásticos!  Fico imaginando o que se passava pela cabecinha de dona M a t s u, a sogrinha dos meus irmaos mais velhos. Ela partiu no dia 17, rumo aos 102 anos. Lúcida, se manifestando enquanto conseguia. Primeiro perdeu a audição. Durante muitos anos, ficou só escutando o mínimo. Mas lia e falava o necessário. Só frases sábias. Em julho, se despediu da minha irmã (a primeira nora), dizendo o quanto era abençoada, feliz, muito orgulhosa da família maravilhosa que constituiu.
Ainda me lembro do dia em que sepultamos o filho mais velho dela, meu cunhado. Já quase nonagenária, se dirigiu à casa que fora dele e, solenemente, agradeceu à nora pelos anos que dedicou ao filho dela. Ficamos todos muito emocionados .  Também quando meu irmão, genro dela, se matou, ela foi a única pessoa a se lembrar todos os meses da data em que ele partiu. Acendia incensos e lia sutras budistas pela alma dele.

Sempre que alguém morre, fico pensando e repensando se existe mesmo o além, o outro mundo, outra vida. Se pessoas de diferentes crenças, religiões ou mesmo as que nada têm se encontram do outro lado. Se superam essas barreiras e barreiras de línguas. Imagino que sim. Se sim, fico pedindo a Ju que siceroneie esse pessoal todo. Imagino-a de vestido amarelo florido, cabelo arruivado e batom muito vermelho, sorrindo e recepcionando. 
Meu pai sorridente, minha mãe com cara meio tristonha. Meu irmão recomposto daquela magreza, todo alegre. Imagino meu cunhado com ar sábio, falando: "Yatto kitte kuremashita" (Finalmente veio) pra maezinha dele. Imagino meu pai falando: "Maa ganbarimashita..." (Como se esforçou). E ela levanta a cabeça e sorri, olha com carinho para o marido dela, que partiu 20 anos à frente. Até meu irmão suicida está mais sereno... De longe, muito tímidos, acenam dona A n a  e seu J o a o, pais de Alice, que estão em outra roda, de portugueses.  Também se aproximam outros parentes, conhecidos da colônia. Todos admirados com a longa jornada física da velha senhora...

Ufa! Me perdi com essas divagações. Não sobraram fôlego e tempo pra falar do Amigo Desconhecido da revista Melodias. Fica pra próxima!
 

terça-feira, novembro 18, 2008

constrangida

Quero escrever mil coisas, mas leio tantos blogs bons, bem escritos, e fico envergonhada com a minha incapacidade de expressão. Tantas pessoas que conseguem transmitir de modo preciso as sensaçoes, ter certezas sobre as coisas... Sinto-me perdida. 

Há tempos que minha amiga Alice e eu cogitamos escrever algo sobre nossa experiência de sermos mães de filhas crescidas. Título sugerido por ela: "Mãe também quer colo".

Nas últimas semanas, tenho chorado muito. Lágrimas brotam doloridas. Literalmente me machucando os olhos, o coraçao. E parece que nao conseguem lavar a alma. Isso ocorre cada vez que levo bronca de minha única filha. É a coisa mais doída deste mundo. Sensaçao igual só tive com meu pai. Cada vez que ele falava sério comigo, passava noites soluçando. Sentida. Creio que é a estreita ligaçao que causa isso. E a impotência. Tristeza de não estar sendo "boa" para ela. Impotência, com aquela pergunta: "Onde foi que eu errei?"

