terça-feira, agosto 30, 2005

Não se confunda!

Assim como a garota que usou seu fotolog de gatos para manifestar a dor pela perda do pai, as mensagens deste espaço mudaram de tônica nos últimos meses. É um reflexo da alteração de valores na minha vida.

O mais sensato é dizer "sim" no dia 23 de outubro.

Se isso vai mudar alguma coisa? Vai diminuir a violência? Reduzirá os assaltos?

Não sabemos.

O que podemos ter certeza é de que certamente morrerão menos pessoas. Inocentes ou não. Criminosos ou não.


Com mensagens do tipo: "Proteja sua família, vote não"; "Preserve sua liberdade, vote não"; "A história mostra que o governo abusa do monopólio das armas" , circula por aí uma propaganda muito bem bolada contra o desarmamento. Sim, muito bem bolada pois o objetivo é confundir as pessoas. Mesmo quem for contra o uso de armas poderá ser levado a dizer não ao desarmamento, que significará sim ao comércio livre de armas.

Transcrevo aqui uma resposta que enviei a uma pessoa que me repassou um desses e-mails, com 20 "cartazes" invocando as pessoas a votarem não no dia 23 de outubro.

"Se vc me repassou este e-mail conscientemente, espero que tenha sido por má interpretação da mensagem, que é favorável às armas. Essa mensagem tem o objetivo de nos confundir quanto à forma de votar.Todo mundo que é contra a violência, balas perdidas e morte injusta deve votar SIM ao Desarmamento, pelo fim do comércio de armas e revólveres em casa.
Se eu não tivesse vivido o que vivi, certamente votaria por uma alternativa ou outra, sem pensar direito. Mas, como alguém que perdeu um irmão, que se matou com um tiro no ouvido. Um único e fulminante tiro, que entrou por um lado e saiu pelo outro, num único segundo impensado, tenho que defender o SIM ao desarmamento!
Fatalidade ou não, se ele tivesse que sair de casa, procurar uma ponte ou edifício alto pra saltar ou mesmo sair tresloucadamente de carro, o ímpeto poderia ter esfriado. Poderia ter conversado com alguém, poderia ter olhado para os filhos, pensado nas consequências e a vontade de morrer teria passado. Do mesmo modo, num instante de grande tristeza, desalento ou raiva, qualquer um de nós pode ser impulsionado a pegar uma arma e mirar contra a própria vida. Num impulso raivoso, pode atirar em quem está por perto, amigo, inimigo ou mesmo pai, filho ou irmão, num gesto semelhante ao que nos leva a bater em alguém, gritar ou mesmo virar um copo de uísque...
Mensagens como a que você me enviou podem levar pessoas inconsequentes a ter gestos equivocadas na hora doreferendo. Mesmo gesto impensado que pode levar a apertar um gatilho."


A seguir, texto de um amigo meu, oficial da PM, da reserva:

