quarta-feira, dezembro 26, 2001

Tentarei hoje resgatar a o episódio de meu contato inicial com o Budista.
Todo final de ano baixa uma melancolia, sensação de solidão. Na tentativa de superar uma possível depressão, no final de 99, corri atrás de novos amigos colocando um anúncio nos Amigos Virtuais da Uol. Recebi umas duas dúzias de e-mails. Entre eles, um que dizia ser budista e estudante de japonês. O nick era “Anjinsan” (personagem holandês do livro Xógun, de James Crawell, que no cinema foi interpretado por aquele ator que fez o dr. Kildare).
Que o homem tem muita imaginação, não restam dúvidas. Vejam a história da vida dele:

03 de janeiro de 2000
História de família
Meu amor, aqui vai um pequeno relato de minha família. Procurei ser o mais
conciso possível, sem deixar de ser explicativo.Meus avós maternos eram italianos. Meu avô nasceu em Udne, na fronteira com
a Áustria, era filho duma família de cozinheiros, o pai dele era o chef da cozinha do Rei Vitor Emanuel. Minha avó era de Caserta, distante 30 km de Napoli, o pi dela era da marinha de guerra. Casaram-se na Itália e vieram para o Brasil antes da guerra pois Mussolini
subira ao poder, destituindo o Rei e deixando minha família sem emprego, já que meu avô também era cozinheiro. aliás, somos uma família de cozinheiros e culinária é meu hobby, tenho cursos no SENAC aonde recebi diploma de chef.
Diante desta situação, aonde eram constantemente vigiados pela polícia, inclusive a Gestapo alemã, não lhes restou outra coisa a não ser venderem tudo o que tinham, e não tinham pouco, a preços irrisórios e viajarem para
o Brasil, aonde segundo as histórias, fariam riquezas em dois anos...
Aqui no Brasil foram instalar-se num subdistrito de Matão, chamado Dobrada, hoje emancipada para município. Ficaram numa fazenda, chamada Guarantã. Minha avó gerou oito filhos, dois morreram na infância, não sei por qual motivo. Restaram cinco mulheres e um homem. Trabalharam na lavoura. Economizavam, no entanto meu avô era alcoólatra e gastava tudo em cerveja
ou negócios fracassados. Passaram fome, muitas vezes, minha mãe só tinha a roupa que vestia, nada mais, nenhuma muda para trocar em caso de lavar a roupa em uso.
Depois que minha avó tomou o controle da situação, começaram a ter um pouco mais de qualidade de vida. Economizavam e puderam té formar alguns filhos. Uma tia formou-se professora de francês, prestou concurso para a Secretaria da Educação e aposentou-se como diretora de colégio estadual. Meu tio formou-se em química e tornou-se proprietário duma rede de farmácias no interior do estado.
Minha tia professora veio assumir um cargo na capital e convidou minha mãe para acompanhá-la assim morando juntas iriam dividir as despesas do aluguel do apartamento e minha mãe teria chances de emprego já que não tinha interesses maiores pelo estudo. Mal chegou em São Paulo, minha mãe já se envolveu com um sargento da extinta Força Pública, atual Polícia Militar. Este era meu pai.
Sobre meu pai, sei muito pouco, sei que era de Pernambuco, nunca soube direito qual cidade, ele era muito fechado, mas sei que seu passado era dum típico nordestino, irmãos que morreram de fome, viagem a São Paulo, em cima dum "pau de arara", mais dois irmãos que morreram de doenças no meio do caminho e foram enterrados na beira da estrada na altura do estado da Bahia, enfim tristeza, miséria, fome e dor foram os componentes da infância de meu pai.
Esta situação fez dele uma pessoa que carregava um fardo enorme em seu subconsciente, marcas e cicatrizes psicológicas que, adiante, dispararam o alcoolismo em sua vida.
Sei que meus pais namoraram um tempo e, logo depois, minha casou. Minha avó materna não gostava de meu pai. A antipatia era recíproca.
Meu pai, para mim foi um bom pai, me educou, pagou meus estudos e esteve ao meu lado até o seu final. Contudo, para minha mãe, as coisas não
prosseguiram assim. Meu pai tinha um alcoolismo violento, muitas cenas tristes aconteceram na minha frente. Bofetadas, tentativas de suicídio (minha mãe várias vezes cortou os pulsos), casa quebrada. Uma vez, minha ãe estava apanhando tão violentamente do meu pai que ela, antes de desmaiar, gritou para mim corre meu filho, corre, pois ele me disse que vai atar você também! Aí eu saí correndo né ? Mas uma criança de 10 anos de dade, abrir a porta de casa e sair para a rua, correr para onde ?