Difícil, nesta luta, é que, de repente, há um ano e 9 meses, perdi um companheiro e ganhei mais um filho. Um filho deficiente, de 80 quilos e 1,75m, que precisa de mim para tudo. Que precisa de ajuda para as mínimas necessidades, requer cuidados especiais, tem convulsões, diz o tempo todo que tem fome, pede cigarro e esquece o tempo todo da situação em que se encontra. Tem dias em que perco a paciência e me vejo sendo ríspida e agressiva com ele. Aí, quando leio outros relatos corajosos, como a mãe de Francisco (do blog Para Francisco), ou a valentia de Fal (dos Drops), ou quando recebo notícia como a morte do desenhista Claudio S e t o, sinto-me pequena, muito pequena. Sinto-me, sobretudo, abençoada por todas experiências que têm me enriquecido tanto. Sinto-me ridícula. Sinto-me fortalecida para lutar. Acredito que exista de fato alguma razão para que Deus tenha mesmo me escolhido para iluminar meu caminho.


sábado, novembro 08, 2008

sustos

Tenho enfrentado situaçoes que jamais pensei que fosse capaz de encarar sem ter um treco. Minha maior situaçao-limite foi a morte da minha mãe, ocorrida praticamente nos meus braços. Sem poder fazer nada? Nao! Fazendo tudo que estava ao meu alcance. Respirando fundo e tentando. Literalmente.
Outro grande momento de resolver o impasse sozinha. Sozinha nao! - diriam alguns amigos meus - Eu e Deus.
15 de dezembro do ano passado, por volta de 19h, dia da formatura da minha filha, enquanto esperávamos anoitecer pra eu me preparar pro baile, P P teve uma convulsao. Naquele instante, imaginei feito manchete de jornal: "Ele aguentou até o dia da formatura da filha" E depois, a chamada: "Naquela mesma noite, passou mal e morreu, logo após o jantar..."
E durante uns 10 minutos, relutei em chamar o resgate ou até mesmo telefonar pra minha filha, que havia acabado de sair de carro. Quando vi que a crise nao passava e tampouco ele parava de respirar, liguei pro 1 9 3.
Do mesmo modo que no dia da minha mãe, precisei apelar pra pedir pronto atendimento. Aos borbotões falei até da formatura, ao livre, dia de Sol. O bombeiro comentou: "é verdade, hoje, dia 15 de dezembro..." Tivemos atendimento vip, com a presença do médico aqui. Enorme susto quando me botaram pra fora da viatura (um carro grandao com estrutura completa de socorro, nao os comuns) e o entubaram. Enquanto seguia atrás, de carro com a sobrinha médica, fui rezando e pensando: "acabou tudo..."
Depois disso, mais 2 sustinhos pequenos, em janeiro e fevereiro... e em junho, outro grande susto. Convulsao de 25 minutos. Novamente médico, equipe da Samu e dos bombeiros. Gente que nao cabia na sala aqui de casa. Explicaçoes técnicas. Entubaçao. E depois, na madrugada silenciosa, me permitiram entrar na emergência pra vê-lo, já tendo terminado eletrocardiograma. Bombeiros e médico aguardando lá fora. Alívio ao perceber que nao era devido a gravidade. Aguardavam apenas a "t e ne nte " dispensá-los. Ufa!
E ontem... Depois do jantar, quando voltei com a sobremesa, vejo-o piscando sem parar, como se fosse um tique nervoso. Tento conversar, pergunto o que está acontecendo. E ele: "nao sei..." Em seguida, virou os olhos, torceu a boca. Maior chuva lá fora. Respirei fundo. Rezei. Pedi para todos os santos, para minha mae, meu pai, meus irmaos falecidos, pra Ju, pra todo mundo. Falei: "Vai passar, vai passar, nao vai se engasgar, vai passar, vai passar, nao vamos pro hospital". Respirei fundo, virei a cabeça dele de lado, reclinei a poltrona ao máximo. Vi que mordeu a língua.. Sangue. Virei a cabeça, fiz com que o líquido escorresse. Olhei o relógio. Rosto muito vermelho. Pressao devia estar alta. Peguei o aparelho. Estava 16x11. Medi 40 gotas de dipirona. Um comprimido de hidantal, 50mg de captopril. Juntei tudo e injetei pela sonda gástrica. Mandei muita água, ajeitei o papagaio pra eventual xixi. Ufa! Passou. "Nao vamos ao hospital, nao vamos ao hospital". Nada de tubos, nada de pneumonia, nada de internaçao, nada de exames pra conferir que nada aconteceu.. Ufa! Chuvona lá fora. Passou. Dei água de um coco inteiro. Um copo de chá verde. "Nada de ligar pra filha na faculdade". Passou.

terça-feira, novembro 04, 2008

registrando mais um sonho.