Desarmamento
Circula pela internet nos últimos dias um e-mail intitulado "Desarmamento: a alegria do crime". A autoria dessa matéria "cultura e informativa" só pode ser de alguém ligado à indústria das armas. Os dados citados, mesmo que sejam verdadeiros (não disponho de informações suficientes para confirmá-los nem negá-los), procuram levar o cidadão leigo e de boa-fé a acreditar que estará mais seguro se tiver uma arma de fogo em casa. Os números mostrados parecem querer demonstrar a necessidade de a população ordeira estar armada. Mas... será que são verdadeiros? Se forem, não haveria outros fatores a contribuir para a alegada mudança do quadro estatístico?Curiosamente, mas não por coincidência, nada foi citado a respeito do Japão, onde até a polícia trabalha desarmada (exceto as tropas de choque e os efetivos ligados à criminalidade mais pesada), e são inexpressivos os índices de crimes provocados por armas de fogo.Trabalhei durante vinte e seis anos na Polícia Militar paulista e nunca utilizei arma de fogo, exceto quando me encontrava em serviço. Sem falsa modéstia, sempre fui um dos melhores atiradores em todos os lugares onde trabalhei. Assim mesmo, agora que me encontro na inatividade, nem quero pensar em ter arma em casa, pois não tenho a menor dúvida de que, ao ser surpreendido por um ladrão armado, dificilmente uma pessoa dispõe de tempo para sacar a arma e defender-se, por mais à mão que ela se encontre.Questionar por que os policiais, juízes e promotores poderão continuar utilizando armas de fogo é uma asneira sem tamanho: todos sabemos que esses profissionais estão diuturnamente lidando contra o crime e precisam, no desempenho de suas funções, estar protegidos. Lembremos, uma vez mais, que quase nunca é possível utilizar a arma de fogo quando se é pego de surpresa pelo criminoso, mesmo se se tratar de um desses profissionais.Você tem arma de fogo em casa? Bem, se você não possui arma de fogo, que motivos terá para ser contra o desarmamento?O autor da mensagem a que me refiro usa de má-fé ao dizer que nos países citados foi desarmada a população ordeira e o mesmo quer nosso Governo Federal. O que se fez foi retirar de circulação armas de fogo que cairiam em mãos criminosas, o que também acontece no Brasil em grande escala, pois as pessoas que possuem armas de fogo em casa, em sua maioria, não sabem sequer guardá-las em locais seguros e, por isso, elas acabam abastecendo ainda mais os infratoes da lei e da ordem.O comércio de armas de fogo no Brasil rende muitos dividendos aos fabricantes. Rende até impostos aos cofres públicos, mas ao mesmo tempo provocam tragédias que só quem as viveu ou presenciou é capaz de imaginar o quando são doloridas.Portar arma de fogo exige preparo (técnico e, principalmente, psicológico). Usá-la, então, exige muito mais do que o preparo: exige a necessidade de seu uso, mas isto vez por outra é desprezado até por quem tem o dever legal de conhecer. Se não fosse assim, não teríamos disparos indevidos de armas de fogo por policiais em serviço. A linha que divide o permitido do proibido é muito tênue, podendo ser rompida com facilidade e, quando isto acontece, as conseqüências são nefastas.Não tenho e não quero ter arma de fogo, pois sei que não tenho necessidade dela. Quem acredita que é melhor uma arma na mão do que um policial ao telefone está tão desinformado que precisa consultar melhor as estatísticas. Uma coisa é ter a arma na mão; outra, bem diferente, é saber e poder utizá-la no momento certo e sem prejuízo para si mesmo e para outros inocentes.Afirmar que "com armas, somos cidadãos e sem armas, somos súditos" é outra falácia. Com armas, temos uma falsa sensação de segurança; quando elas nos são roubadas pelos criminosos, estamos mais inseguros e eles estão ainda mais armados.O fato de os criminosos estarem armados não é justificativa para que as pessoas comuns do povo -- ordeiras e sensatas -- também estejam. Se os bandidos estão armados, nós, cidadãos, temos o direito de exigir que os governantes cumpram seu dever de equipar os órgãos policiais para que os desarmem. Que se aumente a fiscalização nas fronteiras, nas vias de transporte (aérea, rodoviária, marítima, fluvial), nas estações de embarque e desembarque de passageiros em geral (aeroportos, portos, estações rodoviárias, ferroviárias), nos bares, nos morros, nas favelas... Enfim, onde se possa encontrar uma arma de fogo, lá deverá estar a polícia e desarmando quem quer que seja. E que promotores e juízes também cumpram seu papel e mantenham confinados os criminosos presos pelas polícias em geral.Crianças morrem de fome, gestantes não têm um acompanhamento pré-natal satisfatório, famílias passam necessidade, a educação e a cidadania não chegam às pessoas mais carentes... Enquanto isso ocorre à nossa frente, nossos governantes gastam anualmente milhões e milhões de reais nos hospitais públicos -- ou seja, nosso dinheiro -- por causa das malditas armas de fogo.Se você votou errado nas últimas eleições, certamente lhe veio o arrependimento; isto, porém, tem conserto: pense melhor nas próximas eleições. Mas, no dia 23 de outubro deste ano, o seu voto valerá muito mais: se votar errado, poderá sofrer as conseqüências de seu ato impensado. Portanto, vote SIM à pergunta sobre o desarmamento.
Lembre-se: a vida não tem segunda via; a morte não está sujeita a impeachment. N.B.S - Major da Res erva da PM - Gra duando em Letras na U nesp - Ara raquara - SP



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