O medo de meu pai que eu tivesse ido chamar a Polícia salvou minha vida e a e minha mãe. alcoolismo dele perdurou por muito anos, meu pai nem percebia os namorados de minha mãe e eu fingia, como sempre fingi, que não sabia dos
namoros de minha mãe. Em respeito à intimidade e privacidade dela e também porque, no fundo, sabia que ela era infeliz com um homem que não dava a mínima para ela. Ela não pedia a separação para que pudesse continuar o processo de minha educação, dormiam em quartos separados, como filho único, sou testemunha ocular e privilegiada: durante vinte anos, um não tocou no outro, mas ambos viviam seus relacionamentos paralelos. Meu pai saiu com mulheres de programa. Minha mãe viveu sua história de amor. Por isso, hoje em dia, se alguém me diz "meu filho não sabe, ou não desconfia" fica aqui com minhas reservas a respeito... Eu soube, por minhas tias e depois por minha mãe, que eu era para ser o irmão mais novo. Recém casada, ao saber que estava grávida e já verificando o erro de escolha, minha mãe abortou meu irmão mais velho. ontou a meu pai que tinha sido espontâneo, história nunca modificada. Mas não, havia sido provocado mesmo. Minha mãe queria o desquite, era o que havia naqueles idos de 1.950, meu pai não, ao invés disso pegou minha mãe, desta vez à força, e assim fui concebido... Também por causa disto, sou muito reservado e cauteloso com relações sexuais. Não tenho nenhum problema no campo sexual, tenho dois filhos, sou heterossexual, enfim um homem normal neste particular. Mas vendo o que se passou com minha mãe sempre tratei de ser muito respeitoso, de não ser atirado e de não priorizar este particular em minhas relações com o sexo oposto. Também, por cautela, há quatro anos, fiz vasectomia, que foi bem sucedida pois regularmente faço exames e o resultado é esterilidade.
Na minha gestação, minha mãe tentou, novamente o aborto, não sei o que deu errado mas ela foi parar no pronto socorro e o bebe foi salvo. Não quiseram aceitar a explicação de estupro praticado pelo próprio marido, naquela época a sociedade era muito machista e achava que o marido tinha todos os direitos de usar o corpo da esposa como melhor lhe aprouvesse. Algum tempo depois eu nasci, era 17 de outubro de 1958. O parto foi muito difícil, pois minha mãe havia comprometido seu útero com a tentativa de aborto. Durante o parto, ela teve morte clínica diagnosticada, sendo ressuscitada pelos médicos.
Minha infância foi vivida com certas dificuldades. Passei fome e vivi sozinho, sem nenhum irmão. Minha alternativa foram os estudos, minhas tias solteiras ( em número de três tias ) se sensibilizaram diante de minha situação e passaram a pagar meus estudos, comprar meu uniforme de escola e material escolar.
Na escola nunca dei problemas afinal não tinha irmãos, então meus livros eram meus brinquedos, meu passatempo. por isso, sempre fui o primeiro da classe. Até nos dias de hoje sou muito dedicado aos estudos. Minha vida, ninguém é totalmente mau, ou inteiramente bom. Meu pai teve seus erros, depois dum período de internação em clínica psiquiátrica, parou de beber e foi um bom pai para mim. Procurando se redimir de faltas
pretéritas sendo amigo e presente como um irmão mais velho. Já com minha mãe as coisas não correram assim. As faltas não foram esquecidas, tampouco perdoadas.
Meu pai recaiu em sua doença alcoólica e morreu numa briga de bar. Eu fiquei com o que se chama de "culpa do sobrevivente" achando que eu poderia ter feito alguma coisa por meu pai, ter sido mais amigo, ter aconselhado.
Trabalhei isto sendo voluntário em grupos de recuperação de drogados e alcoólatras ( narcóticos Anônimos e alcoólicos Anônimos) Freqüento reuniões na Avenida Paulista, no colégio São Luiz. Ajudo quem eu posso, e quem me pede, esclarecendo sobre este flagelo das drogas e do alcool, e não são poucos os que me pedem ajuda. Inclusive, tenho uma palestra marcada para fevereiro na minha Loja Maçônica esclarecendo os Irmãos e ajudando alguns pais aflitos com seus filhos.
Bom esta é parte de minha história, o e mail já está longo e não quero incomodá-la com relatos cansativos. Mais adiante, complemento estes assuntos com maiores detalhes. Eu adoro você, meu amor !

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