Nao escrevi logo cedo, entao tudo se diluiu. Fiquei me concentrando pra que a parte boa do sonho nao se apagasse. Mas nao me lembro de quase nada... Mas consegui fixar na memória fotográfica a imagem do meu irmão falecido. (Tanta saudade que sinto dele...)
Estávamos em um hotel antigo, em algum lugar que me lembra cena do casamento da Dani, lá no interior de Minas. Foi a última viagem com a mamãe e a família ficou na colônia de férias da Cemig. A cena nao era aquela, o hotel tinha uma escadaria de madeira. Eu estava com mais alguém, dividindo quarto com um senhor acamado, em situaçao semelhante ao do P P.  De repente, a familia toda se agrupava lá fora. Apareceu meu irmao numero 5 (falecido há 7 anos) com o cabelo rente, dos tempos da quimioterapia. Só que ele estava gordinho, queimado de Sol, aparência muito saudável, sorridente. Quando o vi, logo pensei: "precisamos tirar fotografia". Mas eu nao tinha levado câmera. Perguntava a todos. Ninguém tinha. Meu irmao número 6 tinha uma antigona, das que levam filme. Aí eu pensei: "nem que ele tire e eu explique pra levar no fotógrafo pra escanear, nunca vou ver essa foto". Lembrei que o cara que dividiu o quarto com a gente tinha uma. Voltei lá pra pedir. Mas ele tava todo desgrenhado, nao conseguia se ajeitar na cama. Usava fraldas e estava todo sujo... Era cocô vermelho. E eu expliquei pra mulher dele, muito assustada, que aquilo nao era nada, era apenas de quem comeu beterraba.

Nao precisa ser Freud pra explicar as confusões de minha mente... 

Ontem a noite quase saí do sério nesta minha vida de "cuidadora". Depois da novelinha, resolvi assistir umas bobagens na entrevista da Gimenez com a mae de duas que fizeram filme pornô. Tanta bobagem, tanta gente pseudopuritana. A mãe com aquela cara de ex-puta cafetinando as crias. Tava interessante. Aí, de repente, uma cochilada e um barulho de água. Olho pro lado e... Nao é que meu "paciente" tá mijando na parede, que nem cachorro? Espanto total.


segunda-feira, novembro 03, 2008

38 anos depois...


Fiquei sabendo da existência da minha xará há uns 7 ou 8 anos, quando um amigo de internet veio de Cuiabá para participar de uma banca de doutorado na USP. Ao voltar pra lá, me disse que havia telefonado mas nao me achou. E eu: "como? nunca lhe dei meu telefone" E ele: "achei na lista" E eu: "nem tenho telefone em meu nome..." E ele: "tem sim, olha lá.." Fui conferir e, para meu espanto, havia uma pessoa com mesmo nome que eu, prenome e sobrenome. Diferença de duas sílabas no nome do meio, morava aqui em SP. Imediatamente liguei pra lá. Era uma marcenaria e a pessoa que atendeu disse-me que a quase homônima era esposa dele. Pedi pra xará me ligar e ela fez isso. Meio desconfiada e lacônica, contou que é 5 anos mais jovem do que eu e tem tb uma irmã com nome em japonês igual ao meu. Ou seja, são duas xarás na mesma família. São nascidas em Araçatuba. Fiquei encafifada pois tenho parentes que moraram muitos anos por lá. Isso ocorreu por volta do ano 2000, pois foi antes de eu criar este blog.
Na comunidade das Xarás, no Orkut, contei parte dessa história e não é que este ano, a própria me localizou e adicionou?

Só que ela tem mais um sobrenome acrescentado. Um sobrenome japonês do marido dela Quando a contatei pelo MSN, perguntei por perguntar "é parente de Fulano?"
E ela: "é primo de meu marido!"
Minha nossa! Ela, a minha xará, quase homõnima é casada com o meu "ficante" dos 13 anos, o moço que larguei no baile quando minha carruagem virou abóbora!

O que mais temos em comum é que vi a foto dela, pelo msn, e é incrivelmente parecida comigo! Só o cabelo dela é um pouco mais claro.. castanho avermelhado, isto pq ela pinta. Mas mesmo tipo de rosto, até os gestos.. Estranho, ne?



como acabou a história?

Depois de oito meses de cartas que foram e cartas que vieram, finalmente um novo encontro! E ele foi ao sonhado baile. Musiquinha lenta, dançando de rostos colados. Barba dele no rosto dela... Corpos juntíssimos, agarradinhos. Dia da fuga com a melhor amiga e a família dela. Dia da vergonha, da falta de coragem. De repente, um toque nas costas! Chegou a hora da carruagem virar abóbora. O trato dos meus 13 anos. 02h30: hora dos portões serem abertos pro povão adentrar ao salão, hora das mocinhas de família irem pra casa! O irmao mais velho convocou um parente. Em silêncio, lá foi ela, amuada, coraçao aos pulos, tempo apenas de combinar com o galã de se encontrarem dia seguinte na praça da Matriz. Dia seguinte: 15 de agosto, dia de N.S. do Perpétuo Socorro. Dia da Festa das Bonecas na vizinha cidade, dia de sufocar os sentimentos, de desistir de ser adulta. Definitivamente nao tinha coragem de assumir um namoro, de falar com os pais, de estabelecer horários, de dar explicaçoes. Era muita coisa para os 13 anos. Melhor ser criança mais um pouco. Ver a coroaçao da Boneca Rainha na Festa de Socorro.


A história continua... 38 anos depois! Aguardem!

sábado, outubro 25, 2008

continuando a história da POMBA

Cinco dias depois daquele domingo inesquecível, chegou uma carta. Envelope aéreo, papel idem. Fininho, dobras perfeitas. Primeiro uma ponta em diagonal, se encaixando com outra extremidade do papel retangular, tudo se encaixando feito origami de um aviãozinho pela metade. O coração disparou e fixou para sempre aquelas letras perfeitas, de caneta-tinteiro azul lavável. Li tantas vezes que cheguei a decorar. Eram, se não me engano, quatro folhas!
Respondi no mesmo dia, passando a limpo. Subi as ladeiras da minha cidade, chegando em tempo ao correio. Carta expressa e registrada!
Assim, ao longo oito meses, um pacote de cartas semanais. Às vezes as respostas se cruzavam e se desencontravam! Também alguns caríssimos e demorados telefonemas dados do armazém vizinho, a uma quadra de minha casa. Coração saindo pela boca. Verão e outono dos meus treze anos! Até que...

domingo, outubro 19, 2008

a história da POMBA

Vou colocar aqui o resumo da historinha de Lígia Fagundes Telles, que inspirou a apresentaçao deste blog:

"o conto Pomba enamorada ou uma história de amor apresenta a trajetória de uma mulher desprezada pelo amado. Tudo começou no baile em que fora coroada a princesa da primavera, “já que o namorado da rainha tinha comprado todos os votos”, onde conheceu Antenor, homem que não “esquentava o rabo em nenhum emprego”, que lhe confessou que ela “é que devia ser a rainha porque a rainha é uma bela bosta”. Apesar de ter sido um encontro fugaz, este marcara a personagem, que, a partir de então, nunca mais esqueceu o sujeito. 

Visto que neste baile Antenor saíra com uma “escurinha de frente única”, a personagem acabou tendo que se desdobrar para encontrar o paradeiro de seu amado. Acabou descobrindo-o trabalhando numa oficina e, ao visitá-lo, foi tratada de forma extremamente rude por Antenor. Entretanto, ela parece não se incomodar, visto que, após ligar várias vezes para seu trabalho “somente para ouvir sua voz”, acende diversas velas na ânsia de conquistar seu amor. Vendo que Antenor não se manifestava, ela começou a escrever cartas de amor sob o pseudônimo de
Pomba Enamorada, mas, ainda assim, Antenor não se rendeu.

Na sua louca busca, Pomba Enamorada acaba se humilhando: telefonou, mandou Rôni (seu amigo homossexual) dar recados a Antenor, esperou-o na saída de seu serviço, fez macumba; mas nada fazia com que Antenor mudasse de idéia. Mas o golpe quase fatal viria com a notícia de que seu amado estava de casamento marcado. Quando ocorreu o casamento, ao invés de chorar, Pomba Enamorada “foi ao crediário Mappin, comprou um licoreiro, escreveu um cartão desejando-lhe todas as felicidades do mundo (…)e quando chegou em casa bebeu soda (cáustica)” Após sair do hospital, cinco quilos mais magra, escreveu-lhe mais um bilhete “contando que quase tinha morrido mas se arrependia do gesto tresloucado que lhe causara uma queimadura no queixo e outra na perna, que ia se casar com Gilvan que tinha sido muito bom no tempo em que esteve internada e que a perdoasse por tudo o que aconteceu.”

Os anos passaram, e, apesar de casar, Pomba Enamorada nunca esqueceu de Antenor, sua grande paixão. Por exemplo, “no noivado da sua caçula Maria Aparecida, só por brincadeira, pediu que uma cigana deitasse as cartas e lesse seu futuro.” A cigana disse que um homem cujo nome iniciava com A., com cabelos grisalhos, costeleta, motorista de ônibus chegaria à rodoviária e mudaria sua vida por completo. Apesar de dizer que tudo era passado, Pomba Enamorada sabia que Antenor era motorista de ônibus e, no dia marcado, se dirigiu para a rodoviária."

Este é o começo para que, em seguida, eu conte duas longas historinhas de minha vida passada. De quando vivia minhas paixões romanticamente... Aquilo tudo aconteceu em 1970. Começou mais exatamente no dia 4 de outubro daquele ano. Me lembro bem da data pois no dia 4 de outubro do ano anterior foi casamento do meu falecido irmao...

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Cidade do interior. Tarde chuvosa de 1970, mês de outubro. Mocinha desajeitada,me sentei na primeira fila de um auditório improvisada de um clube da colônia. ERam tábuas sobre caixas de tomate, forradas de papel manilha rosinha. Tenho ainda nítida na minha memória a cena.
Dia de concurso de canto. Orquestra contratada estava no palco e entre os músicos, dois jovens de São Paulo. Adolescentes alvoroçadas comentavam sobre os rapazes. Galãs guitarristas. Curiosa, sentei-me na primeira fila. Nossos olhares se cruzaram. Arrepio, sensaçao de calor. Inacredutável. Ele olhou mesmo pra mim!
Justo pra mim, a mais pobrinha, desengonçada, desarrumada. O rapaz mais bonito, mais desejado, paquerado pelas garotas da cidade. Fazia frio e eu usava sandálias brancas nada a ver com a roupinha. Roupa de menina, de lasie azul-claro que minha irmã havia costurado. Que vergonha...  E ele olhou pra mim! Desceu do palco, veio em minha direção. Fomos ao bar improvisado. Ele pediu um guaraná, me ofereceu um copo. Não sabia o que conversar. Em pequeno pedaço de papel, anotou um telefone, endereço, uma espécie de autógrafo. Pus meu nome e endereço em outro papel e entreguei!